Monday, September 29, 2008

Literatura, Artes e Identidade Nacional -- Do Modernismo à Actualidade (1)


Literatura, Artes e Identidade Nacional -- «Do Modernismo à Actualidade»
separata das Actas dos 3.ºs Cursos Internacionais de Verão de Cascais - 1996
Cascais, Câmara Municipal, 1997
Se olharmos para os oitenta anos que decorreram desde 1915, quando se publica a revista Orpheu, verificamos que, na maior parte deste período, a criação fez-se sob o controlo de uma censura severa, acompanhada da inevitável repressão dos criadores, menorizando o público.
Eloquente testemunho desta realidade deu-nos Jorge de Sena, em 1960: «Quem se debruçar sobre a literatura portuguesa -- e não só a ficção deste século -- não a entenderá se não souber entender tal situação trágica. Felizes os grandes e livres povos! Mas será que, quando esses povos discreteiam do que é a literatura, saberão, como nós sabemos, a que ponto ela pode não ser?» (1)
(1) «A literatura contemporânea de ficção», Estudos de Literatura Portuguesa, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 44.
(continua)

Thursday, September 25, 2008

Neo-realismo: contributo para dificultar um problema (1)


II parte de Anarquismo e Neo-Realismo -- Ferreira de Castro nas Encruzilhadas do Século, Lisboa, Âncora Editora, 2002
De uma maneira geral, tenho pouca estima pela ideologia, creio que ela sempre termina levando ao sectarismo, sempre conduz a uma falsificação da realidade -- que é colocada segundo alguns cânones ideológicos, e, asiim, a ideologia só é analisada a partir de simesma. -- Jorge Amado, Conversas com Alice Raillard
«Precursor do neo-realismo». Esta formulação equívoca tanto pode significar que o autor de Terra Fria foi o iniciador do romance de intenções socialmente revolucionárias -- de alteração do real --, como, simplesmente, que o enunciou sem ir mais além, não o levando até às últimas consequências. É precisamente esta última noção que, quanto a nós, está subjacente ao lugar-comum que foi ganhando estatuto de truísmo.
(continua)

Monday, September 22, 2008

O Museu Ferreira de Castro (9)

O ESPÓLIO
O riquíssimo espólio documental, composto por mais de vinte mil documentos de correspondência, largas dezenas de títulos de periódicos, manuscritos e inúmeros espécimes diversos, está aberto aos investigadores, doutorandos, mestrandos e estudantes universitários.
Da correspondência de escritores, artistas plásticos, cientistas, políticos e editores, constam nomes tão diversos quanto Eugénio de Andrade, João Lúcio de Azevedo, João de Barros, Agustina Bessa-Luís, António Botto, Jaime Brasil, Alexandre Cabral, Joaquim de Carvalho, Augusto Casimiro, Fernanda de Castro, Natália Correia, Jaime Cortesão, Júlio Dantas, Mário Dionísio, Sant`Ana Dionísio, Assis Esperança, Vergílio Ferreira, M. Rodrigues Lapa., Ruben A., Óscar Lopes, Ilse Losa, Vitorino Nemésio, Joaquim Paço d`Arcos, João Sarmento Pimentel, Raul Proença, Álvaro Salema, António Sérgio, Alberto de Serpa e Erico Veríssimo, entre muitos outros.

Saturday, September 20, 2008

A Unidade Fragmentada - Dispersos de Ferreira de Castro (1)


Apresentação da colectânea de dispersos, publicada em Vária Escrita, n.º 3, Sintra, Câmara Municipal, 1996.
«Creio que é difícil ser-se honesto. Quanto a pretender dizer a verdade...
é impossível! Talvez por essa razão optei por tonar-me romancista. Não
obedeço a qualquer dogma, exploro o género humano.»
William Golding
1. As circunstâncias de escrita
Não são abundantes os textos dispersos de Ferreira de Castro, se considerarmos apenas o período posterior a 1934, ano em que abandona o jornalismo, centrando-se exclusivamente na sua produção literária.
(c0ntinua)

Friday, September 19, 2008

O Museu Ferreira de Castro (8)

O GABINETE DE TRABALHO

O escritório de Ferreira de Castro foi reconstituído tal como existia na sua casa de Lisboa. Pode ver-se a secretária do escritor, sobre a qual estão diversos objectos pessoais, decorativos e de escrita, bem como quadros, com destaque para retratos seus da autoria de Eduardo Malta, Roberto Nobre e Stuart, além de fotografia de alguns amigos.
Da biblioteca pessoal constam livros dedicados de autores contemporâneos como Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Egas Moniz, Gago Coutinho, Fidelino de Figueiredo, Hernâni Cidade, José Régio, José Rodrigues Miguéis, Alves Redol, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Valle-Inclán, Louis Aragon, Somerset Maugham, entre muitos outros.

Sunday, September 14, 2008

...esta necessidade de permanente assistência afectiva... [A Correspondência entre Ferreira de Castro e Roberto Nobre] (1)




Introdução à Correspondência (1922-1969) de Ferreira de Castro e Roberto Nobre
Editorial e Notícias e Câmara Municipal de Sintra, Lisboa, 1994


O que é escrito adquire um valor
«moral» e prático que transcende de
muito o facto de apenas ser escrito, que,
entretanto, é uma coisa puramente material...
Antonio Gramsci
O que vem até à carta não é em nós
o mais profundo mas o mais sociável, o
que pode transaccionar-se numa comunicação
de superfície. Uma carta é um acto de pudor.
O mais sério fica oculto.
Vergílio Ferreira
Foi o escritor Assis Esperança quem aproximou Ferreira de Castro e Roberto Nobre. Castro frequentava a sua casa, à Rua do Passadiço, o mesmo sucedendo com Nobre, que tinha por Assis uma amizade de irmão -- apesar de quinze anos mais novo --, sentimento que se cimentara quando, ainda adolescente, convivia na tertúlia do pai -- conhecido cirurgião em Faro --, que integrava o futuro autor de O Dilúvio.
(continua)

Sunday, September 07, 2008

O Museu Ferreira de Castro (7)


7. Um escritor à conquista do mundo

«O génio de Ferreira de Castro está em ter sabido descrever, com um poder incomparável, não apenas a condição portuguesa ou brasileira, mas toda a condição humana.» ROBERT BRÉCHON (1966)


A última sala do Museu Ferreira de Castro mostra espécimes relacionados com a internacionalização da obra do escritor, que continua hoje a merecer a atenção não apenas dos leitores portugueses, como de editores estrangeiros.

Wednesday, September 03, 2008

Cançoes da Vendetta (1)

Texto das badanas da segunda edição de Canções da Córsega,
Sintra, Museu Ferreira de Castro, Cãmara Municipal, 1994


Em 7 de de Abril de 1934, um sábado, O Século dava a conhecer aos seus leitores «A Vida Fantástica de André Spada, "bandido de honra"». Era o último trabalho da série «Uma Reportagem na Córsega», que Ferreira de Castro vinha a publicar naquele diário.
Poucos dias depois, o autor do recente Terra Fria entrava no gabinete de João Pereira da Rosa e pedia-lhe uma licença sem vencimento ilimitada. Corria pelos cafés e redacções do Bairro Alto que um empréstimo contraído oficialmente enfeudaria O Século à Situação, de forma irremediável.
«Pensi logo em sair dali.», escreveu Castro quarenta anos mais tarde, em «Origem de "O Intervalo"». Havia já oito anos que a liberdade findara, explicou, «e eu não desejava servir um novo altifalante da autocracia que no-la tinha suprimido.»
(continua)