Showing posts with label José Régio. Show all posts
Showing posts with label José Régio. Show all posts

Thursday, April 28, 2016

admirar & amar

Escreve Eugénio Lisboa, no último JL («Sá-Carneiro visto por Régio -- O oiro e a neve») que os grandes escritores, relativamente aos colegas que os precederam, amam uns e admiram outros:
«Pessoa admirava Milton e amava Dickens. Flaubert admirava Zola, mas amava Hugo. Régio admirava Eça e Pessoa, mas amava Camilo e Sá-Carneiro. Há aqueles com quem sentimos afinidades e aqueles em quem admiramos qualidades que não temos nem nos interessa particularmente ter.»
Fiquei a pensar no caso de Ferreira de Castro. De imediato chegaram-se à frente dois nomes essenciais. Raul Brandão e Aquilino Ribeiro. Creio poder dizer, com segurança, que, posto assim, Castro admirava Aquilino, mas amava Brandão. Em Aquilino, a torrente lexical, mahleriana, se assim o posso dizer, e provavelmente o humor; em Raul Brandão, o poético, o trágico, o fragmentário, a dor. A dos outros, humilhados e ofendidos, as próprias, do pobre ser humano em face do enigma da morte.

Wednesday, July 01, 2015

D de «Diabo (O)» (para um Dicionário de Ferreira de Castro)

«Semanário de Crítica Literária e Artística», resultado da convergência entre anarquistas e republicanos, publicando-se entre 1934 e 1940, encerrado compulsivamente pelo regime do Estado Novo. Ferreira de Castro é um dos fundadores, colabora logo no 'número espécime' (ou n.º zero), e chega a dirigir o jornal por dois breves meses, em 1935, uma solução de recurso que assegurou a saída do hebdomadário. Descontente com o jornal, José Régio augurava, nas páginas da presença, uma melhoria com a direcção de Ferreira de Castro, que nele imprimiu nitidamente a sua marca, apesar do tempo curtíssimo como director. A seu convite, substitui-o na direcção o filólogo e professor Rodrigues Lapa, figura insigne da Oposição, com afinidades também à ideologia libertária. O jornal evoluiria para posições mais próximas do PCP, com a colaboração de jovens intelectuais comunistas, entre os quais Álvaro Cunhal. Castro e O Diabo mantiveram boas relações, tendo aquele concedido um extensa e importante entrevista, em 1940, estando à frente da publicação aquele que seria o último director, Manuel Campos Lima.

(a desenvolver)

bib: o meu artigo na Castriana #5, os livros de Clara Rocha, Daniel Pires e Luís Trindade.

Thursday, April 30, 2015

Ferreira de Castro nos dicionários (23) - o Dicionário de História do Estado Novo

Coordenado por Fernando Rosas e J. M. Brandão de Brito, Venda Nova, Bertrand Editora, 1996. O verbete sobre Ferreira de Castro é de Patrícia Esquível. Correcto, imprecisões mínimas (algumas datas). A inserção num dicionário de História tem várias justificações: não apenas a circunstância do peso intelectual, da gravitas de que se revestia Ferreira de Castro enquanto escritor, ao lado de um Aquilino Ribeiro, um José Régio e poucos mais; o texto realça e bem as ligações anarco-sindicalistas, como a presidencia do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa, que apanha em cheio com o 28 de Maio, os texto n'A Batalha, a direcção, já na década de 1930 de O Diabo ou a fundação, nos anos 50, e posterior presidência, no decénio seguinte da Associação Portuguesa de Escritores -- para além, como é óbvio, das próprias temáticas da sua literatura. Infelizmente, numa obra que tem como pano de fundo o Estado Novo, o papel do nosso autor no MUD ou na campanha de Norton de Matos, a constante insurgência contra a Censura ou o recorrente apoio a perseguidos políticos, nomeadamente como testemunha abonatória nos sinistros tribunais plenários, entre outros factos,Anarquismo e Neo-Realismo -- Ferreira de Castro nas Encruzilhadas do Século (2002) -- um e outros já posteriores à feitora deste dicionário.
 não têm aqui qualquer referência. Haverá, no entanto, uma explicação para esse vazio: a bibliografia citada termina com o livro de Álvaro Salema, de 1974, e só depois do 25 de Abril, algumas dessas questões foram estudadas e valorizadas, nomeadamente por mim (passe a pretensa autopromoção...), em artigos dispersos por vezes pouco acessíveis e no meu livro

Tuesday, January 28, 2014

castrianas - Teresa Leitão de Barros



Teresa Leitão de Barros (1898-1983), escritora e crítica literária do Notícias Ilustrado, quando se publicou A Selva (1930) escreveu, entre outras, duas coisas importantes, que o tempo, que é mauzinho, veio confirmar: a primeira é que, publicados os dois romances, este e Emigrantes, dois anos antes, Castro sobressaía como o grande romancista da sua geração: «Ferreira de Castro consagrou-se a si próprio, quando escreveu as mais admiráveis páginas dos seus últimos romances. Os seus personagens, que ficam bem de pé, bem erguidos perante a nossa mais incondicional admiração, esmagam e afugentam os fantoches de tanto romanceco que contribuiu para divinizar alguns autores de sorte. São colossos amesquinhando pigmeus.»

Na verdade, quem, de 1930, importa hoje? Só Castro e Aquilino, que era da geração anterior. Morto Raul Brandão, nesse preciso ano, Assis Esperança não resistiu ao tempo (pese embora o magnífico Servidão, de 1946). Da geração de Ferreira de Castro, Régio avançaria com o importante Jogo da Cabra Cega, em 1934, que então passou despercebido, como seria de esperar; Miguéis terá o modesto Páscoa Feliz em 1932, esperando ainda cerca duas décadas para voltar a publicar; Nemésio, com o modestíssimo Varanda de Pilatos (1927), só em 1944 virá com o assombroso Mau Tempo no Canal; João Gaspar Simões romancista menor, nem é deste campeonato (o interessante Elói, também de 1932, não ganha no confronto com a Cabra Cega regiana); e Francisco Costa e Tomás de Figueiredo só nos anos 40 começam a publicar romances. Para além do que pululava pelos jornais, no elogio mútuo ou interessado, só mesmo Aquilino e Castro hoje importam.
Acrescenta também Teresa Leitão de Barros no Notícias da Tarde, acertadamente, podemos dizê-lo agora, à distância de 83 anos: «Como obra literária integralmente bem realizada, "A Selva" pertencerá, um dia, à História onde se analisam os livros definitivos e grandes que neste século foram escritos em língua portuguesa.»
"Neste século", atrevia-se a crítica, ainda em 1930. Olhando para trás, verificamos que acertou na mouche, mesmo com todos os grandes textos romanescos, e foram felizmente alguns, que se imprimiram até ao ano 2000...
Teresa Leitão de Barros, «Um grande livro do século XX», apud Jaime Brasil, Ferreira de Castro e a Sua Obra, Porto, Livraria Civilização, 1931.

foto: Maria Antónia Fiadeiro (org.), Mulheres Século XX -- 101 Livros, Lisboa, Câmara Municipal [2001]

Monday, September 10, 2012

incidentais #2 -- um romancista descobre-se

da "Nota à 4.ª edição":

*A assunção de uma qualidade particular de romancista: a de «biógrafo [...] das personagens que não têm lugar no mundo».

* O volte-face de um percurso marcado até aí pela perseguição do exotismo e pelas proclamações libertárias para algo de mais profundo e essencial: a busca da dignidade do Homem e de todos os homens, a condição simultaneamente de fragilidade e audácia prometeica que caracteriza o indivíduo ao longo dos tempos. 

* Ter na mão a edição princeps  (1928) e perceber e sentir o que de inaugural teve aquele romance para toda uma literatura que viria a florescer na década de 1940, o neo-realismo, imune, porém à moléstia do sectarismo, armadilha em que caíram outros mais novos do que ele.

* O título, nome colectivo, Emigrantes.

* Romance português mais morto que vivo nesse final de década: naturalismos tardios, pitorescos gastos. Sobravam Aquilino, com muito ainda para dar; Brandão, às portas da morte, de obra rematada e memórias deixadas à posteridade; Teixeira-Gomes, o hedonista exilado e livre, ressurecto para a literatura. O romance psicologista -- que nunca foi estranho à narrativa castriana -- da presença, o Elói de João Gaspar Simões, o notável Jogo da Cabra Cega, de Régio, aguarda(m) vez.

Thursday, March 22, 2012

As "Notas Biográfica e Bibliográficas" de Jaime Brasil (1931) (3)

O texto é curto, pouco mais de dez páginas, e muito bem escrito, como era apanágio de Jaime Brasil, um estilista limpo e assertivo. A abrir, situa Castro como «o mais representativo dos romancistas da nova geração em Portugal» (p. 7), o que não suscita contestação, uma vez que os grandes ficcionistas de idade aproximada – José Régio, José Rodrigues Miguéis ou Vitorino Nemésio – não haviam ainda publicado as suas narrativas de maior significado.

Tuesday, March 06, 2012

Vítor Viçoso, A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (15)

Atrevo-me, aliás, a sugerir que as posições do presencista Fernando Lopes-Graça – revista de que ele foi um dos mais importantes colaboradores –, um estrénuo defensor da arte pura, estão muitos mais próximas de Régio do que de qualquer teórico do Neo-Realismo. O que não invalida que ele, quando necessário, tivesse a necessidade de intervir explicitamente com as Canções Heróicas ou, já depois do 25 de Abril – com o seu Requiem pela Vítimas do Fascismo em Portugal.

Foto: José Régio, João Gaspar Simões, Albano Nogueira, Fernando Lopes-Graça e Adolfo Casais Monteiro, daqui.

Tuesday, February 21, 2012

Vítor Viçoso, A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (14)

Voltando ao lastro cultural de que o Neo-Realismo irá proceder, temos de referir a revista coimbrã presença, de José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e Adolfo Casais Monteiro. Escreve Vítor Viçoso, com toda a pertinência, que «[…] nem o psicologismo da Presença esteve totalmente afastado da literatura neo-realista, nem a socialidade como tema literário, apesar da centração egotista, esteve arredada dos pressupostos de alguns presencistas.» (p. 51). Na verdade, dos grandes nomes da revista, só João Gaspar Simões, que em 1937 proclamara o «Discurso sobre a Inutilidade da Arte», se pode considerar como um defensor da arte pela arte. José Régio ou Adolfo Casais Monteiro são, acima de tudo defensores da liberdade do artista. Régio, aceitando com naturalidade a valia de uma arte empenhada, sustenta inclusivamente, e com razão – nas páginas da presença, a propósito do filme «A Revolução de Maio», de António Lopes Ribeiro –, que a própria propaganda não tem necessariamente de ser destituída de valor artístico. Basta lembrar-nos de obras-primas do cinema propagandístico como O Triunfo da Vontade ou Olímpia, de Leni Riefensthal…

Sunday, January 22, 2012

Vítor Viçoso, A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (9)

E já que nos referimos a José Régio, aproveito para abordar o lastro de que o Neo-Realismo pôde lançar mão para tornar-se no mais marcante movimento literário português no que ao romance diz respeito. Como sublinha Vítor Viçoso, o Neo-Realismo vai beber ao lirismo romântico a atenção pelo património cultural do país, preocupação de Almeida Garret com o seu Cancioneiro exemplo que teria sequência depois dele e, no Neo-Realismo, principalmente com Alves Redol e Fernando Lopes-Graça (Lopes-Graça que, quanto a mim, foi um presencista nas fileiras do Neo-Realismo…).

Tuesday, January 17, 2012

A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO (9)

É interessante vermos que ambas as posições, bukharinista e jdanovista, parecem ter a sua tradução nacional: Mário Dionísio caracterizando o Neo-Realismo como uma «síntese do Romantismo e do Realismo no quadro de uma apropriação e superação da nossa tradição literária.» […] isto é: «Descrever o real e contaminá-lo com o sonho […]» (p. 30), parece-me estar mais próximo de Bukhárine, enquanto que Álvaro Cunhal – no confronto com José Régio, nas páginas da Seara Nova, em 1936, ou na polémica interna do Neo-Realismo esgrimida nas páginas da Vértice, coadjuvando, a partir da prisão, pelo brilhante e ultra-ortodoxo António José Saraiva, contra João José Cochofel, Fernando Lopes-Graça e outros –, é claramente a personificação da rigidez doutrinária.

Thursday, January 27, 2011

Páginas de Amor dos Melhores Autores Portugueses (1944)

organizadores: António Feio e Raul Feio
Vasco de Lobeira [ou João de Lobeira], Sóror Mariana Alcoforado [sic], Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Carlos Malheiro Dias, Afonso Lopes Vieira, Júlio Dantas, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, Magnus Bergström, Joaquim Paço d’Arcos, José Régio, Manuel de Campos Pereira, Vitorino Nemésio.
Lisboa, edição dos Antologiadores, 1944.
(excerto de Eternidade)

Sunday, November 28, 2010

Os retratos de Castro por Nobre (3)

Ele próprio ensaísta, cultor de uma literatura de ideias, em escritos de estética cinematográfica, dispersos ou reunidos em volume (9) --, os seus livros estão eivados de referências literárias, de reflexões sobre a literatura, quer como manifestação artística específica, quer a propósito da sua relação com o cinema, topando o leitor a cada passo com Camilo e Eça de Queirós, Raul Brandão e Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro e José Régio; ou Dostoievski e Zola, Anatole France, Romain Rolland e André Gide. (10) O ensaio viria assim paulatinamente a tomar o lugar do desenho, que, na década de vinte do século passado, o projectara no meio artístico lisboeta.

(9) Horizontes de Cinema (1939) e Singularidades do Cinema Português (1964) [atente-se no título queirosiano do último -- nota 2010]
(10) A correspondência de Nobre é demonstrativa do diálogo intelectual que ele estabelecia com os seus interlocutores. Ver «Seis cartas de Luís cardim a Roberto Nobre», introdução, leitura e notas de Ricardo António Alves, Boca do Inferno #1, Cascais, Cãmara Municipal, 1996, pp. 95-109; José Régio / Roberto Nobre, «Correspondência», transcrição e notas de Eugénio Lisboa, Boletim, #4-5, Vila do Conde, Câmara Muncipal e Centro de Estudos Regianos, 1999, pp. 29-33.

Vária Escrita #8, Sintra, Câmara Municipal, 2001.

Wednesday, July 07, 2010

Literatura, Artes e Identidade Nacional -- Do Modernismo à actualidade (3)

Este período viu surgir e passar o Modernismo da Geração de Orpheu, com as suas inovações formais, imbuído de um espírito cosmopolita e citadino, acompanhado de atitudes provocatórias e mesmo escandalosas (4) -- refractário, portanto, ao sereno, sério e algo sectário projecto de regeneração pátria, protagonizado pelo Saudosimo de Pascoaes, n' A Águia (5), o 2.º Modernismo, ou presencismo, veiculado principalmente pela revista coimbrã presença (1927-1940), de José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e Adolfo Casais Monteiro, entre muitos outros, defendendo a excepcionalidade de cada criador e a independência da arte perante os vários poderes; o Neo-Realismo, defensor do carácter social da arte, que se publicou em periódicos como O Diabo, Sol Nascente, Vértice, assinalando-se Gaibéus, o romance inicial de Alves Redol, de 1939, como o primeiro marco desta corrente; o Surrealismo, que surge tardiamente, em 1947 -- vinte e três anos depois do 1.º Manifesto de André Breton --, em torno da figura carismática de António Pedro.

(5) Ver Clara Rocha, Revistas Literárias do Século XX em Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985, p. 234; e A. J. Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, 16. edição Porto, Porto Editora, s.d., pp. 1039-1040.
(6) No opúsculo O Espírito Lusitano ou o Saudosismo (1912), Pascoais fala no «estrangeirismo desnacionalizador» e refere-se, com acinte, a «pseudo-portugueses que não crêem na existência de uma alma portuguesa original», in A Saudade e o Saudosismo, compilação, introdução, fixação do texto e notas de Pinharanda Gomes, Lisboa, Círculo de Leitores, 1990, p. 52.


Literatura, Artes e Identidade Nacional -- «Do Modernismo à Actualidade», separata das Actas dos 3.ºs Cursos Internacionais de Verão de Cascais - 1996, Cascais, Câmara Municipal, 1997, pp. 183-184.

Tuesday, June 22, 2010

Antologia do Conto Fantástico Português

2.ª edição, organização de E. M. de Melo e Castro, Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello / Edições Afrodite, 1974.
Conto antologiado: O Senhor dos Navegantes
Autores: Alexandre Herculano, Rebelo da Silva, Júlio César Machado, Júlio Dinis, Manuel Pinheiro Chagas, A. Osório de Vasconcelos, Teófilo Braga, Álvaro do Carvalhal, Eça de Queirós, M. Teixeira-Gomes, Fialho de Almeida, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Mário de Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros, Ferreira de Castro, José Gomes Ferreira, José Rodrigues Miguéis, José Régio, Branquinho da Fonseca, Hugo Rocha, José de Lemos, Jorge de Sena, Natália Correia, Mário Henrique Leiria, Urbano Tavares Rodrigues, Carlos Wallenstein, David Mourão-Ferreira, Ana Hatherly, Herberto Helder, Maria Alberta Meneres, Álvaro Guerra, Dórdio Guimarães, António Barahona da Fonseca, Almeida Faria.

Saturday, March 06, 2010

Recensão a Ecos da Semana -- A Arte, a Vida e a Sociedade (2)

Iniciando a sua publicação em 1919, como órgão da Confederação Geral do Trabalho (CGT), anarco-sindicalista, A Batalha granjeou rapidamente uma difusão assinalável entre o público leitor, e não apenas operário, ombreando com os dois grandes títulos da imprensa de então: O Século e o Diário de Notícias. O êxito editorial permitiu que quatro anos mais tarde A Batalha avançasse com uma edição cultural, com o objectivo de valorizar a grande massa do seu público. «Saber para poder» era o título do editorial do primeiro número, de 3 de Dezembro de 1923: «Órgão de exposição doutrinária e elemento de educação e de aperfeiçoamento moral e intelectual, ele destina-se a ser o companheiro espiritual do operário e a contribuir para a formação da sua consciência revolucionária.» Esse objectivo foi servido por uma plêiade de intelectuais, escritores e publicistas marcantes dos anos vinte, alguns deles ainda muito jovens, do próprio Ferreira de Castro a Jaime Brasil, passando por Julião Quintinha, Campos Lima, Nogueira de Brito, César Porto, Mário Domingues; e muitas e muito assinaláveis colaborações irregulares, de Raul Brandão a José Régio. Não descurando a situação dos leitores a quem se dirigia, este suplemento cultural fazia também uma pedagogia cívica e social em vários domínios da vida quotidiana; a parte substancial, porém, das oito páginas do suplemento era ocupada com a criação e a crítica literárias, a divulgação da grande música (em que Nogueira de Brito teve um papel relevantíssimo), da pintura, do teatro, da vida e obra dos autores referenciais, quer em literatura (Antero e Eça, Tolstoi e Ibsen, Zola e Anatole), quer em ideias (Proudhon, Bakunine, Gandhi e, numa perspectiva crítica, embora respeitosa, Lénine). Valorizado por diversos ilustradores, como Alonso ou Roberto Nobre, foi sem dúvida o talento de Stuart Carvalhais que mais marcou o rosto do jornal.

Castriana, n.º 3, Ossela, Centro de Estudos Ferreira de Castro, 2007, pp 105-106.

Thursday, December 31, 2009

10 livros que não mudaram a minha vida

Do Catharsis chega este desafio. pois aqui vai: 10 livros que não mudaram a minha vida.

1- A selva e a neve, de Ferreira de Castro;
2- A velha casa, mas divorcia-se logo a seguir, de José Régio;
3- É amor, foda-se!..., de Camilo Castelo Branco;
4- Folha murcha, de Almeida Garrett;
5- O barão de Castro Guimarães, de Branquinho da Fonseca;
6- Para o infinito e mais além, de Vergílio Ferreira;
7- Ravina dos tapados, de Alves Redol;
8- Sozinho e muito infeliz, de António Nobre;
9- Tabacaria, valores selados, brindes, de Álvaro de Campos;
10- Tusa, de Marmelo e Silva.

Sunday, September 20, 2009

Ribeiro Couto,SENTIMENTO LUSITANO (1963)

Livro póstumo com adenda in memoriam
Lisboa, Livros do Brasil [1963]
Textos de António de Sousa, Augusto de Castro, Ferreira de Castro, Fidelino de Figueiredo, Guilherme Pereira de Carvalho, Hernâni Cidade, Jacinto do Prado Coelho, João Gaspar Simões, João José Cochofel, Joaquim Paço d'Arcos, José Osório de Oliveira, José Régio, José Ribeiro dos Santos, Luís Teixeira, Marcelo Caetano, Matilde Rosa Araújo, Miguel Torga, Natércia Freire, Nuno Simões, Paulo Barros, Taborda de Vasconcelos e Urbano Tavares Rodrigues

Wednesday, February 18, 2009

correspondências - M. Rodrigues Lapa a Paulo Duarte


[...]

Nem você calcula as fezes e aborrecimentos que me tem causado a ida ao Brasil.* [...]
1. Substituição do Ferreira de Castro. O Ferreira de Castro teve de desistir, por vários motivos, mas parece-me que o fundamental é a impossibilidade de levar a mulher. Convença-se disto, meu caro: nós, os homens que dobrámos os 50, já não podemos andar sem as nossas mulheres. Ora é o coração, ora é o fígado que reclama por elas. Tornaram-se-nos indispensáveis. Pusemo-nos logo em campo para o substituir. [...] Falámos com o Aquilino Ribeiro, que não pode ou não quer; batemos à porta do Armando Cortesão, que também não aceita. Escrevi agora ao Régio, que é uma grande figura de poeta, num corpo pequeno. Aguardo a sua resposta. Numa negativa, ainda procuraremos convencer o Miguel Torga, um dos nossos grandes escritores. [...]
[Costa da Caparica, 26 de Junho de 1954]
*Congresso Internacional de Escritores, São Paulo, 9-15 de Agosto de 1954, organizado pela Sociedade Paulista de Escritores no âmbito das comemorações do IV Centenário da cidade.
Correspondência de Rodrigues Lapa -- Selecção (1929-1985), edição de Maria Alegria Marques, Ana Paula Figueira Santos, Nuno Rosmaninho, António Breda Carvalho e Rui Godinho, Coimbra, Minerva, 1997, pp. 225-226.

Friday, September 19, 2008

O Museu Ferreira de Castro (8)

O GABINETE DE TRABALHO

O escritório de Ferreira de Castro foi reconstituído tal como existia na sua casa de Lisboa. Pode ver-se a secretária do escritor, sobre a qual estão diversos objectos pessoais, decorativos e de escrita, bem como quadros, com destaque para retratos seus da autoria de Eduardo Malta, Roberto Nobre e Stuart, além de fotografia de alguns amigos.
Da biblioteca pessoal constam livros dedicados de autores contemporâneos como Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Egas Moniz, Gago Coutinho, Fidelino de Figueiredo, Hernâni Cidade, José Régio, José Rodrigues Miguéis, Alves Redol, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Valle-Inclán, Louis Aragon, Somerset Maugham, entre muitos outros.

Saturday, February 16, 2008

Ferreira de Castro e o seu tempo - O ano de 1902 (#1)

Castro -
Texto - Carlos Malheiro Dias, Paixão de Maria do Céu; Carolina Michaëlis de Vasconcelos, A Infanta D. Maria; Eça de Queirós, Contos (póstumo). Castro sobre o livro de Carlos Malheiro Dias - «A paixão de Maria do Céu», se não é um dos melhores romances da literatura portuguesa dos últimos anos, é, pelo menos, um dos mais interessantes. «Exortação à mocidade...», A Batalha -- Suplemento Semanal Ilustrado, n.º 67, Lisboa, 9/III/1925, in Ecos da Semana -- A Arte, a Vida e a Sociedade, edição de Luís Garcia e Silva, Lisboa, Centro de Estudos Libertários / A Batalha, 2004, p. 30. Eça, Castro e outros mais, segundo Jorge de Sena - [...] como Miguéis e como Ferreira de Castro, o Régio ficcionista deve muito pouco a essa sombra tirânica [...]. «José Régio aos sessenta anos», Régio, Casais, «a presença» e Outros Afins, Porto, brasília Editora, 1977, p. 130.
Confronto - Anatole France, O Caso Crainquebille;Karl Kautsky, A Revolução Social. Castro sobre Anatole - Anatole France gozava, em vida, do título de «príncipe dos escritores franceses contemporâneos». / Sua obra, seu génio, davam-lhe direito a esse título -- e os próprios inimigos de Anatole reconheciam que ninguém como este, na França do primeiro quartel do século XX merecia aquela regalia honorífica. «O "príncipe dos escritores", A Batalha -- Suplemento Semanal Ilustrado, n.º 60, Lisboa, 19/I/1925, in Ecos da Semana -- A Arte, a Vida e a Sociedade, edição de Luís Garcia e Silva, Lisboa, Centro de Estudos Libertários /
Cartoon de 1902 - Rafael Bordalo Pinheiro, Pena de Pato... d'Ouro.(caricatura de Bulhão Pato, a última do Álbum das Glórias)
Cinema de 1902 - Méliès, Viagem à Lua.


Escritores de 1902 - José Loureiro Botas (Vieira de Leiria; m.Lisboa, 1963), Marcel Aymé (m. 1967); morrem em 1902 Émile Zola (n. 1840). Castro sobre Zola - Zola teve um grande papel na Literatura. Para se avaliar toda a sua extensão, basta imaginarmos que ele não existiu; basta imaginar a literatura dos últimos oitenta anos sem a sua presença. Depois deste pequeno passatempo, rapidamente encontraremos um enorme vazio, que não sabemos como preencher, uma enorme corrente partida, que não sabemos como ligar... «Émile Zola», Vértice, n.º 114, vol. XIII, Coimbra Fevereiro de 1953. Escrito para Présence de Zola, volume colectivo, Paris, 1953.


Prémio Nobel da Literatura de 1902 - Theodor Mommsen


Ecos de 1902 - Luís de Magalhães a Emília de Castro Eça de Queirós (Moreira, 16-XI): Os Contos ficaram um livro adorável e encerram alguns dos mais belos que o José Maria escreveu. O Defunto, Adão e Eva, José Matias, A Perfeição, O Suave Milagre, são pequenas mas verdadeiras obras-primas -- maravilhas da imaginação e da fantasia, de graça, de ironia, de emoção, de estilo.

(imagem daqui)