Monday, September 12, 2016

Sintra cultural, nas palavras de Vítor Serrão

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A história de Sintra confunde-se com a História da Arte em Portugal e dela constitui um capítulo brilhante. Impossível responder de modo rápido a esta questão, mas é certo que há nomes que não se podem deixar de referir nesse balanço de síntese, como sejam o escultor renascentista Nicolau Chanterene, ou o arquitecto Francisco de Holanda, ou o pintor quinhentista Diogo de Contreiras, ou o azulejista Oliveira Bernardes, ou o Barão de Eschewege, arquitecto do Palácio da Pena, senão o rei-artista D. Fernando II, o príncipe por excelência do Romantismo sintrense – e tantos, tantos outros, ao longo dos séculos, sem esquecer os escritores, de Camões a Ferreira de Castro…


Wednesday, September 07, 2016

FERREIRA DE CASTRO E A SUA OBRA LITERÁRIA (Nogueira de Brito)

por Baltazar
«Ferreira de Castro, a quem acaba de ser prestada homenagem de admiração pelo seu talento* é, na moderna geração literária, um dos valores mais curiosos pela orientação mental que tem inspirado à sua obra de reconstrução moral e psíquica. O escritor que deu ultimamente às letras portuguesas um formoso livro, «Emigrantes», é, antes de tudo, um emotivo severo, pautado, sem arremedos de sentimentalismos pueris, nem devaneios lânguidos de compreensão de sentimento ou de ternura. O que caracteriza a literatura de Ferreira de Castro é a incidência do bom gosto estético na observação filosófica dos factos e dos índivíduos, levada a um grau de conclusão e apuro exactos, que faltam à maioria dos escritores que trilharam o caminho por onde ele segue, sem um desvio, sem uma tergiversação, sem uma «falha».
Os tipos, que a sua obra incarna, são exemplos da vida, e não há um gesto, um vinco de fisionismo que não atinjam uma verdade irrefutável, um sentido de exactidão a que não está acondicionado o género novela, tão escassamente conseguido. Carácter e individualidade, moral e temperamento, tendências e atavismos, andam na obra de Ferreira de Castro como coisa existente, a valer, sem deformação, sem tintas esmorecidas, antes com um vinco de beleza moral e uma característica de perfeição honrosa que impressionam. Em Ferreira de Castro não há elevação "estudada" do sentir afeiçoado à exigência da efabulação, a rebuscada irradiação de emotismo coado pela oportunidade mais ou menos feliz; há, sim, a espontaneidade que nasce da cena real da existência, sem qualquer assomo de artifício, sem clangores de retumbâncias festivas, nem estilizações frívolas de colorismos doentios e insinceros. É uma obra feita de justeza, de equilíbrio, de calma e objectivação e dela fica a semente a lançar à terra em futuras colheitas de análise sentimental, em próximas depurações de psiquismos e de vibracionismo íntimo.
Prestar, pois, homenagem a Ferreira de Castro, é encarecer, alentar uma corrente literária que, estando dentro dos moldes contemporâneos, como estética e realização espiritual, prepara um ambiente moral de que irão aproveitando os que lêem a sua interessante produção.»

* Este banquete de homenagem, realizado em Janeiro de 1929, de que há registo fotográfico, foi uma manifestação de desagravo pela campanha dos sectores nativistas brasileiros contra Emigrantes,  romance pretensamente 'anti-brasileiro' na visão estreita daqueles.

Ferreira de Castro e a Sua Obra, edição de Jaime Brasil, Porto, Livraria Civilização, 1931.

Nota - Francisco Nogueira de Brito (Lisboa, 1883-1946). Crítico, historiador de arte e olisipógrafo, musicólogo, é um dos intelectuais libertários que assegura colaboração de grande qualidade no Suplemento de A Batalha e no início d'O Diabo.