Showing posts with label Errico Malatesta. Show all posts
Showing posts with label Errico Malatesta. Show all posts

Sunday, April 15, 2012

Vítor Viçoso, A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (18)

Mário Dionísio, que tinha do neo-realismo uma visão muito precisa como expressão artística do materialismo histórico e dialéctico, é coerente quando inscreve Ferreira de Castro numa corrente de literatura social (p. 63), mas não-marxista, porque, de facto, Castro nunca foi marxista. O que ele era – e os seus livros aí estão para o comprovar –, era um comunista libertário, inspirado em autores tão importantes para o socialismo em sentido lato, e para a esquerda, como o foram Piotr Kropótkin e Errico Malatesta – fortes adversários do comunismo autoritário, estatista e centralizador – tal como o haviam sido Proudhon e Bakúnin, que defrontaram e entraram directamente em polémica com Marx. Os que extravasaram o ponto de Mário Dionísio filiando, por sectarismo e/ou ignorância, a obra castriana numa espécie de socialismo burguês (oh, insulto!) e utópico, esqueciam-se que não era menos utópico que o chamado socialismo científico que apontava para a instauração do céu na terra: extinção do estado e sociedade sem classes, e não sabiam, nem queriam saber, que nada havia de menos burguês que o anarco-sindicalismo português – de onde, aliás, emanou o próprio PCP.

(texto lido na apresentação do livro no Café Saudade, Sintra, em 21 de Outubro de 2011)

Saturday, January 23, 2010

Jaime Brasil, anarquista (2)

Sem nos determos na caracterização de nomes e menos ainda nos que, inicialmente anarquistas, acabaram por posicionar-se no campo ideológico oposto -- como Afonso Lopes Vieira ou Alfredo Pimenta -- ou partilharam certa comunhão de ideário socialista -- de Antero de Quental a António Sérgio --, vale dizer que a primeira metade do século XX deu a Portugal um conjunto de autores que se constituiu como uma plêiade intelectual notável. Doutrinadores como Neno Vasco, Campos Lima e Emílio Costa, romancistas como Assis Esperança e Ferreira de Castro, cientistas como Aurélio Quintanilha, publicistas de largo espectro como Julião Quintinha, Jaime Brasil e Roberto Nobre, entre muitos outros. Alguns destes autores estão em plena maturidade -- e outros haviam já começado a construir um nome literário -- ainda em vida de alguns dos mais importantes escritores libertários, como Piotr Kropótkin e Errico Malatesta, falecidos respectivamente em 1921 e 1935, e ambos, aliás, com uma profunda influência nos meios anarquistas portugueses. (3)

(3) Sobre o anarquismo ou libertarismo em Portugal, socorremo-nos, para este artigo, de Carlos da FONSECA, Para uma Análise do Movimento Libertário e da Sua História, tradução de Júlio Henriques, Lisboa, Antígona, 1988; e João FREIRE, Anarquistas e Operários -- Ideologia, Ofício e Práticas Sociais: o Anarquismo e o Operariado em Portugal, 1900-1940, Porto, Edições Afrontamento, 1992.

Afinidades, n.º 2-II Série, Porto, Casa-Museu Abel Salazar, Jul.-Dez. 2005, p. 13.