Tuesday, July 23, 2013

Um poema de Juan Ramón Jiménez que me remete para o Caima e para o Vale de Ossela...

...rio e vale de que Ferreira de Castro se despediu ainda criança, a caminho do Brasil; lembrança que o atormentava no cárcere amazónico; cimos da Felgueira e leito fluvial que desde menino lhe incutiram o apelo da errância, e a que o autor se refere -- se a memória não me falha -- no «Pórtico» de A Volta ao Mundo e na «Pequena História de "Emigrantes"».     
     O poema do grande Juan Ramón Jiménez pertence a Arias Tristes, e foi coligido e traduzido por José Bemto, publicada pela Relógio d'Água (Lisboa, 1992):

Rio de cristal, dormente
e encantado; doce vale,
doces margens de salgueiros
viçosos e brancos álamos.

-- Este vale possui um sonho
e um coração e sabe
dar com o seu sonho um som lânguido
de flautas e cantares --.

Rio encantado; as ramagens
dos salgueiros ensonados,
caídos sobre os remansos,
beijam os claros cristais.

E o céu é plácido e brando,
um céu flutuante e baixo;
com sua bruma de prata
afaga ondas e árvores.

-- O meu coração sonhou
com a ribeira e o vale,
e chegou até à margem
serena, para embarcar;
mas, ao passar no caminho,
chorou de amor, com um cantar
antigo, que ouviu cantando,
não sei quem, num outro vale --.

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