Friday, May 26, 2006

Entrevista a A. Lopes de Oliveira (5)

-- Usa estimulantes para escrever?
Ferreira de Castro sorveu um gole de café e depois de avivar o cigarro que pendia dos lábios, respondeu-nos:
-- Sim. Café e cigarros.
-- Prefere o campo para o seu trabalho?
-- Sim, sempre o Campo. Mas, infelizmente, é quase sempre na Cidade que construo o trabalho.
-- Prefere poesia ou prosa?
-- Gosto das duas coisas. Para eu escrever, o romance; para eu ler, a filosofia.
-- Já alguma vez escreveu para o teatro?
-- Quando tinha vinte anos fiz algumas tentativas para esse fim, mas depois desisti disso.
Foi com estas palavras que a conversa se encerrou.
Eram 6 horas da tarde: tinha chegado o momento para Ferreira de Castro realizar o seu trabalho quotidiano. Puxou pelo relógio, viu a hora e disse-nos:
-- Tenha paciência, vou a o meu trabalhinho. É o meu pão-nosso de cada dia.
Apertou-nos a mão e seguiu lentamente a Avenida da Liberdade.

A. Lopes de Oliveira, Como Trabalham os Nossos Escritores, Lisboa, Editorial Proença, 1950

Autores entrevistados: Acúrcio Pereira, Amadeu de Freitas, Assis Esperança, Aurora Jardim, Correia Marques, Eduardo Schwalbach, Ferreira de Castro, Guedes de Amorim, Hernâni Cidade, Hugo Rocha, Joaquim Paço d'Arcos, Luís de Oliveira Guimarães, Gustavo de Matos Sequeira, Moreira das Neves, Mota Júnior, Natércia Freire, Norberto Lopes, Ramada Curto, Ribeiro Couto e Virgínia Vitorino.

Thursday, May 25, 2006

108

José Maria Ferreira de Castro nasceu nesta casa, propriedade dos patrões dos seus pais, faz hoje 108 anos.

O ano de 1898 (1)

A 24 de Maio de 1898, no lugar dos Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis e distrito de Aveiro, nasce José Maria Ferreira de Castro, primeiro filho de José Eustáquio Ferreira de Castro e Maria Rosa Soares de Castro, camponeses.
«Para mim, a aldeia em que nasci não é apenas a infância que nela me decorreu, incompreendida e triste, é também a poesia que já então lhe captava, a poesia que ela tinha, mais tarde inflamada por aquela de que eu mesmo a impregnei. Poesia que tantas vezes me tira a lembrança dos dias infantis, para recordar apenas o encanto da Natureza, que eu não consegui evocar, lá longe, nas ardentes paragens do exílio, sem fervor e sem desespero.»
«A aldeia nativa», Os Fragmentos, 2.ª ed., Lisboa, Guimarães & C.ª [1974], p. 46.

Entrevista a A. Lopes de Oliveira (4)

-- Possui ficheiro?
-- Não. Não possuo.
-- Tem método no trabalho?
-- Tanto quanto possível. O trabalho intelectual, como sabe, não pode ser feito com a rigidez de outros trabalhos.
-- Escreve à máquina?
-- Não. À mão. Mando dactilografar e depois revejo. Em seguida, torno a corrigir duas, três e mais vezes.
-- Claro que fica a forma definitiva?
-- Nalgumas páginas, sim. Mas em muitas outras ocasiões essas provas são ainda corrigidas.
(continua)
A. Lopes de Oliveira, Como Trabalham os Nossos Escritores, Lisboa, Editorial Proença, 1950

Wednesday, May 24, 2006

Notícia antiga

Ainda não me habituei a este blogue temático. Por isso só hoje noticio o que teria sido oportuno há uns dias atrás: no passado sábado, dia 20, o Prof. Luís Manuel de Araújo, pioneiro da egiptologia em Portugal e seu nome mais destacado, esteve no Museu Ferreira de Castro, no âmbito das «Conferências no Museu», para falar da forma como o escritor viu e sentiu o país dos faraós. De três textos possíveis, dois canónicos e um da chamada «primeira fase» (pré-Emigrantes), o egiptólogo abordou uma noveleta publicada na revista ABC no último trimestre de 1923, folhetim intitulado «A Vingança do Pharaó», contemporâneo do achado de Howard Carter, texto desconhecido da generalidade dos leitores; seguiu-se a análise do ensaio d'As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-1963) no que respeita aos testemunhos egípcios. Por falar, e guardado para posterior artigo, ficaram as notas de viagem de Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-1938).
Entre um e outro texto, do folhetim eivado de egiptomania da juventude ao sereno percurso pelas maravilhas artísticas do país do Nilo, medeiam cerca de quarenta anos. Ter lá estado fez toda a diferença.

Tuesday, May 23, 2006

Entrevista a A. Lopes de Oliveira (3)

-- Qualquer hora lhe serve para trabalhar?
-- Não senhor. Em geral trabalho de manhã, até à hora do almoço. E, de tarde, das 17 ou 18 horas até ao jantar.
-- Mas prefere trabalhar a determinada hora?
-- Sim. Coisas de especulação intelectual prefiro fazê-las de manhã. Coisas quentes, como direi, sensuais, de tarde. Porque de tarde há mais voluptuosidade.
-- Por vezes não se sente incapacitado para o trabalho intelectual?
-- Muitas vezes se não se está incapacitado, não se está em estado propício.
(continua)
A. Lopes de Oliveira, Como Trabalham os Nossos Escritores, Lisboa, Editorial Proença, 1950.

Monday, May 22, 2006

Entrevista a A. Lopes de Oliveira (2)

-- Como trabalha?
A resposta não se fez esperar. Ferreira de Castro poisou a chávena de café e, tirando uma longa fumaça, disse-nos:
-- Gosto de trabalhar num ambiente de pura tranquilidade, porque assim posso mergulhar melhor no trabalho que realizo.
E acrescentou, num desabafo natural:
-- Ambicionava trabalhar à sombra duma frondosa árvore amiga, num sítio solitário, longe dos bulícios. Mas, impossível!
Ferreira de Castro acrescenta ainda:
-- E integro-me de tal forma no trabalho que estou a viver, que me esqueço de tudo e de todos.
E, a propósito, contou-nos um dos mais curiosos pormenores da sua vida laboriosa:
-- Uma vez estava a trabalhar num hotel em Nova-Iorque. De súbito, desenrolou-se uma horrível tragédia, um incêndio, cujas labaredas lambiam sofregamente parte do edifício. Minha mulher que estava num quarto ao lado assustou-se e chamou por mim, e disse-me aflitivamente o que se passava. Embora ela falasse comigo muito a sério, eu respondi-lhe automaticamente. Foi necessário ela repetir que havia um incêndio para eu despertar do meu alheamento.
(continua)
A. Lopes de Oliveira, Como Trabalham os Nossos Escritores, Lisboa, Editorial Proença, 1950.

Sunday, May 21, 2006

Entrevista a A. Lopes de Oliveira (1)

Na «Pastelaria Veneza», à Avenida da Liberdade, costumam reunir-se alguns homens de letras e jornalistas. Entre eles avulta Ferreira de Castro -- o escritor português cujos romances estão dando a volta ao Mundo.
Quem veja a figura desafectada de Ferreira de Castro, não adivinhará, por certo, que ela oculta na sua modéstia, simpática e afectuosa, um prosador de garra e um novelista de renome, já hoje, universal.
Pois foi ali, na «Veneza», que nós, naquela tarde, encontrámos o escritor. Nesse dia, estava sozinho, tirando longas fumaças do seu cigarro, com o olhar perdido -- quem sabe? -- nas recordações da floresta amazónica.
Sentámo-nos, junto dele, e conseguimos distraí-lo e trazê-lo às realidades da vida europeia.
Ferreira de Castro evocou-nos alguns episódios da sua aventurosa vida, através do mundo, e, foi depois disto, que a entrevista surgiu naturalmente, como a propósito da conversa que ele mesmo trouxera à baila.
Perguntámos-lhe então:
(continua)
Como Trabalham os Nossos Escritores, Lisboa, Editorial Proença, 1950

Na esplanada da «Veneza»

Ferreira de Castro e Roberto Nobre
Avenida da Liberdade, Lisboa
(foto s. d., anos 30)

Tuesday, May 09, 2006

Saturday, May 06, 2006

Imigrantes portugueses no Rio de Janeiro
emigrantes italianos a bordo
Emigrantes húngaros, 1920

Wednesday, May 03, 2006

Uma capa de Stuart

Emigrantes, 1.ª edição
Lisboa, Livraria Renascença, 1928