Monday, August 31, 2009

correspondências - a Horácio Bento de Gouveia

Mª de Cambra
11 Junho 72
Meu caro Horácio Bento de Gouveia
Porque foi impresso em corpo 6, li os Ilhéus pouco a pouco, com sucessivas interrupções. Ando com uma crise da vista tão grave, que tive de ir mesmoa Barcelona, à clínica Barraquer, para que ma examinassem.
O Escritor, n.º 6, Lisboa, Associação Portuguesa de Escritores, Dezembro de 1995, p. 10.

Ferreira de Castro na "Cidade de Lilipute" (2)

Com a publicação daquele romance*, o autor assumiu-se como "biógrafo das personagens que não têm lugar no mundo" (1) -- nem na história oficial de então, acrescento eu. As suas personagens são arquétipos, e, como tal, universais. Por alguma razão ele foi o escritor português mais traduzido em vida. Em 1973, de resto, A Selva (1930), uma das suas obras-primas, estava entre os dez romances mais lidos em todo o mundo, de acordo com dados da UNESCO. (2) O seu nome foi inclusivamente proposto, por várias ocasiões, para Prémio Nobel da Literatura, por personalidades nacionais e estrangeiras.
* Emigrantes.
(1) Emigrantes, 24.ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1988, p. 14.
(2) Penso ser útil incluir aqui a relação dos livros de Ferreira de Castro traduzidos para o inglês: Jungle -- A Tale of the Amazon Rubber-Tappers, tradução de Charles Duff, London, Lovat Dickson, 1935, New York, Viking, 1935; Emigrants, tradução de Dorothy Ball, New York, Macmilan, 1962; The Mission, tradução de Ann Stevens, London, Hamis Hamilton, 1963.
In Ferreira de Castro, Macau e a China, Taipa, Câmara Municipal das ilhas, 1998, pp. 7-8.

Tuesday, August 11, 2009

Ferreira de Castro, entre Marinetti e Kropotkine (2)

Nos livros eliminados da sua tábua bibliográfica, é visível a trajectória errática, própria de quem não encontrou ainda o modo de se escrever satisfatoriamente. Daí que surjam títulos tão díspares como um inclassificável Mas..., com laivos tardo-futuristas, Carne Faminta, Sangue Negro, em que fez a mão para o grande romance amazónico, como demonstrou Alexandre Cabral nos seus estudos exemplares, os panfletos de A Epopeia do Trabalho e obras híbridas como A Casa dos Móveis Dourados ou O Voo nas Trevas, oscilando entre a crónica de existências desencontradas e a narrativa de intenções inconformistas, umas e outras com habitual pano de fundo citadino. O bom acolhimento granjeado por Emigrantes viria a traçar o seu caminho e confirmar a sua aspiração a uma literatura mais verdadeira, menos postiça e leviana.

O Escritor, n.º 11 / 12, Lisboa, Associação Portuguesa de Escritores, 1998, p. 175.

Monday, August 10, 2009

Rocha Peixoto, OS PUCAREIROS DE OSSELA (1908)

Vão a desaparecer os ceramistas populares da freguesia de Ossela, no concelho de Oliveira de Azeméis e distrito de Aveiro. Do não mui remoto e numeroso grupo de oleiros subsistem apenas dois no lugar do Mosteiro, da freguesia aludida, e outro, de lá destacado, no lugar de Barbeita, freguesia de Castelões e concelho contíguo de Macieira de Cambra. É, pois, uma indústria local que se extingue à míngua de recursos. A exiguidade dos lucros desviou os oleiros para outras ocupações, limitando-se os que sobrevivem a venderem os seus púcaros negros nas feiras, e associando interpoladamente alguma agricultura ao seu descaroável mister.

Rocha Peixoto, «Os pucareiros de Ossela», Etnografia Portuguesa, edição de Flávio Gonçalves, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, p.315.

Saturday, August 01, 2009

Três escritores em tempo de catástrofe: Castro, Zweig e Eliade (2)

Ferreira de Castro no Estoril: um intervalo na obra do escritor

Os pontos cardeiais da geografia de Ferreira de Castro (1898-1974) são a aldeia de Salgueiros (freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis), onde nasceu; o Brasil amazónico, que formou a sua personalidade; Paris, por razões culturais e políticas; e Sintra, onde jaz, num sopé da serra, e lhe é consagrado um museu monográfico.
Boca do Inferno, n.º 3, Cascais, Cãmara Municipal, 1998, p.92.
(continua)
Postado também n' A Caverna de Éolo.