Monday, May 22, 2006

Entrevista a A. Lopes de Oliveira (2)

-- Como trabalha?
A resposta não se fez esperar. Ferreira de Castro poisou a chávena de café e, tirando uma longa fumaça, disse-nos:
-- Gosto de trabalhar num ambiente de pura tranquilidade, porque assim posso mergulhar melhor no trabalho que realizo.
E acrescentou, num desabafo natural:
-- Ambicionava trabalhar à sombra duma frondosa árvore amiga, num sítio solitário, longe dos bulícios. Mas, impossível!
Ferreira de Castro acrescenta ainda:
-- E integro-me de tal forma no trabalho que estou a viver, que me esqueço de tudo e de todos.
E, a propósito, contou-nos um dos mais curiosos pormenores da sua vida laboriosa:
-- Uma vez estava a trabalhar num hotel em Nova-Iorque. De súbito, desenrolou-se uma horrível tragédia, um incêndio, cujas labaredas lambiam sofregamente parte do edifício. Minha mulher que estava num quarto ao lado assustou-se e chamou por mim, e disse-me aflitivamente o que se passava. Embora ela falasse comigo muito a sério, eu respondi-lhe automaticamente. Foi necessário ela repetir que havia um incêndio para eu despertar do meu alheamento.
(continua)
A. Lopes de Oliveira, Como Trabalham os Nossos Escritores, Lisboa, Editorial Proença, 1950.

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