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Wednesday, December 30, 2015

H de Hevea brasiliensis - para um Dicionário de Ferreira de Castro

Hevea brasiliensis, árvore-da-borracha, seringueira, espécie originária da bacia do Amazonas, de onde se extrai o látex, matéria-prima para a produção de borracha e outros produtos derivados. A exploração intensa começa ainda na primeira metade do século XIX, originando, pela exclusividade brasileira da sua produção, um enorme fluxo de capitais, de que são exemplos as peças arquitectónicas que distinguem as principais cidades da região: Belém do Pará e Manaus, cuja Ópera é mundialmente famosa. Por ocasião da viagem planetária que efectuou em 1939, Castro terá oportunidade de confraternizar e fazer-se fotografar por esses seringueiros asiáticos, que com ele e com os sertanejos brasileiros fugidos da seca, se irmanaram no duro trabalho extractivo.
Brasil é o principal produtor mundial, embora já desde há muito não detenha o exclusivo da produção. No último quartel de Oitocentos, os ingleses promoveram plantações da seringueira nas colónias do Sudeste Asiático, estabelecendo-se uma concorrência que originaria a queda dos preços e consequente crise económica, cujos efeitos o jovem Ferreira de Castro sentirá na pele. Na pele e no espírito, pois a experiência amazónica do futuro escritor terá como maior fruto essa obra maior que é A Selva.
(a desenvolver)   

Tuesday, December 02, 2014

Saturday, December 29, 2012

«Um medo frio» -- Breve nota sobre a memorialística castriana (4)

Ferreira de castro proveio duma família de camponeses de Ossela. Órfão de pai aos seis anos, aos doze partiria, só, para o Brasil, onde trabalharia num seringal da Amazónia, no meio dos retirantes esfomeados -- que tinham na extracção da borracha a alternativa às suas vidas secas do Ceará e do Maranhão --, entre os capatazes, os jagunços, os ex-escravos, o pavor das feras e o temor dos índios, o inferno verde... No meio desta fauna, ainda encontrou quem lhe desse que ler: jornais, charadismo, um que outro livro, por vezes de Coelho Neto; ensimesmado, teve ocasião de escrever um romancinho intitulado «O Amor de Simão», editado por si pouco depois em Belém, já com o nome definito de Criminoso por Ambição. Aos dezassete anos, fazia biscates colando cartazes na capital do Pará; se tivesse sorte podia não dormir ao relento; se o estômago estivesse composto e o peso do desespero não fosse avassalador, podia frequentar Camilo e Eça, Balzac e Zola na biblioteca pública da cidade, anotando numa agenda de bolso máximas que o impressionaram, fazendo exercícios de estilo e lembretes importantes para o escritor que ele teria forçosamente de ser. E se por essa altura ainda trabalhou como embarcadiço num navio que fazia a carreira do Oiapoque, entre Belém e Caiena -- lavando o convés e sabe-se lá mais o quê -, dois anos mais tarde, em 1917 estava como co-director dum semanário destinado à comunidade lusa, o Portugal, cuja influência permitu editar um (então) tradicional e volumoso Almanaque.

Sol XXI # 38/39, Carcavelos, 2003

(foto)


Monday, December 28, 2009

Viajar com Ferreira de Castro (2)

Assim se explica que, lançado na torrente migratória, de cá para lá, fosse , mais propriamente na Amazónia, onde rareavam os livros, que Castro escreveu uma noveleta intitulada Criminoso por Ambição, vindo a editá-la em fascículos em 1916, em Belém. Foi na biblioteca pública dessa cidade que aproveitou os intervalos dos biscates incertos para se educar a si próprio, lendo, lendo muito, autores portugueses, brasileiros, traduções de Balzac, Hugo ou Zola e um sem-número de livros de filosofia, política, sociologia.
Viajar com Ferreira de Castro, Porto, Edições Caixotim e Delegação Regional da Cultura do Norte, s.d., p. 1.

Sunday, November 15, 2009

correspondências - ao presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis

Ferreira de Castro
Rua Misericórdia, 68
Lisboa
29 Setembro 1973
Exmo Sr. Dr. Leopoldo Soares dos Reis, ilustre presidente da Câmara de Municipal de
Oliveira de Azeméis
Quando, na minha adolescência, eu tinha uma grande sede de cultura e nenhuns recursos materiais para adquirir livros, a Biblioteca Pública de Belém do Pará foi-me imensamente útil.
Centenário do Nascimento de Ferreira de Castro, edição de Pedro Calheiros, Aveiro, Câmara Municipal, 1998, p. 23.

Tuesday, June 02, 2009

O jovem Ferreira de Castro - CRIMINOSO POR AMBIÇÃO (1916)

Caros leitores
Amaveis leitoras
Por um preço excessivamente módico, impressão nítida e papel regular, temos a subida honra de apresentar-vos em fasciculos de 20 paginas o sensacional romance criminoso por ambição, trabalho do escriptor Ferreira de Castro.
Ferreira de Castro, Criminoso por Ambição, [Belém do Pará] Empreza Editora, 1916.

Tuesday, March 17, 2009

Viajar com Ferreira de Castro (1)

Ferreira de Castro -- O triunfo de uma vocação
Tivesse ou não emigrado para o Brasil, ainda criança e sozinho, Ferreira de Castro seria sempre escritor. Foi essa a sua convicção e é também a nossa. Um escritor diferente, por certo, sem as marcas fortíssimas da infância tornada rapidamente maturidade pela vivência imposta pelo seringal amazónico, pelos homens que aí viviam e por uma Belém do Pará em crise, mas ainda com os restos do fausto trazido pela exploração da borracha no início do século XX. A verdade é que quando o pequeno Zeca passava à porta do jornal local ou folheava O Comércio do Porto, sentia o secreto apelo da escrita como algo a que ele já estaria condenado.
Ricardo António Alves, Viajar com Ferreira de Castro, Porto, Edições Caixotim / Ministério da Cultura, [2004], p. 1.

Thursday, December 25, 2008

Ferreira de Castro e Reinaldo Ferreira -- Nota sobre a viagem do Repórter X à Rússia (1)


Publicado em Vária Escrita, n.º 5, Sintra, Câmara Municipal, 1998

Está por fazer o estudo sistemático da actividade jornalística de Ferreira de Castro (1898-1974), iniciada no Brasil em 1915, no Jornal dos Novos, de Belém do Pará, retomada em Lisboa, quando fundou O Luso (1920), e terminada n'O Século em 1934, com um remate final como director de O Diabo, entre 8 de Setembro e 10 de Novembro do ano seguinte. Pelo meio, entre as dezenas de títulos em que colaborou, deve registar-se a importante experiência do semanário Portugal (1917-1919), destinado à comunidade portuguesa de Belém, de que foi co-director; A Batalha, órgão sindicalista da Confederação Geral do Trabalho, dirigido por Alexandre Vieira (1884-1973) e o quinzenário Renovação, também da C.G.T., com Pinto Quartim (1887-1970) na direcção; as revistas ABC, de Rocha Martins (1879-1952), e Civilização, que com Campos Monteiro (1876-1934) lançou e dirigiu entre 1928 e 1930.

Wednesday, November 26, 2008

Ferreira de Castro na "Cidade de Lilipute" (1)

Apresentação do capítulo sobre a China de A Volta ao Mundo, publicado em Macau pela Câmara Municipal das Ilhas, Taipa, 1998 -- ano do centenário do nascimento do escritor. (Existe edição em cantonês, com tradução de Chau Heng Chon)
No romance português, há um antes e um depois de Ferreira de Castro (1898-1974). Este escritor autodidacta, de origens camponesas humildes, nascido no litoral centro[-norte] de Portugal, emigrado aos doze anos incompletos, só, para o Brasil, onde trabalhou num seringal, em plena Amazónia (1911-1914), e depois como afixador de cartazes, marinheiro e, por fim, jornalista, em Belém do Pará, em cuja biblioteca leu avidamente Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, Balzac e Zola, Nietzsche e Gorki; o literato que após o regresso ao seu país continuou no jornalismo, apenas como meio de sustento que lhe possibilitasse escrever os seus primeiros livros; o jovem Ferreira de Castro, aos trinta anos, com o livro Emigrantes (1028), mudou o rumo da ficção narrativa portuguesa, passando a ser uma das figuras de proa -- ou a figura de proa -- entre os finais dos anos vinte e a primeira metade da década de cinquenta.
(continua)

Wednesday, July 09, 2008

O Museu Ferreira de Castro (3)

2. NO BRASIL - Da selva amazónica a Belém do Pará (1911-1919)

Devo-lhes [aos brasileiros] muito. Com eles aprendi a amar a humanidade.»FERREIRA DE CASTRO, entrevista ao Diário Popular (1966)

Relata a época em que Ferreira de Castro viveu no seringal ironicamente chamado «Paraíso», na Amazónia, onde escreveu o primeiro romance, Criminoso por Ambição, vivência que mais tarde se repercutiria em A Selva.
Embora trabalhasse como caixeiro num armazém, marcou-o fortemente a convivência com os seringueiros cearenses e paraenses, vítimas da adversidade do meio e da exploração praticada pelos proprietários das plantações.
Deixou o seringal em Outubro de 1914, tendo passado por enormes dificuldades. Nos intervalos de expedientes como a colagem de cartazes ou o trabalho num navio que fazia a cabotagem do Oiapoque, lia avidamente os clássicos na Biblioteca Pública de Belém.
A partir de 1915 dedicou-se ao jornalismo, tornando-se mais tarde profissional, publicando no ano seguinte os seus primeiros livros, Criminoso por Ambição e Alma Lusitana.