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Saturday, February 02, 2013

Raul Proença, Ferreira de Castro e o Guia de Portugal (4)

capa de Leal da Cãmara
O tom idealista idealista deste enunciado, com a marca distintiva do estilo de Proença, é modelado pelo impulso ético, cívico e pedagógico que caracterizou a acção de grande parte dos seareiros nos anos de chumbo que se seguiram, com a ditadura militar e a institucionalização do Estado Novo. Escrevendo sobre «A crise nacional», no n.º 5, Cortesão -- uma das grandes figuras do século XX português - esclarece os mais cépticos em face de eventuais ambições políticas e desengana aqueles que vêem na Seara os desígnios de meia dúzia de utópicos, alienados da realidade. Para Cortesão e os seus companheiros, o programa da Seara Nova é um imperativo de cidadania, uma proposta que lançam à opinião pública esclarecida, a esta cabendo adoptá-la e adaptá-la -- ou não: «Os homens que dirigem a Seara Nova, nunca será demasiado repeti-lo, não pretendem o mando, nem se movem por ambições políticas pessoais. Todos eles sacrificam às angústias do presente as suas predilecções de trabalhadores do espírito. Querem, quando menos, salvar a tranquilidade das suas consciências.» (2)

(2) Ibidem, p. 105.

Castriana -- Estudos Sobre Ferreira de Castro e a Sua Geração #2, Ossela, 2004.

Thursday, January 17, 2013

incidentais # 15 -- revoluções, chuva, mais remoques de ontem & de hoje

(sobre o capítulo I de O Intervalo)

*incipit: «As derradeiras notícias tivemo-las às dez da manhã.»

* Uma homenagem (já por 1936) às gerações de anarquistas, anarco-sindicalistas e sindicalistas revolucionárias, a que ele pertenceu, e que atravessariam uma noite ainda mais cruel, porque mais solitária. (1)  A acção decorre no período da Ditadura Militar e da II República espanhola.


*Alexandre Novais, "o Século XX", operário (torneiro-mecânico), antigo secretário da CGT, marcado pela policia; também alter ego de Ferreira de Castro, como já escrevi. Para já, em primeiro capítulo, uma coincidência de idades e uma viuvez partilhada (em circunstâncias diferentes, embora).

*Fiasco grevista, unidade na acção entre anarco-sindicalistas e comunistas (o que historicamente sucedeu, todavia com desentendimentos graves) («Mas os políticos é que me estão cá atravessados! Eu bem dizia que isto de políticos não dava nada!...», vocifera o militante Francisco Soares, pela "traição" dos políticos e contra o sai-não-sai dos militares -- militares, que levaram 48 anos a fingir que saíam dos quartéis...

*No rescaldo da derrota, Novais e alguns companheiros estão refugiados na habitação do companheiro Francisco Soares  um ambiente opressivo num tugúrio operário -- descrito com a segurança de meia dúzia de pinceladas (como se está longe da exasperante minúcia naturalista das habitações dos bairros operários, à Abel Botelho...).

* O cinzento do céu, a chuva miudinha que dá cabo dos nervos perpassa por todo o capítulo, acentuando a angústia do momento de incerteza por que passam aqueles insurrectos: «[...] a chuvinha persistia, escurecendo o dia, agarrando-se aos sentimentos, tornando tudo viscoso.» /
«Até admiti ser devido à chuva, sobretudo à opressora luz soturna que ela criava à nossa volta, o aumento da minha turbação cada vez mais expectante.» ("Toda a natureza é escrava da luz", dirá ele numa entrevista a Álvaro Salema, em 1973...)

* Procurado pela polícia como um dos principais dirigente grevistas, é impedido por um companheiro de, em desespero, dirigir-se à morgue, onde jaz Maria, sua companheira, atingida pela polícia: «Tu não te pertences!», dizia-lhe Leontino, pequeno funcionário público:  e o protagonista, que assume em O Intervalo o papel de narrador, examina-se intimamente: «Não nos pertencíamos a nós, mas ao nosso ideal, aos espoliados, à Humanidade que sofria, à criação dum mundo novo, onde a justiça estivesse de pé, a colmeia vivesse em igualdade e o amor aplainasse a obra feita, durante um ror de séculos, por um construtor de abismos.»

* O Intervalo esteve para intitular-se  -- revelou Jaime Brasil nos anos quarenta-- «Luta de Classes», e ainda bem que não vingou, não faria jus à grandeza literária do autor. Mas eu percebo Brasil: anarquista escaldado e de couraça dura, queria mostrar aos polícias que teorizavam o neo-realismo que não haviam sido eles a descobrir a pólvora. Conhecendo bem o seu esquema mental, deveria estar avisado sobre a forma como encaravam a História e a verdade dos factos: simples pormenores que se apagam ou manipulam conforme as conveniências da acção...

(1) Nem de propósito, acabo de ler:
«O anarquismo foi objecto duma implacável repressão nas primeiras décvadas do séc. XX. Ao longo dos anos 20 e 30, milhares de anarquistas ou de supostos tais foram presos, deportados para sítios inóspitos, morto. Essa repressão fez-se com pretextos diversos -- vagas de atentados da legião vermelha e até da camioneta fantasma, o 3 de Fevereiro no Porto e em Lisboa, a revolta da Madeira, o encerramento dos sindicatos livres e o 18 de Janeiro de 1934, o atentado a Salazar, etc. / [...] / Evidentemente que isso não poderia deixar de ter fortes reflexos na actividade anarquista que ficou reduzida à sua expressão mínima, com um Comité Confederal clandestino que só muito esporadicamente reunia, e sem capacidade para publicar de forma continuada e regular jornais de propaganda.»  José Hipólito dos Santos, «A participação de libertários em movimentos para derrubar a ditadura salazarista», A Batalha # 252, Lisboa, Nov.-Dez. 2012, p. 3.

Wednesday, November 28, 2012

Recordar Rocha Martins (4)

Politicamente um monárquico liberal, não se eximiu a colaborar no jornal anarco-sindicalista A Batalha, como -- após um inicial bom acolhimento à Ditadura Militar -- a juntar-se às hostes da Oposição, essencialmente republicana, após verificar a natureza autoritária do Estado Novo, contrária ao seu liberalismo de princípio. Ficou para a posteridade o pregão dos ardinas lisboetas, anunciando o República, cada vez que incluía prosa sua: «Fala o Rocha! [O Salazar está à brocha*]».

*falta no original