[...]
É isso que estão fazendo os artistas modernos -- os artistas da vanguarda. Deslumbrados pela luz, pela vertigem do século, mas aproximando-se da porta que dá para o futuro. Da porta para além da qual vive o espírito de amanhã.
Dir-me-ão que muitos não são sinceros. É verdade. Muitos não são sinceros! Muitos aproveitam-se da confusão desta hora em que vivemos, confusão de todas as horas de combate, para se fazerem passar como modernos, como precursores, eles que são nulidades!
[...]
Mas apesar de tudo eles não são absolutamente inúteis. A sua acção aumentará o tumulto, o ruído que é necessário fazer, para que a burguesia, para que as academias, para que os cadáveres animados saibam que há um mundo novo brotando das cinzas do mundo velho. Porque é preciso que se faça sobre a terra uma grande expectativa. Essa muda expectativa que precede os grande fenómenos.
Conferência proferida na Associação dos Empregados de Escritório, Fevereiro de 1926
In A Batalha -- Suplemento Semanal Ilustrado, n.º 118, 1 de Março de 1926, p. 6.
Juan Miró, Estátua, 1926
MoMA -- Museu de Arte Moderna, Nova Iorque