Está aqui, amor, a tua novela. Durante quase dois anos fugi, covarde, perante uma dor maior, de seleccionar os teus papéis, os papéis que as tuas mãos e os teus olhos acariciaram e que foram do muito pouco que pedi para se salvar do naufrágio da nossa vida. Mas, há meses, numa lívida antemanhã de hospital, arrependi-me de não ter enfrentado a nova dor, lacerando mais uma vez o pobre coração. A morte, que, desde há dias, estava estendida ao meu lado, parecia-me, finalmente, resolvida a levar-me também. Eu, de certa maneira, não a temia; desde que ela te arrebatou ao meu carinho, que importava que me cerrasse também a mim, e para sempre, os olhos?Sunday, July 26, 2009
Outras palavras - A DIANA DE LIZ (1932)
Está aqui, amor, a tua novela. Durante quase dois anos fugi, covarde, perante uma dor maior, de seleccionar os teus papéis, os papéis que as tuas mãos e os teus olhos acariciaram e que foram do muito pouco que pedi para se salvar do naufrágio da nossa vida. Mas, há meses, numa lívida antemanhã de hospital, arrependi-me de não ter enfrentado a nova dor, lacerando mais uma vez o pobre coração. A morte, que, desde há dias, estava estendida ao meu lado, parecia-me, finalmente, resolvida a levar-me também. Eu, de certa maneira, não a temia; desde que ela te arrebatou ao meu carinho, que importava que me cerrasse também a mim, e para sempre, os olhos?Saturday, July 25, 2009
História e memória: uma leitura de Os Fragmentos (2)
A desatenção que o público manifestou e continua a manifestar para com este último conjunto de textos de Ferreira de Castro -- embora compreensível porque o livro se publicou nesse ano de exaltações e outras urgências do 25 de Abril -- não deixa de ser lastimável, pois estamos perante um legado testemunhal de inequívoca importância e valor de alguém que atravessou grande parte do século XX e marcou duma forma indelével a literatura portuguesa do seu tempo.Tuesday, July 21, 2009
Gloria In Excelsis -- Histórias Portuguesas de Natal
Gloria In Excelsis -- Histórias Portuguesas de Natal, apresentação e selecção de Vasco Graça Moura, Lisboa, Público - Colecção Mil Folhas, Dezembro de 2003.Saturday, July 18, 2009
outras palavras - Jaime Brasil, CARTA PARTICULAR (1950)
Muita saúde!
Recebi, há meses, uma carta, assinada por uma tal Maria Agustina, a enviar-me um livro. Respondi-lhe. Voltou a escrever-me, dizendo alguns dislates. Retorqui no tom conveniente. Trocámos, assim, uma dezena de cartas. A resposta à minha última não veio pela via habitual da correspondência privada. Veio pela via pública.* Por isso, de mistura com a poeira do caminho, trazia alguns salpicos de lama.
* Bessa Luís, Os Super-Homens e "Os Orelhas Compridas" -- A Propósito do Diálogo Bessa Luís -- Jaime Brasil, Porto, edição da Autora, 1950. Brasil responde a este folheto, que terá réplica de Bessa Luís, Dissecação a um ex-Crítico de Arte, Porto, edição da Autora, 1950.
Carta Particular (com Vistas à Opinião Pública) Dirigida por Jaime Brasil ao Autor das "Orelhas Compridas", Porto, edição do Autor, 1950, p. 5.
Sunday, July 12, 2009
Literatura, Artes e Identidade Nacional -- Do Modernismo à Actualidade (2)
Como já tivemos oportunidade de escrever, um romance como Sinais de Fogo (1979) não foi, senão na sociedade livre em que se publicou. O que nos remete para a questão, por vezes irritantemente académica -- tal como o foi a do nosso feudalismo / senhorialismo, tal como o é a do nosso fascismo / autoritarismo --, que consiste no averiguar estatístico da existência, ou não, de obras-primas quedadas na gaveta, mercê de uma censura de meio-século. O crítico solerte, com argúcia de contabilista, deduzirá que muito poucos textos literários -- quase nenhuns --, vindos entretanto a lume, gozarão desse estatuto. Quando a interrogação deveria ser esta: quantos grandes romances, poemas, ensaios deixaram de ser escritos por causa da censura? (2) Houve, contudo, casos singulares, o mais notável dos quais terá sido o de Alexandre Pinheiro Torres, cuja integral produção romanesca até à data (cinco romances, entre A Nau de Quixibá, publicado em 1977, e A Quarta Invasão Francesa, de 1995) conheceu primeiras versões nos anos sessenta. (3) Literatura, Artes e Identidade Nacional -- «Do Modernismo à Actualidade», separata das Actas dos 3.ºs Cursos Internacionais de Verão de Cascais - 1996, Cascais, Câmara Municipal, 1997, pp. 183-184.
(continua)
Saturday, July 11, 2009
testemunhos #5 - Jorge Amado
No Cais de Lisboa, em Janeiro de 1966, amigos brasileiros e portugueses acenavam para o navio espanhol onde havíamos embarcado na Bahia, Zélia, Paloma e eu -- João Jorge fora de avião. Reconheci Odylo Costa, filho, Luiz Henrique Dias Tavares, Álvaro Salema, Fernando Namora, Francisco Lyon de Castro -- o primeiro a subir a escada foi Ferreira de Castro, com a notícia de que poderíamos saltar em Lisboa, a interdição fora suspensa. O grande escritor português, naquele então o principal entre todos os que escrevíamos em língua portuguesa, não podia conter a alegria. Durante todos os longos anos de convivência, de amizade fraterna que nos ligou, Ferreira de Castro sempre foi o arauto de boas novas, mão solidária, palavra acolhedora.Monday, July 06, 2009
«A Selva» dos leitores
Na passada sexta-feira, dia 3, teve lugar no Museu Ferreira de Castro uma sessão do Clube de Leitura, com A Selva como livro do mês.Anotei algumas impressões dos leitores:
1. "sintonia entre o drama das pessoas e o ambiente";
2. "reflexos da História de Portugal no percurso de Alberto";
3. "Ferreira de Castro não era um ingénuo político";
4. "romance difícil de classificar: romance de espaço, romance psicológico, romance de iniciação, romance autobiográfico";
5. "riqueza lexical";
6. "recurso a símbolos gráficos, modernismo";
7."Alberto era um progressista sem o saber";
8. "psicologismo com um cunho freudiano: a selva é um ser vivo; é a mulher";
9. " a selva humana está muito retratada";
10. "um livro de ética, um manual de humanização";
11. "um livro simples e transparente";
12. "influência do simbolismo".
Deixei-me ir na conversa, e não tomei mais notas. Foi pena.
o jovem Ferreira de Castro -- O DRAMA DA SOMBRA [1926]
Aquela mulher era ali, no Estoril elegante, a máxima fascinação, a serpente de olhos verdes de todos os veraneantes masculinos.Saturday, July 04, 2009
Prémio Lemniscata
O blogue O Fio de Ariadne atribuiu o prémio Lemniscata ao blogue Ferreira de Castro “O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."Sobre o significado de LEMNISCATA: “curva geométrica com forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas; Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.Texto da editora de “Pérola da cultura”.Thursday, July 02, 2009
Ferreira de Castro: um escritor no país do medo (2)
ExemplosSobre esta realidade escreveu Jorge de Sena (1919-1978), em 1960, autoexilado num Brasil ainda livre:
(1) Jorge de Sena, «A literatura portuguesa de ficção», Estudos de Literatura Portuguesa, vol. III, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 44.
Taíra -- Revue du Centre de recherche et d'études lusophones et intertropicales, n.º 9, Grenoble, Université Stendhal, 1997, pp. 65-66.










































































