Showing posts with label Eugénio Lisboa. Show all posts
Showing posts with label Eugénio Lisboa. Show all posts

Thursday, April 28, 2016

admirar & amar

Escreve Eugénio Lisboa, no último JL («Sá-Carneiro visto por Régio -- O oiro e a neve») que os grandes escritores, relativamente aos colegas que os precederam, amam uns e admiram outros:
«Pessoa admirava Milton e amava Dickens. Flaubert admirava Zola, mas amava Hugo. Régio admirava Eça e Pessoa, mas amava Camilo e Sá-Carneiro. Há aqueles com quem sentimos afinidades e aqueles em quem admiramos qualidades que não temos nem nos interessa particularmente ter.»
Fiquei a pensar no caso de Ferreira de Castro. De imediato chegaram-se à frente dois nomes essenciais. Raul Brandão e Aquilino Ribeiro. Creio poder dizer, com segurança, que, posto assim, Castro admirava Aquilino, mas amava Brandão. Em Aquilino, a torrente lexical, mahleriana, se assim o posso dizer, e provavelmente o humor; em Raul Brandão, o poético, o trágico, o fragmentário, a dor. A dos outros, humilhados e ofendidos, as próprias, do pobre ser humano em face do enigma da morte.

Wednesday, July 15, 2015

«Sob as velhas árvores românticas»: do significado de Sintra para Ferreira de Castro (4)


Mas, se a narrativa castriana veicula um escopo de intervenção social, sendo marcadamente ideológica, esse desígnio tem sido responsável por uma subvalorização da dimensão metafísica, que é o segundo aspecto caracterizador do corpus literário que nos legou, e o impregna e complementa (1)dimensão radicada na frágil e trágica condição de finitude de cada indivíduo, agudizada quando a consciência de fim não se ampara na crença religiosa da vida após a morte – como é o caso do nosso autor.


(1) Ver Eugénio Lisboa, «Ferreira de Castro e o seu romance O Intervalo : uma metáfora para a condição humana», Folhas – Letras & Outros Ofícios, #3, Aveiro, Grupo Poético de Aveiro, 1998: 11-18; republicado em Indícios de Oirovol. I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009: 129-139.

(artigo completo)

Wednesday, June 24, 2015

«Sob as velhas árvores românticas»: do significado de Sintra para Ferreira de Castro (3)

É, pois, compreensível que, desde cedo, a sua obra fosse apresentada como anunciadora do neo-realismo – não sem alguns equívocos e controvérsia que se prendem mais com facciosismo partidário do que com a análise ideologicamente desapaixonada e não comprometida… (ver Ricardo António Alves, Anarquismo e Neo-Realismo – Ferreira de Castro nas Encruzilhadas do Século, Lisboa, Âncora Editora, 2002: 71-108).
Mas, se a narrativa castriana veicula um escopo de intervenção social, sendo marcadamente ideológica, esse desígnio tem sido responsável por uma subvalorização da dimensão metafísica, que é o segundo aspecto caracterizador do corpus literário que nos legou, e o impregna e complementa (1) ; dimensão radicada na frágil e trágica condição de finitude de cada indivíduo, agudizada quando a consciência de fim não se ampara na crença religiosa da vida após a morte – como é o caso do nosso autor.

(1)Ver Eugénio Lisboa, «Ferreira de Castro e o seu romance O Intervalo: uma metáfora para a condição humana», Folhas – Letras & Outros Ofícios, #3, Aveiro, Grupo Poético de Aveiro, 1998: 11-18; republicado em Indícios de Oiro, vol. I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009: 129-139.

in Tritão #2, Sintra, Câmara Municipal, 2014

(artigo completo)

Monday, April 27, 2015

Ferreira de Castro nos dicionários (17) - o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses

Publicado em seis volumes (1985-2001), nas Publicações Europa-América, dirigido por Eugénio Lisboa (vols. I-III) e Ilídio Rocha (IV-VI). Os verbetes não estão assinados, surgindo a lista dos colaboradores surge no início de cada tomo.
O texto sobre Ferreira de Castro (vol. III, 1994) está bem feito, de forma concisa e com informação relevante (um ou outro erro ou omissão, nomeadamente no que respeita a datas bibliográficas, não põem em causa o bom trabalho de conjunto.)
Quanto à análise da obra, o teor é geralmente assertivo e acertado. Referência ao "marco" que constituiu Emigrantes, com citação de Jaime Brasil, às muitas traduções, principalmente de A Selva, e ao seu cariz de autor "viageiro". Alusão às "reservas" quanto ao estilo, compensadas pelo valor global da obra, referida como "uma das mais importantes" do século XX português, terminando com considerações sobre o lugar que ela ocupa(rá) no património literário.

Monday, November 04, 2013

Camus, Koestler, Orwell

Leio a evocação de Albert Camus no Expresso, expressiva evocação escrita por Clara Ferreira Alves. À baila teria de vir os nomes doutros grandes escritores lucidamente antitotalitários, Arthur Koestler e George Orwell. Lúcida e corajosamente antitotalitários: era mais fácil ir na onda das verdades anunciadas, do dogmatismo político para-religioso, que resultou na mentira, na perseguição, nos hospitais psiquiátricos, na tortura e na morte.
Era mais fácil ser-se cobarde e vilmente propagandista dum embuste stalinista que todos sabiam ser um universo de crime, em nome dos grande princípios que todos os homens de bem subscrevem.
Estes tipos eram inteligentes, e certamente não se ficaram pelo papaguear das palavras-de-ordem, pela catequização funcionária do Partido. E leram, leram de certeza, o seu Lenine e o seu Marx para perceberem que aquilo era um pensamento intolerante, cuja aplicação prática não poderia ter deixado de ser o que foi: um desastre.
Em tempo: a não perder também o texto de Maria Luísa Malato e a competentíssima cronologia de Eduardo Graça.
Quantas semelhanças com o Ferreira de Castro, libertário, tolerante, humanista e lúcido! A diferença circunstanciaL ao contrário destes seus colegas, que escreveram em sociedades liberais, Castro -- um tudo-nada mais velho -- publicava num país condicionado por uma ditadura de direita com laivos parafascistas, e nunca faria o jogo desta, atacando o bolchevismo do alto do lugar destacadíssimo que conquistara como homem de letras, pelo contrário! Ele soube sempre separar os homens, com os seus dramas individuais e interiores, das doutrinas que professavam, ainda mais se elas eram também motivo de perseguição a quem, ingénua e generosamente na juventude, as professara.
Mas as ideias libertárias que professou estão todas inscritas na sua obra. Basta sabê-la ler, algo que, nas últimas décadas, a nulidade do pensamento e do gosto dominantes não soube fazer, com as devidas e honrosíssimas excepções que, já agora, assinalo aqui com imenso gosto: Eugénio Lisboa, António Cândido Franco, poucos mais.