Showing posts with label 1940. Show all posts
Showing posts with label 1940. Show all posts

Tuesday, October 20, 2015

G de Guia de Portugal (para um Dicionário de Ferreira de Castro)


Obra criada e coordenada por Raul Proença e, após a sua morte, Sant'Ana Dionísio. Trata-se do mais monumental e brilhante esforço de compilação do património cultural e natural português, para usofruto dos cidadãos e consequente salvaguarda, nele colaborarando os nomes da cultura portuguesa do tempo. Ferreira de Castro, neste terceiro volume, sobre a Beira Litoral (1945), com «De Oliveira de Azeméis a Vale de Cambra», de boa utilidade os castrianos.
Ainda em vida de Proença, falecido em 1940, Castro, foi um dos fiadores literários da obra, com Afonso Lopes Vieira, Aquilino Ribeiro, Câmara Reys, Raul Lino, Reinaldo dos Santos, Samuel Maia e Sant'Ana Dionísio.

[ desenvolver]

Bib.: Ricardo António Alves, «Raul Proença, Ferreira de Castro e o Guia de Portugal», Castriana #2, Ossela, 2004.

Wednesday, July 01, 2015

D de «Diabo (O)» (para um Dicionário de Ferreira de Castro)

«Semanário de Crítica Literária e Artística», resultado da convergência entre anarquistas e republicanos, publicando-se entre 1934 e 1940, encerrado compulsivamente pelo regime do Estado Novo. Ferreira de Castro é um dos fundadores, colabora logo no 'número espécime' (ou n.º zero), e chega a dirigir o jornal por dois breves meses, em 1935, uma solução de recurso que assegurou a saída do hebdomadário. Descontente com o jornal, José Régio augurava, nas páginas da presença, uma melhoria com a direcção de Ferreira de Castro, que nele imprimiu nitidamente a sua marca, apesar do tempo curtíssimo como director. A seu convite, substitui-o na direcção o filólogo e professor Rodrigues Lapa, figura insigne da Oposição, com afinidades também à ideologia libertária. O jornal evoluiria para posições mais próximas do PCP, com a colaboração de jovens intelectuais comunistas, entre os quais Álvaro Cunhal. Castro e O Diabo mantiveram boas relações, tendo aquele concedido um extensa e importante entrevista, em 1940, estando à frente da publicação aquele que seria o último director, Manuel Campos Lima.

(a desenvolver)

bib: o meu artigo na Castriana #5, os livros de Clara Rocha, Daniel Pires e Luís Trindade.

Tuesday, March 31, 2015

Ferreira de Castro nos dicionários (2): Dicionário Universal de Literatura, de Henrique Perdigão

Dicionário Universal de Literatura
Dicionário Universal de Literatura, 2.ª edição, Porto, Edições Lopes da Silva, 1940. Obra notável, trabalho hercúleo de um único autor, Henrique Perdigão (1888-1944), também editor e livreiro (Livraria Latina). Como já referi, recorro a esta edição, uma vez que a primeira (1935) contemplava apenas autores já falecidos. Prefaciada por Bento Carqueja, está organizado cronologicamente, com indíces alfabético e remissivo, págs. 999-1038.

Ferreira de Castro ("Ferreira de Castro -- (José Maria) -- 1898").. Entrada rica de pormenores biográficos e informação bibliográfica (com pequenas falhas), socorrendo-se de referências de terceiros para a caracterização da obra (Humberto de Campos, Compton McKenzie, Fidelino de Figueiredo e articulistas não identificados da imprensa alemã e francesa). Publicado em fascículos, introduz uma adenda (p. 915) para mencionar a edição do último livro do autor, A Tempestade.

Ficha:
págs: 823-834; 915.
dimensões: 54,4 cm
palavras: --
caracteres: --
foto: sim.

Tuesday, October 01, 2013

"a escolha moral" de Antony Beevor, a propósito da nova edição de A MISSÃO



Quem leu A Missão sabe que o cerne da novela reside no dilema moral que se depara  ao frade Georges Mounier, membro de uma comunidade religiosa na França em trânsito germânico para a ocupação (1940). Um dilema que é uma questão ética colocada ao superior, e depois aos restantes membros, reunidos em capítulo: a utilização do símbolo crístico no telhado do edifício defenderá este dos bombardeamentos aéreos, por convenção internacional. A contrapartida, porém, é a de indicar uma outra antiga, mas semelhante, construção religiosa, na mesma localidade, que havia sido reconvertida em fábrica, e que contribuía para o esforço de guerra francês: não apenas a fábrica e os seus operários ficavam em risco com a identificação da missão, mas também as famílias alojadas no bairro proletário que circundava aquela. O instinto vital, um dos temas persistentes da obra castriana, entra em conflito com a dimensão ética.
Ocorreu-me a entrevista que Antony Beevor deu a Cristina Peres num dos últimos Expressos («Actual», 21.IX.2013). Beevor que, enquanto historiador, estudou profundamente este período, diz, a certo passo: "[...] apercebi-me de que o elemento fundamental do drama humano é a escolha moral."
A Missão (acompanhado de O Senhor dos Navegantes) regressa às livrarias, agora com a chancela da Cavalo de Ferro, após 32 anos do mais estúpido desleixo do seu anterior editor.

Friday, November 23, 2012

incidentais #10 - de como a propósito do pórtico de «A Tempestade» se fala em projectos adiados, numa bisavó, terminando com mais gravidade

(do «Pórtico» de A Tempestade, 1940)

* Já aqui se falou, e voltará a falar-se, da apresentação que Ferreira de Castro escreveu para abrir o seu romance malquisto. Essa má-vontade tem tanto de injusto para o livro, uma narrativa psicologista -- traço que esteve sempre presente na obra castriana, basta lembrar Eternidade --, como razão de ser. Só para recordar: O Intervalo, fragmento da projectada e nunca realizada «Biografia do Século XX» estava na gaveta, de onde saiu apenas em 1974, integrado precisamente n'Os Fragmentos; o seu desígnio como romancista chocava com o tempo que lhe era dado viver: Estado Novo, Guerra Civil de Espanha, II Guerra Mundial; para sobreviver, teve de dedicar-se à literatura de viagens; só no pós-guerra, com a abertura do regime, A Lã e a Neve pôde trazer à luz a arte do romance tal como ele a concebia. Para trás, este negregado A Tempestade, escrito com raiva [sic]. Adiante com as injustiças do criador para com a criação...


* Redigido sob a forma duma carta a um "amigo" médico que lhe servira de cicerone no Cairo (1935). Seguem-se, após referência à recém construída ponte de Kars-en-Nil , cinco parágrafos impressivos sobre o Egipto, território que já dera um capítulo a Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937): «Um vaporzito, com graciosidade de gaivota e calentura de forno, largou de ao pé da Kars-en-Nil, apitando aqui e ali, que o tráfego fluvial era grande em frente da cidade, começou a subir o rio sagrado.»

* As referências ao felá, recordaram-me esse mesmo capítulo dos Pequenos Mundos e de como já há décadas pensei em fazer a comparação com O Egipto de Eça de Queirós (em tempos propus-me realizar uma grande trabalho sobre este póstumo queirosiano; não passou de um estudo exíguo que prometia, e que acabei por não cumprir, generosamente publicado por Bernard Emery na sua Taíra).

*Essas referências de intenção social servem para lembrar o amigo --e também de justificação a si próprio e advertência mais ou menos velada ao leitor -- que fora prometido um livroque espelhasse os desígnios de emancipação humana que Castro adoptara para si como homem e escritor; e que uma conjuntura desfavorável impedia de concretizar (com efeito, O Intervalo será escrito em 1936, um ano depois dessa estada no país dos faraós). Promessa que não fora cumprida, interrompida pela viagem como forma de sustento e substituída (terminando com as palavras finalizadas em ida -- aliás, o nome duma bisavó brasileira que não conheci...) por ATempestade, para mágoa do autor, provavelmente comvencido de que o romance não estava à altura dos pergaminhos de quem escrevera Emigrantes, por exemplo: «Fico bastante pesaroso, creia, por saber que você, sempre tão atarefado, sempre à roda de gente que sofre, vai perder, por amizade para comigo, tempo a lê-lo-- tempo que poderia empregar melhor.» Desfecho que provocará o desagrado de Roberto Nobre, que, numa carta, lhe diz ter ele, Ferreira de Castro, inoculado o vírus da ideologia que perfilhou, e que nunca desaparecerá, mesmo que ele se decida a escrevr sobre os astros  celestes (ver Correspondência (1922-1969))

* Outro aspecto importante deste prólogo é o da concepção castriana do romance como documento de uma época, fonte para o futuro, crítico que era do género historiográfico então prevalecente, narrativa biográfica, política e institucional em que o povo (ontem, o terceiro estado) estava ausente. E com efeito, pesem as excepções, a história social só conheceria impulso decisivo após a afirmação da Escola dos Annales. Daí também um certo amor à filosofia e a ilusão (ou vontade dela) de que o conhecimento, de si, do outro, do Universo, pode modificar a essência do ser humano.

* Finalmente, alusão a um tema a que voltará dez anos mais tarde, em A Curva da Estrada: como à medida que vamos envelhecendo vamos também regredindo nas convicções: no romance, a questão política, o conservadorismo que a idade pode induzir; no pórtico de A Tempestade, o tema religioso, o escapismo do sobrenatural.

Tuesday, October 09, 2012

incidentais #6 -- fala-se em ética no seguimento duma visão duns quadris

* «Bagatelle» prepara-se para pintar a palavra MISSÃO, em letras bem grandes, visíveis do ar, no telhado do edifício religioso. Estamos em França, 1940, os alemães invadem e atacam. Um convénio entre a Santa Sé e a Alemanha nazi prevê a salvaguarda de igrejas e mosteiros. Mounier passa distraído por «Bagatelle», pensando nos quadris de mulher que vislumbrara havia pouco, antes de fugir ao «sorriso brando e húmido» em que quase se enleara. Num sobressalto, pára, recua e manda suspender o trabalho. Este é o incidente fulcral na trama da pequena jóia que é A Missão.

* Atendendo ao desenvolvimento da novela, às posições do padre Georges Mounier no concílio que se segue na comunidade, parece-me evidente que para Ferreira de Castro -- um ateu --, a ética só acidentalmente, e consoante cada indivíduo, poderá ser compreensível num além religioso; antes, é algo terreal e racional.

* o incipit:  «O edifício, velho e longo, muito longo e de um só piso, parecia querer mostrar que a sua missão, justamente por ser celeste, devia agarrar-se à terra, estender-se bem na terra, para extrair a alma dos homens que nela viviam.»

* mestria (quando Mounier pergunta ao pintor sobre quem lhe mandara fazer aquele trabalho): «O "Bagatelle" havia compreendido que aquela pergunta se alargava para fora da curiosidade corrente, pois alguma coisa a mais viera embrulhada com as palavras; e, pousando a lata sobre o telhado, aguardou, respeitoso.»

Thursday, June 14, 2012

Ferreira de Castro na "Cidade de Lilipute" (4)



Ferreira de Castro escreveu também livros de viagens, um dos quais -- A Volta ao Mundo (1940-1944) -- permanece como o mais significativo deste século num género com tradições centenárias na literatura portuguesa.

in Ferreira de Castro, Macau e a China, Taipa, Câmara Municipal das Ilhas, 1998.

Thursday, March 15, 2012

Vítor Viçoso, A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (16)

Para terminar as continuidades que vieram desembocar no Neo-Realismo, há que referir a constelação anarquista, tão importante como mal conhecida e pior estudada. Basta referir que a figura mais relevante dessa corrente ideológica na literatura portuguesa do século XX é Ferreira de Castro; e que O Diabo, um dos berços do neo-realismo teve na sua génese, em 1934, um grupo de escritores e jornalistas das áreas republicana e libertária. Ferreira de Castro, que foi um dos fundadores, escrevendo logo no número 0 (“espécime”), dirigiu o jornal por um breve período, acompanhando-o sempre. Uma das grandes entrevistas deste período do autor de Emigrantes é dada, em 1940, a [O Diabo de*] Manuel Campos Lima, o último director antes do seu encerramento compulsivo.

* em falta no texto original.                                         
(texto lido na apresentação do livro no Café Saudade, Sintra, em 21 de Outubro de 2011)

Tuesday, May 04, 2010

uma capa de Jorge Barradas

para Emigrantes, de Ferreira de Castro
Lisboa, Guimarães & C.ª Editores, 1940

Saturday, April 18, 2009

Preconceito e orgulho em A Tempestade de Ferreira de Castro (1)

Publicado em Nova Sintese, n.º 2/3, Vila Franca de Xira, Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo e Campo das Letras, 2007
Publicado em 1940, pela Guimarães & C.ª, A Tempestade foi desde logo encarado por Ferreira de Castro como um romance de recurso, tal como sucedeu com os livros de viagens, em face dos constrangimentos censórios de que o seu trabalho foi vítima na segunda metade da década de 1930.
(continua)

Sunday, March 29, 2009

de passagem - Jaime Brasil, DIDEROT E A SUA ÉPOCA (1940)

O amaneirado o precioso, o ridículo século XVIII, o século das perucas empoadas, das casacas de seda, das camisas de bofes, dos vestidos de anquinhas, dos sinais postiços no rosto -- foi um dos períodos mais fecundos da História. É que, àparte as suas frívolas exterioridades, foi o século dos filósofos, dos realizadores da maior Revolução de que há memória, não já na ordem política -- a coisa mais desordenada e transitória que imaginar se pode -- mas no domínio das ideias e do pensamento criador.
Jaime Brasil, Diderot e a Sua Época, Lisboa, Editorial Inquérito, 1940, p. 7.

Saturday, March 07, 2009

de passagem VICTOR HUGO, de Jaime Brasil (1940)

O século XIX, que nasceu ao fragor das batalhas e sobre ruínas fumegantes, não foi nem belicoso nem destruidor. Pode considerar-se mesmo o mais sereno e construtivo período da história moderna. E que nele, mais do que em qualquer outro, se afirmou o triunfo pleno da inteligência criadora. Em nenhum mais encontramos tantas invenções e descobertas, no domínio das ciências e das artes. Dir-se-ia ter atingido, então, o génio humano o ponto culminante da sua curva.
Jaime Brasil,Victor Hugo, Lisboa, Editorial Inquérito, 1940, p. 7.

Saturday, February 07, 2009

clássicos da bibliografia castriana - Alexandre Cabral

O génio, bizarra personalidade, melhor, individualidade, criador do mundo dinâmico, vertiginoso, febril, que sintetiza em si a essência divina do Homem, floresce quase sempre, por triste ironia, nos pântanos da miséria. Aí se caldeia, aí se refina a sensibilidade do futuro eleito. A miséria, a fome, o infortúnio alarga-lhe as perspectivas, desenvolve-lhe ao mais elevado grau o sentimento fraterno de solidariedade humana elevando-o acima dos outros homens. Foram eles, os eleitos, que primeiro discerniram, lá longe, embora, as possibilidades de uma modificação total da sociedade humana. Com a própria dor e sobre ela, arquitectaram e arquitectam as paredes do futuro edifício social. De tal modo a fome e a miséria têm influência no espírito do eleito que o indivíduo vulgar não pode traduzir em ritmos de beleza, em traços vigorosos, dramáticos e chocantes, os dramas da vida: esses múltiplos episódios que constituem o grande, o inconcebível drama humanao. Não pode. E não pode porque jamais a sua sensibilidade se purificou no fogo lento do sofrimento.
Alexandre Cabral, Ferreira de castro -- o Seu Drama e a Sua Obra, Lisboa, Portugália Editora, 1940, p. 9.

Monday, October 30, 2006

Uma capa de Jorge Barradas

A Tempestade
Lisboa, Guimarães & C.ª, 1940