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Friday, September 11, 2015

Mário Cláudio: memória de Ferreira de Castro

Uma crónica  no Diário de Notícias.



 Uma breve observação: a referência ao suicídio e ao internamento no Hospital da CUF. Castro esteve internado, com uma grave crise hepática, sujeitando-se a três intervenções por uma equipa coordenada por Pulido Valente, em 1953. Se o escritor pensou nessa encarou a possibiliodade de suicidar-se, é até hoje um facto desconhecido. Uma vez que já passaram mais de quarenta anos sobre estas recordações de Mário Cláudio, talvez haja alguma confusão, uma vez que quando o autor de A Selva padeceu duma grave septicemia, em 1931, aí sim, está documentada uma pulsão suicidária (estamos poucos meses depois da morta da companheira, Diana de Lis, perda que sempre o atormentou), numa nota de suicídio que pude revelar em apêndice à correspondência com Roberto Nobre, publicada em 1994.

Wednesday, December 17, 2014

castrianas - Joaquim Manso

Joaquim Manso
retratado por Guilherme Filipe
Museu J. Manso, Nazaré
«Pintura sóbria, verdadeira...» titula um magnífico texto de Joaquim Manso sobre A Selva, recolhido por Jaime Brasil, em 1931, e previamente publicado no mítico e inultrapassado Diário de Lisboa, jornal que fundou e dirigiu durante décadas.
Manso começa por estabelecer um fio condutor a partir do romance anterior, Emigrantes, relevando «a mesma esteira de atribuir voz e eloquência às coisas mudas, sujeitas a cadeias milenares». Segue-se a exposição dos dois eixos sobre que assenta a narrativa: o aspecto social dos seringueiros, desterrados e explorados na extracção do látex na brenha amazónica, e a massa vegetal onde ela decorre, matéria-prima que lhe subjaz do princípio ao fim.
E, finalmente, expõe o estilo e a capacidade descritiva do autor («soube conciliar o inconciliável»), pela forma como arrostou com as dificuldades literárias e estéticas que o assunto implicava:
«Não há aspecto, ruído, palpitação, cambiante, grito ou rugido, labareda ou incêndio, fragor ou deslizar de sombras que ele não haja surpreendido, na sua ardorosa gestação ou revelação.»

Joaquim Manso, «Pintura sóbria, verdadeirta...», Ferreira de Castro e a Sua Obra, edição de Jaime Brasil, Porto, Livraria Civilização, 1931.

Friday, December 20, 2013

ETERNIDADE de Ferreira de Castro: canto de morte e de amor. (1)

Eternidade, romance de Ferreira de Castro, publicado em 1933 pela Guimarães -- o primeiro na que seria a sua editora de referência --, tem um lugar particular na tábua bibliográfica do escritor. Situado entre A Selva (1930) e Terra Fria (1934), Eternidade pode(ria) desiludir em leitura inicial, efectuada por esta ordem cronológica, como sucedeu ao autor destas linhas, há vinte anos. Duas décadas de experiência de vida a menos, e um vício de leitura que habitualmente procurava nos livros algo que não teria de lá estar (no caso, a Revolução da Madeira, de 1931), fez com que, temerariamente -- ressalvando o célebre «Pórtico» e a intenção subjacente -- o qualificasse como «um romance falhado» (1). À primeira releitura, anos mais tarde, aprcebeu-se da falha de avaliação; nova leitura tornou-lhe evidente que teria de reparar um erro clamoroso. É o que se vai tentar.

(1) Ricardo António Alves, Anarquismo e Neo-Realismo -- Ferreira de Castro nas Encruzilhadas do Século, Lisboa, Âncora Editora, 2002, p. 51.

Islenha #48, Funchal, Janeiro-Junho 2011.

Monday, September 02, 2013

médicos de Ferreira de Castro

Neste post encontro, duma penada, referência a, pelos menos, quatro médicos que Ferreira de Castro consultou, dois dos quais decisivos, em 1931 (Reinaldo dos Santos) e 1953 (Pulido Valente). Os outros são Celestino da Costa e Fernando da Fonseca.

Saturday, March 23, 2013

Da correspondência com Ferreira de Castro (3)

     No caso particular deste epistolário, reflectem-se as grandes tensões vividas no período por ele abrangido. A II Guerra Mundial e a ocupação de Paris, onde se encontrava Jaime Brasil; a Guerra Fria; o prenúncio do fim do Império. Em Portugal, o Estado Novo, as prisões e a censura; as dissensões do(s) anarquista(s) com os comunistas, por um lado e os republicanos, por outro, também as vemos aqui espelhadas; e na disputa cultural, a questão do neo-realismo surge igualmente de forma clara. Do ponto de vista literário, é deveras substancial a quantidade de informações que as cartas nos trazem; o mesmo se passando com a personalidade deste autor que se distinguiu como biógrafo do seu interlocutor, logo em 1931 -- polemista, jornalista e libertário, aspectos que referimos com um pouco mais de pormenor no estudo que posfacia esta edição.

Jaime Brasil, Cartas a Ferreira de Castro, apresentação, transcrição notas e posfácio de Ricardo António Alves, Sintra, Câmara municipal / Museu Ferreira de Castro e Instituto Português de Museus, 2006.

Thursday, December 13, 2012

incidentais #12 - da política, da responsabilidade pessoal e do envelhecimento, passando por Quevedo e Calvino

do cap. I

* Protagonista: um velho advogado e dirigente socialista, don Alvaro Soriano, um dos herdeiros políticos do histórico Pablo Iglesias, da fundadação do PSOE. A acção decorre em Madrid, ao tempo da II República Espanhola (1931-1939)

*Incipit: «Encontravam-se os três à mesa de jantar e o velho relógio de pêndulo marcava onze horas menos um quarto.»

*O jantar tardio dos espanhóis, cena familiar confinada a Soriano, viúvo, à irmã, Mercedes, ao filho mais novo, Paco, com aparição de Ramona, a criada.

* Percebe-se o carácter tranquilo da personagem principal no meio de uma tempestade política pessoal, a ruptura com a nova geração de dirigentes do partido, formal e iminente; o interesse no seu concurso por parte do Partido Nacional, principal opositor dos socialistas, à direita.

*Mercedes, personagem autoritária, conservadora, católica, com quem o irmão acolhe com bonomia.

* A leitura dos jornais da tarde, após o jantar, acompanhado de um charuto, mostra alguém que desacelerou a actividade política, voluntária ou involuntariamente. Um deles traz um eco acerca do seu provável abandono do partido e especula sobre uma eventual adesão às hostes do partido da direita.

* Entremeia-se, sem concentração em face da notícia, a leitura de La Vida del Buscón, de Francisco de Quevedo, acompanhada de reflexão acerca dos clássicos que, fruto das obrigações académicas que os impunham, deles se afastara, tomando-os por literatura morta, para voltar ao seu convívio na idade madura:

«O que, outrora, lhe parecia enfadonha velhice na arte de dizer, ingenuidade na maneira de transmitir raciocínios e observações, surgia-lhe, agora, com um sabor novo, com a frescura de uma hora matinal, a luz de uma aurora precursora. Era toda uma experiência humana que falava, com prodfunda sagacidade, de dentro de remotos túmulos

-- perguntando-se se este apego ao antigo seria mérito perene das obras canónicas ou se evidenciaria sinal de senectude. Calvino, d'além túmulo, em livro póstumo, ensaiaria resposta.

* A notícia sensacional duma provável atitude vira-casacas avançada pelo diário, origina a indignação do próprio, alvo de manobrismo, da intriga política em conluio com o jornal, originando reacções expectáveis: telefonemas, de congratulação pela notícia ou incredulidade nela, consoante o espectro político de quem liga; telegrama com insultos.

* Algum espaço é dado a um antigo militante, seu correligionário e seguidor, indignado com a calúnia, que servirá para lançar o leitor no problema que o romance põe, que será qualquer coisa como: «o que nós nos somos é indissociável do que somos para os outros?». Isto é: qual a responsabilidade de alguém -- neste caso um dirigente político com pergaminhos na contenda política -- que devém uma espécie de símbolo, uma bandeira de luta, pela posições assumidas ao longo dos anos, para aqueles que aderiram aos seus ideais, proclamados nas tribunas e na imprensa?

* Escrito por volta dos cinquenta anos, A Curva da Estrada é, entre outras coisas, um romance sobre o envelhecimento.

*Publicado em 1950, 26 anos depois de abolido o multipartidarismo, creio que terá sido algo insólito no tempo político portugês de então.

Tuesday, October 23, 2012

castrianas - Alberto Viviani

Alberto Viviani (1894-1970), amigo e confrade de Marinetti, colaborador da Civilização de Ferreira de Castro, destaca no Il Popolo Toscano a magnitude de A Selva (que viria a conhecer tradução italiana em 1934): 
«Ciò che v'è di nuovo, di formidabile e di originale nel romanzo di Ferreira de Castro [...] è l'ambiente. La descrizione dell'Amazonia, slabordisce e meraviglia. L'evocazione della selva verde nera con il suo oscuro sortilegio, il suoi terrori extra umani, con la sua esuberanza di vita che determina il «delirio de la Natura, schiaccia ed annulla la natura umana.»
E o estilo seguro aliado à riqueza lexical e o conhecimento de dentro que servem o romance: 
«Il poema della floresta amazonica è tracciato da questo giovanni scrittore con mano veramente maestra: sicurezza nella vizione interiore, certezza nella vivisezione. [...] // Ferreira de Castro è ormai padronne duma orchestrazione verbale ricca di accordi nuovi, illuminata di strani ritmi da poter ricostruire per noi profani il linguaggio della foresta.»

Recolhido por Jaime Brasil em Ferreira de Castro e a Sua Obra, Porto, Livraria Civilização, 1931.
caricatura: Umberto Onorato

Thursday, March 22, 2012

As "Notas Biográfica e Bibliográficas" de Jaime Brasil (1931) (3)

O texto é curto, pouco mais de dez páginas, e muito bem escrito, como era apanágio de Jaime Brasil, um estilista limpo e assertivo. A abrir, situa Castro como «o mais representativo dos romancistas da nova geração em Portugal» (p. 7), o que não suscita contestação, uma vez que os grandes ficcionistas de idade aproximada – José Régio, José Rodrigues Miguéis ou Vitorino Nemésio – não haviam ainda publicado as suas narrativas de maior significado.

Monday, March 12, 2012

As "Notas Biográficas e Bibliográficas" de Jaime Brasil (1931) (2)

Terminadas em Outubro de 1930, meses após a morte de Diana de Lis e durante o internamento de Ferreira de Castro, acometido de septicemia, tenho para mim (e já o escrevi) que estas notas de Jaime Brasil sobre a vida do autor do recém-publicado A Selva – abertura do volume colectivo Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931) – se destinaram a um in memoriam, que, felizmente para o jovem escritor e para o romance português, não veio a concretizar-se sob esse pretexto, e a ter razão de ser senão quarenta e três anos mais tarde. Como se sabe, Castro esteve às portas da morte e chegou a ser redigido o necrológio para os jornais -- não falando da tentativa de suicídio que, só em 1994, eu teria ocasião de revelar, em apêndice à sua correspondência com Roberto Nobre – embora o tópico suicidário houvesse sido aflorado pelo próprio, precisamente nas «memórias» de infância que Ferreira de Castro e a Sua Obra encerra.

Thursday, December 01, 2011

Ferreira de Castro e os seus médicos

Castro, após a sua permanência na Amazónia, teve sempre uma saúde instável. No Bernardino Machado, excelente blogue alimentado pelo seu neto, Manuel, leio sobre a justa homenagem aos docentes de Coimbra afastados das suas cátedras pelo Estado Novo. Nela figuram três dos médicos do escritor: Celestino da Costa, Fernando da Fonseca e Pulido Valente. Este, em 1953, teve uma intevenção decisiva numa grave crise que implicou três intervenções cirúrgicas. Tal como Reinaldo dos Santos, em 1931, que debelou uma septicemia -- e Rufino Ribeiro, um oftalmologista do Norte (creio que do Porto)

Monday, March 15, 2010

Preconceito e orgulho em A Tempestade, de Ferreira de Castro (2)

O escritor tinha na gaveta uma obra ficcional cujo cenário era a grande insurreição anarco-sindicalista nos campos da Andaluzia e na cidade de Sevilha, em 1931, cujo surto inicial ele testemunhara como enviado especial de O Século. Trata-se de O Intervalo, escrito em 1936, e editado somente em 1974, inserido em Os Fragmentos. Também uma peça de sua autoria, redigida a pedido de Robles Monteiro para o Teatro Nacional, e que abordava o tema da pena de morte, a propósito da recente condenação do alegado raptor e assassino do filho do piloto-aviador Charles Lindbergh, fora igualmente censurada por despacho governamental. Seria publicada cerca de sessenta anos depois, em 1994. Foi por esta razão que Castro se dedicou, «com um desalento imenso»(1) à literatura de viagens.
Ferreira de Castro, Os Fragmentos, 2.ª edição, Lisboa [1974], p. 78.

Nova Síntese, n.º 2-3, Porto, Campo das Letras, 2007/8, p. 49.

Wednesday, December 30, 2009

Uma dedicatória de Ferreira de Castro num exemplar de Emigrantes, em 1931, no blogue Caligrafias.

Sunday, July 26, 2009

Outras palavras - A DIANA DE LIZ (1932)

Está aqui, amor, a tua novela. Durante quase dois anos fugi, covarde, perante uma dor maior, de seleccionar os teus papéis, os papéis que as tuas mãos e os teus olhos acariciaram e que foram do muito pouco que pedi para se salvar do naufrágio da nossa vida. Mas, há meses, numa lívida antemanhã de hospital, arrependi-me de não ter enfrentado a nova dor, lacerando mais uma vez o pobre coração. A morte, que, desde há dias, estava estendida ao meu lado, parecia-me, finalmente, resolvida a levar-me também. Eu, de certa maneira, não a temia; desde que ela te arrebatou ao meu carinho, que importava que me cerrasse também a mim, e para sempre, os olhos?
In Diana de Liz, Memórias duma Mulher da Época, Lisboa, Guimarães & C.ª - Editores [1932], p. 5.

Thursday, June 25, 2009

memória - PREFÁCIO a «Pedras Falsas», de Diana de Liz (1931)

Devo, talvez, a este livro o estar ainda vivo. Se não fora o desejo de o publicar, eu teria seguido, possivelmente, a sua autora, quando a morte ma roubou. Era bem frágil a razão para o meu desespero, para a minha dor de viver, mas eu não tinha outra. Um livro é uma obra humana e tudo quanto era humano me parecia, nesses dias de inenarrável angústia, totalmente inútil para os problemas que me torturaram e digno apenas de fraternal piedade. Parecia-me e -- pobre de mim! -- continua a parecer, muitas vezes ainda. Ela própria me demonstrou, já à beirinha da morte, quanto são frágeis, perante o Enigma, as nossas humanas coisas. Disse-lhe eu que os seus livros, quaisquer que fossem os esforços a fazer, seriam publicados e as minhas palavras não constituíram para Ela consolo algum. Preocupava-a apenas o meu destino, que Ela adivinhava que iria ser, para sempre, de sofrimento, e a referência que eu fizera à sua obra pareceu-lhe até -- li-o nos seus olhos, vi-o na expressão do seu rosto -- motivo pueril para as horas trágicas que se iam esvaindo. Ela fora sempre assim.

Wednesday, January 16, 2008

uma capa de Stuart

Emigrantes, 3.ª edição
Livraria Editora Guimarães, Lisboa [1932]
(1.ª edição na Guimarães Editores)
Rectificado em 21/I/2008