«[...] Rui Zink tematiza o medo fazendo-nos sorrir. Desde Gil Vicente, faz parte dos atributos da farsa vestir-se de comédia. Nos seus romances, Lobo Antunes trabalha o medo recorrendo à compaixão trágica, despertando o nosso sentimento de piedade, sentimos pena de algumas das suas personagens. Agustina, realista no quadro geral, limita-se a descrever psicologicamente o medo. Saramago conta a história social do medo, evidenciando como ele é indissociável do conflito humano. Al Berto traz à luz, nos seus poemas, um medo original, a presença aterradora do excesso de ser que consome a existência humana, o que Golgona Anghel designa por "medo metafísico", o mesmo medo que atravessa a obra de Vergílio Ferreira, sintetizado na morte. Ferreira de Castro exprime com realismo o sentimento de medo, mesmo pânico, de Alberto perante a fúria decapitadora dos índios amazónicos. Outros escritores abordam este sentimento, cada um a sua modo, mas nenhum transformou um sentimento de temor, de pavor, até de horror, em quadros ficcionais desencadeadores do riso.[...]» [sobre Osso, de Rui Zink (2015)]
Miguel Real, «O medo desmascarado», JL, 25 de Novembro de 2015.