Showing posts with label Bernardo Marques. Show all posts
Showing posts with label Bernardo Marques. Show all posts

Wednesday, December 11, 2024

dos romances

«Mas a lâmpada de bolso, de alguém ainda sentado numa das popas, estoqueou de repente a obscuridade, abrindo um caminho de luz, estreito e oscilante, na terra que trepava do rio para a floresta, gretada na parte alta, que mal se via.» O Instinto Supremo (1968)

«Juvenal Gonçalves já o surpreendera, assim, de outras vezes.  Mas nunca, como agora, o emocionara tanto, fazendo-o reviver a sensação que deviam ter fruído, outrora, os descobridores, ao ver surgir o arquipélago. Até então, o Atlântico ainda era para os portugueses um elemento masculino, fero e enigmático.» Eternidade (1933)

«Os caules nus, quase negros, assimétricos, eram colunas de um templo bárbaro, em cuja cúpula transparente o sol ia tecendo prateada e fantasiosa malha. Por vezes, o tecido incorpóreo esfarrapava-se e descia, em fluidos caprichosos, até os galhos, formando pulseiras, ou até o chão, onde coagulava em jóias bizarras.» Emigrantes (1928)



Capa da 1.ª edição: Bernardo Marques (1933)


Wednesday, October 23, 2024

dos romances

«Ter andado de Herodes para Pilatos, batendo todo o sertão do Ceará no recrutamento dos tabaréus receosos das febres amazonenses e tranquilos sobre o presente, porque há anos não havia secas, e afinal, depois de tanto trabalho, de tantas palavras e canseiras, fugirem-lhe nada menos de três!» A Selva (1930)

«O pinhal, todo de troncos grossos, casca áspera e gretada, adormecia austeramente no silêncio da paz primaveril. As suas pinhas dir-se-iam incopuladas ou corroídas por antídoto malthusianista, pois cá em baixo, no solo castanho e acidentado, nenhum pinheiro infante erguia para o céu os bracitos verdes.» Emigrantes (1928)

I. «Com os remos a chapejarem surdamente, cautelosos como os dos ladrões, nas proas um ruído fino, menor ainda que o dos botos cortando a tona da água, as canoas meteram a terra. A noite tropical, embora de estrelas acesas, mal permitia divisar as sombras que se erguiam dos bancos e, de terçado à cintura, machado ao ombro, desembarcavam umas após outras, todas hesitando sobre onde colocar os pés.» O Instinto Supremo (1968)



Capa da 1.ª edição, por Bernardo Marques (1930)


Friday, March 28, 2014

Um acontecimento editorial: A EXPERIÊNCIA


Durante sessenta anos (desde 1954, data da primeira edição), A Experiência ficou escondida, no mesmo livro, entre a novela A Missão e o conto O Senhor dos Navegantes. A primeira, objecto também de edições à parte -- foi um dos volumes inaugurais da histórica colecção "Livros de Bolso Europa-América", e da própria editora original, a Guimarães, quando escolhido como um dos livros de leitura curriculares do então ensino unificado, na década de 1970. O Senhor dos Navegantes, em tempos gravado e dito por Ferreira de Castro, num disco editado pela Orfeu, em 1998, através da direcção avisada e culta de Vasco Graça Moura e António Mega Ferreira, foi também objecto de uma edição em separado, na colecção da Expo "'98 Mares".
E A Experiência, no meio da boa fortuna das outras duas narrativas, o único romance que integrava o volume A Missão?; essa história incrível de duas crianças de asilo, Januário e Clarinda, evoluindo para a marginalidade como se uma nuvem negra que sobre eles pairasse não lhes oferecesse outra saída?; essa narrativa modelar, moderna na sua estrutura, com vários planos espácio-temporais, mostrando que, como qualquer grande escritor, Ferreira de Castro não queria dormir à sombra dos louros conquistados, procurando superar-se de livro para livro?...
Foi preciso um editor culto, percebendo que tinha em mãos um romance notável, de grande mestria (um dos meus preferidos), para que A Experiência pudesse  sair da obscuridade a que não tinha direito. Sai, infelizmente, num tempo em que o detrito literário domina os escaparates, e o lixo quotidiano nos empesta a vida. Mas, ao contrário do que queria Ferreira de Castro, a grande literatura, aquela que experimenta e questiona, sempre esteve ao alcance de poucos. Podia ser outra coisa? Podia. Mas então Portugal não seria Portugal, mas outra coisa, menos rústica, menos suburbana.
A edição é cuidada, com referências bibliográficas diversificadas. Deixo duas, de conspícuos ensaístas e críticos, ideologicamente nos antípodas (Ferreira de Castro tem esse atributo dos grandes: seja qual for a nossa mundividência, encontramos sempre nos seus livros algo que nos emociona e faz sentido):

Óscar Lopes: «Ferreira de Castro foi o primeiro grande romancista português deste século [XX] que se determinou por problemas objectivos e não apenas por impulsos íntimos.»
e
Pinharanda Gomes: «Todas as situações são pontos limite, agonísticos, neste romance onde as personagens [...] bebem o cálice até à inverosímil agrura e, todavia, tudo é verosímil e, cotejado com a vida, é crível.»

Uma última palavra para Susana Villar, autora das capas dos livros de Ferreira de Castro na Cavalo de Ferro. Num autor que foi visitado pelos maiores capistas, de Stuart Carvalhais a Bernardo Marques, e até pelos maiores pintores, nas edições ilustradas de Portinari a Pomar, o óptimo trabalho de Susana Villar tem feito jus a também a esse legado.



Wednesday, January 02, 2013

Roberto Nobre -- Uma vida por imagens (4)

imagem daqui
1. O Algarve, que no século XIX tivera João de Deus (São Bartolomeu de Messines, 1830 / Lisboa, 1896) como poeta laureado e nos alvores da centúria seguinte veria despontar o esteticismo ainda hoje inultrapassado de Manuel Teixeira-Gomes (Portimão, 1860 / Bejaia, 1941) -- um dos autores preferidos de Nobre que lhe ilustrou «Uma copejada de atum» nas páginas da Seara Nova (2) -- repartia-se pela presença suave de poetas como Bernardo de Passos (São Brás de Alportel, 1876 / Faro, 1930) e João Lúcio, (Olhão, 1880-1918) e uma nova e trepidante geração que em Faro, em 1916, nas páginas do Heraldo, respondia ao desafio de Orpheu, antecipando o Portugal Futurista na designação marinéttica. Carlos Porfírio (Faro, 1895-1970) e Mário Lyster Franco (Faro, 1902-1984) coordenavam e publicavam nessa página, conseguindo colaboração de Fernando Pessoa, Almada Negreiros e (neste caso, póstuma) de Mário de Sá-Carneiro (3). José Dias Sancho (São Brás de Alportel, 1898 / Faro, 1929) e Bernardo Marques (Silves, 1899 / Lisboa, 1962) viriam engrossar essa fileira de rebeldia estética, em que marcavam também posição ideológica Julião Quintinha (Silves, 1885 / Lisboa, 1968), da geração anterior, e Assis Esperança (Faro, 1892 / Lisboa, 1975). (Não sejamos injustos a ponto de esquecermos o lacobrigense Júlio Dantas (Lagos, 1876 / Lisboa, 1962), eminência parda da cultura portuguesa do século XX, pelo peso institucional que alcançou, como pelas resistências que suscitou e de que o célebre Manifesto  de Almada é apenas a ponta do iceberg. Teve, aliás, como antecessor na presidência da Academia das Ciências o também algarvio Coelho de Carvalho (Tavira, 1855 / Arade, 1934).

(1) Ferreira de Castro e Roberto Nobre, Correspondência (1922-1969), introdução, leitura e notas de Ricardo António Alves, Lisboa, Editorial Notícias e Câmara Municipal de Sintra, 1994, p. 13.
(2) Ver António Ventura, O Imaginário Seareiro -- Ilustrações e Ilustradores da Revista Seara Nova (1921-1927), Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1989, p.p. 105-106.

in Roberto Nobre (1903-2003), São Brás de Alportel, Câmara Municipal, 2003.

Sunday, July 18, 2010

A Nova Geração: mais um presente da T

Grande parte dos companheiros de Ferreira de Castro, na década de 1920, está aqui. A ausência de Jaime Brasil é talvez a mais notória (também não me chocaria ver aqui Tomás Ribeiro Colaço, por exemplo); Roberto Nobre, nascido em 1903, era o mais novo e estaria ainda no Algarve. E faltam as mulheres: Fernanda de Castro, Judite Teixeira, Maria Archer...
Obrigado,T http://diasquevoam.blogspot.com/2010/07/nova-geracao.html (o Google Chrome enlouquece-me!), mais uma vez.

Saturday, June 06, 2009

... ESTA NECESSIDADE DE PERMANENTE ASSISTÊNCIA AFECTIVA... [A correspondência entre Ferreira de Castro e Roberto Nobre] (2)

Houvesse ou não Assis, o encontro entre ambos teria forçosamente de dar-se, não só pela pequenez do meio lisboeta, como pelo relacionamento, mais ou menos intenso -- como este epistolário demonstra -- de Castro com a colónia de autores algarvios na capital (Dantas à parte, é claro): Bernardo Marques, Carlos Porfírio, Eduardo Frias, José Dias Sancho (tio de Nobre), Julião Quintinha ou Mário Lyster-Franco.
in Ferreira de Castro e Roberto Nobre, Correspondência (1922-1969), Lisboa, Editorial Notícias e Câmara Municipal de Sintra, 1994, p. 8.
(continua)

Wednesday, October 08, 2008

TERRA FRIA por Bernardo Marques

ilustração de Bernardo Marques para Terra Fria
edição comemorativa dos 50 Anos de Vida Literária, 1966
Lisboa, Guimarães Editores, 1966

Sunday, November 19, 2006

Saturday, August 26, 2006

Sunday, April 30, 2006

Ir estando

Um blogue para ir estando com o autor de A Selva.