ilustração de Bernardo Marques |
*Tão perto da quinta onde lhe decorrera a infância, asilo de freiras, os dois sexos divididos por uma cerca. O Sábio impreca a má sorte de terem mudado a cadeia do centro da vila, onde a esmola caía com facilidade e o movimento era distracção. Fala, e não se cala: «O homem continuava a sorrir, um sorriso misto, vindo do passado e do futuro, do que ele já havia dito e do que se preparava para dizer»; mas Januário recolhe-se, à cabeça vêm-lhe os amigos da infância, Manecas, Chico, Jalecas, e é transportado à recordação inocente de Clarinda, pequena como ele, mirando-o e desinquietando-o por detrás da cerca.
*À pergunta do homenzarrão, querendo saber se ele estava ali por morte de homem, Januário não responde. Repete-se a pergunta e Januário continua calado. A realidade de presidiário parece incompatível com aquelas memórias de infância, as brincadeiras que se associa irresistivelmente às de Ferreira de Castro, na Ossela natal -- certamente por si evocadas noutro tipo de prisão, durante a adolescência: o cárcere verde da floresta amazónica, onde, num período de cerca de quatro anos, entrou menino e saiu homem