Thursday, January 27, 2011

Páginas de Amor dos Melhores Autores Portugueses (1944)

organizadores: António Feio e Raul Feio
Vasco de Lobeira [ou João de Lobeira], Sóror Mariana Alcoforado [sic], Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Carlos Malheiro Dias, Afonso Lopes Vieira, Júlio Dantas, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, Magnus Bergström, Joaquim Paço d’Arcos, José Régio, Manuel de Campos Pereira, Vitorino Nemésio.
Lisboa, edição dos Antologiadores, 1944.
(excerto de Eternidade)

Tuesday, January 25, 2011

Um medo frio - Breve nota sobre a memorialística castriana (3)

Personagem influente da cultura portuguesa novecentista, um dos últimos abencerragens do escritor-farol à maneira de um Victor Hugo, de um Guerra Junqueiro, de um Émile Zola -- mas também de um Romain Rolland ou de um Aquilino Ribeiro, Castro granjeou um prestígio como romancista e uma autoridade moral como figura intelectual da Oposição -- embora nunca arregimentada, tenazmente independente e individual  -- suficientemente significativos para ser tido como um potencial candidato às Presidenciais de 1958, sondado para o efeito por intelectuais do PCP, e cuja recusa viria a estar na origem da escolha do seu amigo e contertuliano Arlindo Vicente. Uma natural vivência intelectual intramuros e fora de portas, um estreito relacionamento com figuras como Raul Brandão ou Brito Camacho, os contactos privilegiados que teve com diversos escritores estrangeiros, de Blaise Cendrars a Louis Aragon, passando por Stefan Zweig, a amizade com Jorge Amado e muitos outros autores brasileiros que seria fastidioso enumerar, os prémios internacionais e as distinções vindas um pouco de toda a parte, em especial do Brasil e de França -- tudo isto daria para uma narrativa de memórias cheia de interesse -- porém superficial, em face da existência invulgar que foi a sua, tão exaltante quanto surpreendente.

Sol XXI #38/39, Carcavelos, 2003 

Tuesday, January 18, 2011

Ferreira de Castro e João Pedro de Andrade (3)

No decorrer dos trabalhos para este Centenário, verificámos que existiu também uma ligação a Sintra, na década de 60, quando Andrade arrendou uma casa na Vila Velha, mais concretamente na Rua da Pendoa, a meio caminho do local em que hoje estamos e o velho Hotel Neto, onde Castro costumeiramente se hospedava.
Na última carta conhecida de João Pedro de Andrade, de 3 de Novembro de 1964, este informa Ferreira de Castro estar aos fins-de-semana num «tugúrio» que por cá arrendara:
Passo grande pedaços no café Paris, depois do almoço e do jantar, a caturrar com um velho amigo. E tenho devassado aquelas estradas e veredas saudavelmente a pé. (Pertenço à minoria dos portugueses que não têm automóvel.)1


1Lisboa, 3 de Novembro de 1964 -- MFC/B-1/2096/Cx.176/Doc.19/Ms.


João Pedro de Andrade, Centenário do Nascimento (1902-2002), Actas & Colóquios da Hemeroteca #2, Lisboa, Câmara Municipal, 2004.

Friday, January 07, 2011

1911

Faz hoje cem anos que um garoto embarcou sozinho no porto de Leixões rumo a Belém do Pará. Chamava-se José Maria Ferreira de Castro, «tinha 12 anos, 7 meses e 14 dias», acabara de ler um número da Ilustração e encetava um dos mais extraordinários percursos que um indivíduo pode realizar: acrescentar ao Mundo algo de si.Sem que nada o sugerisse -- pelo menos à gente rude de onde ele provinha --, aquela criança começou a escrever num seringal da Amazónia, e quando de lá saiu para a capital paraense editou, logo que pôde, um romance ingénuo, que venderia em fascículos de porta em porta, intitulado Criminoso por Ambição. Corria o ano de 1916. Não era previsível que um filho de camponeses, apenas com a quarta classe, viesse a ser um dos maiores escritores portugueses do século XX, autor de, pelo menos, duas obras-primas -- A Selva (1930), um livro único, e A Lã e a Neve (1947), um exemplo das capacidades de um grande romancista no seu apogeu --, e de um punhado de livros relevantíssimos que, só por si, torná-lo-iam um dos romancistas mais consistentes do seu tempo: Emigrantes (1928), Eternidade (1933), Terra Fria (1934), A Tempestade (1940), A Curva da Estrada (1950), A Missão (1954) e O Instinto Supremo (1968), sem esquecer outros títulos, como A Volta ao Mundo (1940-44), um marco na secular literatura de viagens dos portugueses.
Ferreira de Castro foi um pioneiro na introdução em Portugal de uma literatura de intuitos revolucionários, com Emigrantes (1928). Mas foi muito mais do que isso: um psicologista fino, um estilista exigente, um autor atormentado pelo destino inexorável de todo o ser vivente, a morte, um ecologista avant la lettre, um defensor dos animais, um feminista, um libertário, um anarquista no mais puro e verdadeiro sentido da palavra.
Para quem ache os prémios importantes, deixo aqui registados os mais significativos: Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências (1934, atribuído a Terra Fria), Prémio Catenacci, da Academia de Belas-Artes de Paris (1965, atribuído a As Maravilhas Artísticas do Mundo), Grande Prémio Águia de Oiro do Festival do Livro de Nice (1970, conjunto da obra), Prémio da Latinidade (1971, em conjunto com Jorge Amado e Eugenio Montale); proposto ao Prémio Nobel de Literatura em 1951 (comissão liderada pelo académico dinamarquês Holger Sten) e em 1968 (com Jorge Amado, propostos pela União Brasileira de Escritores).
A sua obra continua a ser lida, reeditada, amada e redescoberta por muitos leitores, e como nunca se deixou contaminar pela propaganda do totalitarismo, isto é: nunca se esqueceu que o indivíduo é a entidade primeira numa sociedade livre e justa, não foi ainda desmentida pela História e pelas práticas dos homens.
postado também no Abencerragem 

Wednesday, January 05, 2011

Recordar Rocha Martins (3)

Cronista do fim da monarquia e dos primeiros anos da república, os seus livros sobre D. Carlos, D. Manuel II, João franco, Pimenta de Castro ou Sidónio Pais participam dessa condição de jornalista, de observador privilegiado e muitas vezes participante do devir histórico, acabando por alçar-se à condição de testemunhos de um  tempo.


Texto publicado no desdobrável da exposição bibliográfica e documental «Rocha Martins -- 50 Anos Depois (1952-2002)», realizada no Museu Ferreira de Castro, em Maio-Junho de 2002.