Wednesday, November 17, 2010

Cinco Centenários (2). [excerto de carta de José Bacelar]

Lisboa, 24 de Julho de 1935
S/C, R. Latino Coelho, 45, 3.º

          Exmo. Snr. Ferreira de Castro

     Venho muito comovidamente agradecer-lhe as suas palavras tão bondosas e tão fraternais, as suas palavras tanto mais tocantes para mim quanto é certo que elas vêm do escritor que mais largo êxito tem tido no nosso país -- porque o teve também no resto do mundo.
     É uma tendência -- demasiadamente humana -- de todo o escritor de sucesso o sobrelevar o espírito crítico da massa dos leitores, o considerar o «meio» onde ele produz menos mau do que na realidade ele é. Não é porém assim o romancista Ferreira de Castro, e isto dá bem a medida da categoria do seu espírito, porque uma das mais nobres qualidades do artista -- e talvez também do homem -- é, não é verdade? a insatisfação. O «meio» é triste, de facto. Assim, já de antemão eu estava preparado e resignado -- dados o fraco mérito e o género um pouco especial do meu pequeno livro à indiferença e ao silêncio da crítica oficial.

Vária Escrita #7, Sintra, Câmara Municipal, 2000.

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