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Friday, September 14, 2012

Jorge Amado e o episódio do Aeroporto de Lisboa referidos no Brasil

aqui

fonte: Álvaro Salema, Jorge Amado -- O Homem e a Obra -- Presença em Portugal,
Mem Martins, Publicações Europa-América, 1982

da esquerda para a direita: o editor Francisco Lyon de Castro, Mário Dionísio*, Alves Redol, Maria Lamas, Jorge Amado, Ferreira de Castro, Carlos de Oliveira, João José Cochofel, Fernando Piteira Santos* e Roberto Nobre.
Sentados em volta, agentes da PIDE, com o inspector Rosa Casaco em fundo.  
Lisboa, Janeiro de 1953

* disse-me António Mota Redol que a identificação de Mário Dionísio e Fernando Piteira Santos estará trocada

Friday, September 07, 2012

A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO, de Vítor Viçoso (24)


Quero com isto significar que a adesão ao ideário marxista enquadrado pelo Partido Comunista, triunfantes à esquerda nos anos da guerra, era natural e quase inevitável. A historiografia não se compadece com anacronismos. Se hoje é simples dizer que houve uma espécie de pecado original no neo-realismo, que foi o de ter servido ou apoiado um sistema político trágico pelo logro que representou, e incompatível com aquilo que Ferreira de Castro designava nos anos quarenta como «a mais nobre aspiração humana» — a liberdade –, é desonesto ou incompetente obliterar a conjuntura em que todos aqueles autores iniciaram o seu percurso literário e artístico. E não ficará mal dizer – embora irrelevante para o que nos traz aqui hoje, porque se trata do desenvolvimento de percursos individuais – que, se alguns andaram perto – talvez Vergílio Ferreira e Fernando Namora –, cedo se afastaram; sem esquecer os que se desvincularam do PCP quando tiveram conhecimento da verdadeira natureza do estalinismo após a publicação do Relatório Secreto do XX Congresso do PCUS, apresentado pelo secretário-geral Nikita Khruschev, em 1956. Tal foi o caso de Mário Dionísio, por si relatado na Autobiografia.

(texto lido na apresentação do livro no Café Saudade, Sintra, em 21 de Outubro de 2011)

Sunday, April 15, 2012

Vítor Viçoso, A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (18)

Mário Dionísio, que tinha do neo-realismo uma visão muito precisa como expressão artística do materialismo histórico e dialéctico, é coerente quando inscreve Ferreira de Castro numa corrente de literatura social (p. 63), mas não-marxista, porque, de facto, Castro nunca foi marxista. O que ele era – e os seus livros aí estão para o comprovar –, era um comunista libertário, inspirado em autores tão importantes para o socialismo em sentido lato, e para a esquerda, como o foram Piotr Kropótkin e Errico Malatesta – fortes adversários do comunismo autoritário, estatista e centralizador – tal como o haviam sido Proudhon e Bakúnin, que defrontaram e entraram directamente em polémica com Marx. Os que extravasaram o ponto de Mário Dionísio filiando, por sectarismo e/ou ignorância, a obra castriana numa espécie de socialismo burguês (oh, insulto!) e utópico, esqueciam-se que não era menos utópico que o chamado socialismo científico que apontava para a instauração do céu na terra: extinção do estado e sociedade sem classes, e não sabiam, nem queriam saber, que nada havia de menos burguês que o anarco-sindicalismo português – de onde, aliás, emanou o próprio PCP.

(texto lido na apresentação do livro no Café Saudade, Sintra, em 21 de Outubro de 2011)

Tuesday, January 17, 2012

A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (9)

É interessante vermos que ambas as posições, bukharinista e jdanovista, parecem ter a sua tradução nacional: Mário Dionísio caracterizando o Neo-Realismo como uma «síntese do Romantismo e do Realismo no quadro de uma apropriação e superação da nossa tradição literária.» […] isto é: «Descrever o real e contaminá-lo com o sonho […]» (p. 30), parece-me estar mais próximo de Bukhárine, enquanto que Álvaro Cunhal – no confronto com José Régio, nas páginas da Seara Nova, em 1936, ou na polémica interna do Neo-Realismo esgrimida nas páginas da Vértice, coadjuvando, a partir da prisão, pelo brilhante e ultra-ortodoxo António José Saraiva, contra João José Cochofel, Fernando Lopes-Graça e outros –, é claramente a personificação da rigidez doutrinária.

Friday, December 18, 2009

castrianas #25 - Mário Dionísio

Do que Ferreira de Castro dá provas com a publicação de A Curva da Estrada não é apenas da sua possibilidade de escrever um grande romance ou da sua fidelidade aos assuntos que profundamente interessam o destino do homem dos nossos dias, mas de uma capacidade de renovação que é, em grande parte, a condição própria do escritor. Pode-se dizer que um escritor começa a sua obra quando encontra um estilo próprio de revelar a sua visão do mundo. Mas, na verdade, ele só consegue a realização completa quando chega a saber desdobrar esse estilo próprio nos mil aspectos que a concretização de tal visão implica. Há talvez um equívoco irremediável naqueles que encontraram um dia um modo determinado, e logo cristalizado, de planear o romance, de dividi-lo em capítulos, de abri-lo, de desenvolvê-lo, de fechá-lo, e passam o resto dos seus dias a remoê-lo partindo de assuntos diferentes -- de pretextos diferentes. A admiração por um escritor, o entusiasmo por um escritor, e, portanto, a vida e a existência de um escritor, provêm em grande parte desse íntimo movimento de surpresa que ele sabe despertar no público e que não é mais no fundo, que a novidade que cada seu novo assunto exige.

Mário Dionísio, «A CURVA DA ESTRADA -- Romance por Ferreira de Castro. Edição de Guimarães & C.ª, Lisboa, 1950», Vértice, n.º 89, Coimbra, Janeiro de 1951, pp. 454-457.

Sunday, March 08, 2009

Nova edição de JUBIABÁ, de Jorge Amado

A Companhia das Letras, que está a editar a obra de Jorge Amado, sob direcção de Alberto da Costa e Silva e Lilia Moritz Schwarcz, publicou, no final do ano passado uma nova edição de Jubiabá (1935), o primeiro dos grandes romances do escritor baiano, que foi dedicado,entre outros a Ferreira de Castro. E, com efeito, Castro lá aprece referido, não apenas na dedicatória, na companhia de Graciliano Ramos e Oswald de Andrade, entre outros, mas também as referências do autor do posfácio, Antônio Dimas, e no apêndice documental, com uma formidável e histórica fotografia de 1953, da recepção que o nosso autor organizou a Amado no restaurante internacional da Portela, pois Amado estava proibido de entrar em Portugal. A essa foto voltarei. Basta dizer que com Amado e Castro estavam Maria Lamas, Alves Redol, Mário Dionísio, João José Cochofel, Roberto Nobre, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Fernando Piteira Santos e Francisco Lyon de Castro, cercados por pides, entre os quais Rosa Casaco, um dos assassinos de Humberto Delgado. Amado muitas vezes se referiu a este gesto de Ferreira de Castro. A esta foto voltarei.

Monday, April 23, 2007

«Bibliofilia e livros russos»: a propósito de «A Lã e a Neve»

Gostaria de fazer um link directo para o post de José Pacheco Pereira do dia 14 no Abrupto
mas a minha azelhice não o permite. Nele surgem alguns livros que a família de Francisco Ferreira -- o Chico da CUF, autor do crítico 26 Anos na União Soviética --, antigo operário e dissidente do PCP lhe ofereceu, entre os quais a tradução russa de A Lã e a Neve, por A. Torres e A. Ferreira, editada em Moscovo, em 1959.
A Lã e a Neve é, depois de A Selva, o mais traduzido romance do autor. Esta vem na sequência de outras publicadas também no Bloco de Leste, como as duas nas línguas da Checoslováquia e na Hungria, aqui com vária edições. Mas surge também após a edição no Brasil, na Editorial Vitória, editora do PCB, na colecção «Romances do Povo», dirigida por Jorge Amado.
Amigos muito chegados desde a primeira metade da década de 30, cuja amizade assistiu a curiosos episódios durante o Estado Novo, estando o autor de Jubiabá proibido de entrar em Portugal durante longos anos, não importou muito ao brasileiro que A Lã e a Neve pouco tivesse que ver com os cânones do realismo socialista -- ou neo realismo, entre nós --, dado o posicionamento anarquista que sempre foi o do escritor português. Este era o romance de Ferreira de Castro preferido por Jorge Amado (1) e o seu objectivo, conforme contou na longa entrevista a Alice Raillard, era o de «dar uma visão da literatura dos países socialistas, da literatura progressista, mas não obrigatoriamente a do Partido.» (2)


A Lã e a Neve, ao relatar a proletarização nas fábricas têxteis da Covilhã de Horácio, um pastor da serra da Estrela que pretendeu melhorar a vida, após ter tomado contacto com outras realidades durante o serviço militar, entusiasmou muitos dos neo-realistas. Era aliás citado por Álvaro Cunhal, no célebre artigo «Cinco notas sobre forma e conteúdo» (1955), dando-o como exemplo literário de «arte ascendente», ao lado de Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes e de Fanga, de Alves Redol. (3) Exemplo, aliás, repetido no seu ultimo ensaio, A Arte, o Artista e a Sociedade (4).

Apenas, que eu saiba, Mário Dionísio viu, logo em 1947, numa extensa recensão na Vértice, que nem Castro nem A Lã e a Neve em particular podiam ser considerados «neo-realistas», pelo menos de um ponto de vista ortodoxo. Isto é, se a superação da realidade existente fosse advogada de outro modo que não o da luta organizada do proletariado enquadrada no Partido que se reivindicava como sendo o seu, não podia uma obra, de acordo com o futuro poeta de Terceira Idade, ser qualificada como tal. (5)
Esta questão, sobre se ao neo-realismo subjaz uma linha "oficial" e uma dogmática, não era consensual, e ainda hoje o não é. Há quem considere, como Urbano Tavares Rodrigues, que outras visões de transformação do real e da luta de classes podem coexistir dentro do que se convencionou designar por «neo-realismo». (6)
Ferreira de Castro sempre fora um público e notório autor libertário, um comunista libertário de inspiração kroptkiniana. A Lã e a Neve, que tem como grande figura moral a personagem central do velho anarquista Marreta, esperantista e vegetariano, que apresenta o patrão, contra quem os operários fazem greve, como uma figura inevitavelmente revestida de humanidade e não como um simples arquétipo negativo e que finalmente aponta a concretização de uma sociedade nova para uma etapa posterior da vida colectiva, pouco definida, mas conquistada não só pela luta de classes -- que sempre esteve presente nos romances de Castro --, como pela alteração das mentalidades e da própria ontologia do ser humano, eram naturalmente ideias passíveis de conflituar com as que defendiam a conquista do poder pela vanguarda da classe operária organizada em partido.

Nada enfim que levantasse obstáculos ao seu velho amigo Amado, para quem, no fim da década, Castro faria o prefácio da primeira edição portuguesa de Gabriela, Cravo e Canela...

(1) In Quirino TEIXEIRA, Na Bahia com Jorge Amado, Lisboa, Centro Nacional de Estudos e Planeamento, 1985, p. 59.

(2) Jorge AMADO, Conversas com Alice Raillard, tradução de annie Dymetmann, Porto, Edições Asa, 1992, p. 200.

(3) António VALE [pseudónimo de Álavaro Cunhal], «Cinco notas sobre forma e conteúdo», Vértice, vol. XIV, n.º 131-132, Coimbra, Ag.-Set. de 1954, p. 481.

(4) Álvaro CUNHAL, A Arte, o Artista e a Sociedade, Lisboa, Editorial Caminho, 1999, p. 99.

(5) Mário DIONÍSIO, «A Lã e a Neve por Ferreira de Castro», Vértice, vol. IV, n.º 49, Coimbra, Agosto de 1947, pp. 302-307.

(6) Urbano Tavares RODRIGUES, Um Novo Olhar sobre o Neo-Realismo, Lisboa, Moraes Editores, 1981, pp. 14-15.