Thursday, December 31, 2009
10 livros que não mudaram a minha vida
Wednesday, December 30, 2009
Monday, December 28, 2009
Viajar com Ferreira de Castro (2)
Assim se explica que, lançado na torrente migratória, de cá para lá, fosse lá, mais propriamente na Amazónia, onde rareavam os livros, que Castro escreveu uma noveleta intitulada Criminoso por Ambição, vindo a editá-la em fascículos em 1916, em Belém. Foi na biblioteca pública dessa cidade que aproveitou os intervalos dos biscates incertos para se educar a si próprio, lendo, lendo muito, autores portugueses, brasileiros, traduções de Balzac, Hugo ou Zola e um sem-número de livros de filosofia, política, sociologia.Monday, December 21, 2009
a aldrabice destas sondagens
Provavelmente estas consultas não estão concebidas para um período tão dilatado. Se fizer outra, será breve.
Obrigado a todos quantos votaram.
Friday, December 18, 2009
castrianas #25 - Mário Dionísio
Do que Ferreira de Castro dá provas com a publicação de A Curva da Estrada não é apenas da sua possibilidade de escrever um grande romance ou da sua fidelidade aos assuntos que profundamente interessam o destino do homem dos nossos dias, mas de uma capacidade de renovação que é, em grande parte, a condição própria do escritor. Pode-se dizer que um escritor começa a sua obra quando encontra um estilo próprio de revelar a sua visão do mundo. Mas, na verdade, ele só consegue a realização completa quando chega a saber desdobrar esse estilo próprio nos mil aspectos que a concretização de tal visão implica. Há talvez um equívoco irremediável naqueles que encontraram um dia um modo determinado, e logo cristalizado, de planear o romance, de dividi-lo em capítulos, de abri-lo, de desenvolvê-lo, de fechá-lo, e passam o resto dos seus dias a remoê-lo partindo de assuntos diferentes -- de pretextos diferentes. A admiração por um escritor, o entusiasmo por um escritor, e, portanto, a vida e a existência de um escritor, provêm em grande parte desse íntimo movimento de surpresa que ele sabe despertar no público e que não é mais no fundo, que a novidade que cada seu novo assunto exige.Mário Dionísio, «A CURVA DA ESTRADA -- Romance por Ferreira de Castro. Edição de Guimarães & C.ª, Lisboa, 1950», Vértice, n.º 89, Coimbra, Janeiro de 1951, pp. 454-457.
Wednesday, December 09, 2009
Para além das ortodoxias: Ferreira de Castro e Francisco Costa
O papel de fundamental de Francisco Costa na doação do espólio de Ferreira de Castro ao Povo de Sintra (ver depoimento em apêndice) foi o melhor remate a um diálogo que se estabelecera cinquenta anos antes, quando o jovem poeta sintrense dava os primeiros passos como autor e o não menos jovem torna-viagem sobrevivia pelos jornais, compensando pela quantidade a exiguidade da remuneração das colaborações. Estreando-se em 1920 com a colectânea de sonetos intitulada Pó, redigidos em grande parte no sanatório onde convalescerá de uma tuberculose pulmonar, Costa registou na sua autobiografia a comovida recepção dispensada pelo «jovem ateu Ferreira de Castro, jornalista aqui e acolá» (3). Desconhecendo essa nota, temos oportunidade de publicar as impressões de Castro a propósito do livro seguinte, Verbo Austero. Não se eximindo a frisar divergências («não é meu mar predilecto»), estas também não impediram o entusiasmo («é inegavelmente um poeta») por quem se reafirmava com um lirismo clássico, mas inquieto, provavelmente mais próximo de si próprio do que julgava, pela «desconformidade e heterodoxia» que -- como no prefácio salientara Fidelino de Figueiredo --, reflectiam a «sensibilidade moderna do poeta. (4) de passagem - Jaime Brasil, SOBRE JORNALISMO (1925 / 2005)
Todas as instituições humanas, desde a religião à prostituição, têm os seus tratadistas e historiógrafos. Só o jornalismo não encontrou ainda quem lhe traçasse a crónica, com saber e método.
* A Batalha -- Suplemento Semanal Ilustrado, n.º 96, Lisboa, 28 de Setembro de 1925.
Jaime Brasil, Sobre Jornalismo, edição de Luís Garcia e Silva, Lisboa, Cadernos d'A Batalha, 2005, p. 7.
Monday, November 30, 2009
Castro no Almanaque Republicano
Uma foto de grupo, publicado no Almanaque Republicano, nos 50 anos de vida literária de Ferreira de Castro.Pensão Suíça, Macieira de Cambra, 1966
Friday, November 27, 2009
Roberto Nobre - Uma vida por imagens (2)
Devo dizer que cheguei a Roberto Nobre através de Ferreira de Castro, que com Assis Esperança [1892-1975] e Jaime Brasil (1896-1966) formaram um núcleo duro de amigos ligados por laços fraternos de mundividêcia comum, de comunhão ideológica e afinidades estéticas. Também por essa razão o autor de A Selva estará tão presente neste opúsculo. Mas não só: a amizade entre ambos foi de tal modo intensa e fraternal que deverei repetir o que escrevi na apresentação da sua Correspondência: «muito do que é obra acabada de ambos adquiriu a forma que eles nos legaram, em parte pela fraternidade pessoal, exemplo ético e discussão estética que um deu ao outro.» (1)Roberto Nobre -- 1903-1069, São Brás de Alportel, Câmara Municipal, 2003, pp. 11-12.
Monday, November 23, 2009
testemunhos #3 - João de Barros
Uma das causas do êxito excepcional da obra de Ferreira de Castro reside, aliás, nessa intercompreensão do escritor e do povo. A grandeza daquela não ofusca, antes atrai, a atenção e o interesse deste. Segredo e sortilégio, que a raros pertencem, mas que em Ferreira de Castro flui, espontâneos e discretos, da mais recôndita e amorável fonte do seu íntimo ser.Friday, November 20, 2009
Um Medo Frio -- Breve nota sobre a memorialística castriana (2)
Ferreira de Castro, sendo um escritor quase com «excesso» de biografia, não tem na sua tábua bibliográfica qualquer livro de memórias. Tentaremos perceber porquê, tanto mais que a escrita memorialística pontuou o seu percurso literário, do princípio ao fim.outras palavras - A NOITE DOS MISERÁVEIS -- COMO SE DORME NO ALBERGUE NOCTURNO (1923)
Àquela hora, na rua deserta, a fachada do Albergue Nocturno de Lisboa tinha uma estranha austeridade e, se não fosse a tabuleta que abrange toda a frontaria arcaica do prédio, dir-se-ia que este era um amplo palácio onde se refugiavam do mundo vários fidalgos perseguidos pelo tédio.[publicado n'O Século, Lisboa, 21 de Janeiro de 1923], in Jacinto Baptista e António Valdemar, Repórteres e Reportagens de Primeira Página -- II 1910-1926, Lisboa, Assembleia da República, s.d., p. 276.
Monday, November 16, 2009
Ferreira de Castro e João Pedro de Andrade (2)
Este relacionamento esteve sempre presente ao longo dos anos, como comprova o espólio do autor de Eternidade. À existência de 19 espécimes de correspondência, entre 1922 e 1964, soma-se um conjunto de cinco livros com dedicatória autógrafa que ficaram na pequena parte da sua biblioteca pessoal destinada a este Museu. São eles: Teatro (1941); O Problema do Romance Português Contemporâneo (1942); Os Melhores Contos Portugueses (1959) -- antologia em que Castro figura com O Senhor dos Navegantes; Raul Brandão; e O Diabo e o Frade (ambos de 1963). De Castro para Andrade, conhecemos, por gentileza dos seus herdeiros e descendentes, a 6. edição de A Lã e a Neve e a 4.ª de A Curva da Estrada (as duas de 1951); a edição «Portinari» de A Selva (1955); e a 1.ª edição de O Instinto Supremo (1968). Entendimento que se traduziu significativamente no facto de João Pedro de Andrade ter sido o autor dos verbetes sobre Ferreira de Castro e A Selva para o importante Dicionário das Literaturas Portuguesa, Brasileira e Galega (1960), dirigido por Jacinto do Prado Coelho. (1)Sunday, November 15, 2009
correspondências - ao presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis
Wednesday, November 04, 2009
Prémio da Latinidade
Monday, November 02, 2009
outras palavras - O TRABALHO (1925)
Saturday, October 31, 2009
Recordar Rocha Martins (2)
Autodidacta, Rocha Martins foi um historiador atípico. Essencialmente divulgador, tendo do passado uma visão eminentemente relacionada com os sucessos biográficos dos «grandes homens», atraído irresistivelmente pelo que de romanesco existe no percurso de uma vida -- daí a propensão para o romance histórico -- nem por isso deixava de bater as fontes, com desenvoltura e particular argúcia, em arquivos públicos e particulares, não dispensando também os contactos com descendentes daqueles que eram objecto da sua atenção.Texto publicado no desdobrável da exposição bibliográfica e documental «Rocha Martins -- 50 Anos Depois (1952-2002)», realizada no Museu Ferreira de Castro, em Maio-Junho de 2002.
Thursday, October 29, 2009
«A cruel indiferença do Universo»: Raul Brandão e Ferreira de Castro (2)
Um dos textos mais interessantes e importantes é consagrado a Raul Brandão. Largamente judicativo, baseia-se nos três títulos emblemáticos que até então tinham vindo a lume: A Farsa (1903), Os Pobres (1906) e o Húmus (1917):(2) Ferreira de Castro, «Raul Brandão», Mas..., Lisboa, 1921, p. 34.
Castriana, n.º 1, Ossela, Centro de Estudos Ferreira de Castro, 2002, pp. 112.
Friday, October 23, 2009
Neo-Realismo: contributo para dificultar um problema (2)
De duas, uma: ou Ferreira de Castro é um escritor neo-realista, talvez não o primeiro, mas o mais consistente romancista que, com Emigrantes, procurou descrever a realidade, denunciando-a e propondo uma alternativa, cerca de uma década antes de Alves Redol, com Gaibéus (1939), ou, caso contrário, Ferreira de Castro não é um escritor neo-realista, sequer precursor.Sunday, October 18, 2009
Os retratos de Castro por Nobre (2)
O autor de Ontem e Hoje com Dom Quixote iniciou vida artística por volta de 1920, como assistente de realização e laboratório de Albert Durot, antigo câmara de Georges Pallu, o realizador de «Os Fidalgos da Casa Mourisca» (1920) , «Amor de Perdição» (1921), «O Primo Basílio» (1922) e um dos responsáveis pelas primeiras tentativas de se estabelecer uma actividade regular de cinema em Portugal. (3) Essa paixão pela 7.ª Arte, levá-lo-ia inclusivamente à realização. (4) Nele coabitavam, porém, múltiplos interesses: artes plásticas (em que foi um dos precursores do neo-realismo pictural português (5)), artes gráficas (o cartoon (6), a publicidade, a ilustração (7), o design de moda (8)) e a escrita.de passagem - Assis Esperança, PÃO INCERTO (1964)
Ao esboçar este seu romance, o autor pretendeu situá-lo no recuado período da dominação romana na Península, algumas das condições de vida nas «villae» rurais: trato e relações entre senhores, colonos e escravos, formas jurídicas da exploração do solo, corrupção de costumes, funções e procedimento dos «magistri» -- os capatazes de hoje -- em paralelo com o progresso moral e material dos nossos dias, muito principalmente no Alentejo e no Algarve. Acto de consciência pelo cotejo dos condicionamentos sócio-económicos de cada época, apreciaria, assim, o que fora, desde há séculos, a valorização da pessoa humana sob a pressão das contigências e retribuição do trabalho mais ou menos escravo, influências deprimentes, se não degradadoras, pela natureza das tarefas a que certas actividades sujeitaram e ainda sujeitam o Indivíduo. Houve, porém, que desistir desse intento por falta de elementos para a reconstituição avaliadora daqueles recuados tempos -- por muito que os rebuscasse na consulta a historiadores, investigadores e arqueólogos de maior crédito, Jerôme Carcopino e Menéndez Pidal (1) entre os de além-fronteiras. Quanto aos do nosso burgo, e sob aquele aspecto, nada mais que alusões. Nem admira. Quem os incita a esses estudos, subvencionado-os, ou subsidia as dispendiosas escavações arqueológicas? E sem arqueologia não há História.Thursday, October 15, 2009
Cinco centenários -- Cartas inéditas de José Bacelar, Fernanda de Castro, Castelo Branco Chaves, José Gomes Ferreira, José Osório de Oliveira e F (1)

Monday, October 12, 2009
clássicos da bibliografia castriana - Jaime Brasil (1961)
Tuesday, October 06, 2009
Rocha Peixoto, OS PUCAREIROS DE OSSELA (1908)
Para fixar a lembrança desta rústica profissão moribunda, uma breve anotação tem seu lugar. Os actuais oleiros empregam dois barros, necessários para a plasticidade e consistência; um buscam-no em Lordelo, freguesia de Vila Chã do Cambra e o outro em Bustelo do Caima, na freguesia de Ossela. Misturados e pisados a maço e em seco numa pia de pedra, peneirados depois e por fim amassados à mão e com a água que baste, está pronta a pasta para ser modelada. A roda, assente e movente sobre o eixo do trabul, é a mesma, em configuração e dimensões, que se encontra nos arredores de Amarante e Baião (Portugalia, II, 75). Com o fanadouro (Id., 76) alisam as superfícies. E uma vez secas as loiças, a cocção efectua-se em covas (Id., 76 e fig. 5), e caruma, e abafando-se a fornada com terra antes de se levantar definitivamente o vasilhame. Sunday, October 04, 2009
testemunhos #7 - Manuel Pinto Ferreira de Sousa
Monday, September 28, 2009
de passagem - Assis Esperança, TRINTA DINHEIROS (1958)
Thursday, September 24, 2009
de passagem - Jaime Brasil, LEONARDO DA VINCI E O SEU TEMPO (1959)
Sunday, September 20, 2009
Ribeiro Couto,SENTIMENTO LUSITANO (1963)
Tuesday, September 15, 2009
Alexandre Cabral: Camilo, mas também Ferreira de Castro (2)
O escritor de Contos da Europa e da África afirmou-se como reputado e indispensável especialista na obra de Camilo Castelo Branco ao longo de mais de trinta anos de trabalho. No ensaio, na recolha e na publicação de dispersos e inéditos, no pesquisar rigoroso de historiador, vectores dum labor que teve a mais eloquente culminância no Dicionário de Camilo Castelo Branco (1989), obra que honra a literatura portuguesa, contribuindo para definitivamente para impor (mais do que firmar), junto dum público mais vasto, o nome de Camilo como um dos nossos autores canónicos.Saturday, September 12, 2009
Thursday, September 10, 2009
outras palavras - Jaime Brasil, O CASO DE "A INFANTA CAPELISTA" DE CAMILO CASTELO BRANCO (1956)
Tuesday, September 01, 2009
da nostalgia

A nostalgia deve ter nascido numa ilha e só numa pequena ilha se compreende, integralmente, o subtil significado da distância. Essa sufocação que dá a terra sem continuidade, como se o aro líquido que a estrangula se viesse fechar também em volta da nossa garganta, desperta constantes rebeldias e constantes impotências, acorda mil sentimentos ignorados, remexe, tortura, cava fundo na alma até o momento de esta se submeter por falta de mais energias.
Monday, August 31, 2009
correspondências - a Horácio Bento de Gouveia
Mª de Cambra11 Junho 72
Meu caro Horácio Bento de Gouveia
Porque foi impresso em corpo 6, li os Ilhéus pouco a pouco, com sucessivas interrupções. Ando com uma crise da vista tão grave, que tive de ir mesmoa Barcelona, à clínica Barraquer, para que ma examinassem.
O Escritor, n.º 6, Lisboa, Associação Portuguesa de Escritores, Dezembro de 1995, p. 10.
Ferreira de Castro na "Cidade de Lilipute" (2)
Com a publicação daquele romance*, o autor assumiu-se como "biógrafo das personagens que não têm lugar no mundo" (1) -- nem na história oficial de então, acrescento eu. As suas personagens são arquétipos, e, como tal, universais. Por alguma razão ele foi o escritor português mais traduzido em vida. Em 1973, de resto, A Selva (1930), uma das suas obras-primas, estava entre os dez romances mais lidos em todo o mundo, de acordo com dados da UNESCO. (2) O seu nome foi inclusivamente proposto, por várias ocasiões, para Prémio Nobel da Literatura, por personalidades nacionais e estrangeiras.Tuesday, August 11, 2009
Ferreira de Castro, entre Marinetti e Kropotkine (2)
Nos livros eliminados da sua tábua bibliográfica, é visível a trajectória errática, própria de quem não encontrou ainda o modo de se escrever satisfatoriamente. Daí que surjam títulos tão díspares como um inclassificável Mas..., com laivos tardo-futuristas, Carne Faminta, Sangue Negro, em que fez a mão para o grande romance amazónico, como demonstrou Alexandre Cabral nos seus estudos exemplares, os panfletos de A Epopeia do Trabalho e obras híbridas como A Casa dos Móveis Dourados ou O Voo nas Trevas, oscilando entre a crónica de existências desencontradas e a narrativa de intenções inconformistas, umas e outras com habitual pano de fundo citadino. O bom acolhimento granjeado por Emigrantes viria a traçar o seu caminho e confirmar a sua aspiração a uma literatura mais verdadeira, menos postiça e leviana.O Escritor, n.º 11 / 12, Lisboa, Associação Portuguesa de Escritores, 1998, p. 175.
Monday, August 10, 2009
Rocha Peixoto, OS PUCAREIROS DE OSSELA (1908)
Vão a desaparecer os ceramistas populares da freguesia de Ossela, no concelho de Oliveira de Azeméis e distrito de Aveiro. Do não mui remoto e numeroso grupo de oleiros subsistem apenas dois no lugar do Mosteiro, da freguesia aludida, e outro, de lá destacado, no lugar de Barbeita, freguesia de Castelões e concelho contíguo de Macieira de Cambra. É, pois, uma indústria local que se extingue à míngua de recursos. A exiguidade dos lucros desviou os oleiros para outras ocupações, limitando-se os que sobrevivem a venderem os seus púcaros negros nas feiras, e associando interpoladamente alguma agricultura ao seu descaroável mister.Rocha Peixoto, «Os pucareiros de Ossela», Etnografia Portuguesa, edição de Flávio Gonçalves, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, p.315.
Saturday, August 01, 2009
Três escritores em tempo de catástrofe: Castro, Zweig e Eliade (2)
Ferreira de Castro no Estoril: um intervalo na obra do escritorSunday, July 26, 2009
Outras palavras - A DIANA DE LIZ (1932)
Está aqui, amor, a tua novela. Durante quase dois anos fugi, covarde, perante uma dor maior, de seleccionar os teus papéis, os papéis que as tuas mãos e os teus olhos acariciaram e que foram do muito pouco que pedi para se salvar do naufrágio da nossa vida. Mas, há meses, numa lívida antemanhã de hospital, arrependi-me de não ter enfrentado a nova dor, lacerando mais uma vez o pobre coração. A morte, que, desde há dias, estava estendida ao meu lado, parecia-me, finalmente, resolvida a levar-me também. Eu, de certa maneira, não a temia; desde que ela te arrebatou ao meu carinho, que importava que me cerrasse também a mim, e para sempre, os olhos?Saturday, July 25, 2009
História e memória: uma leitura de Os Fragmentos (2)
A desatenção que o público manifestou e continua a manifestar para com este último conjunto de textos de Ferreira de Castro -- embora compreensível porque o livro se publicou nesse ano de exaltações e outras urgências do 25 de Abril -- não deixa de ser lastimável, pois estamos perante um legado testemunhal de inequívoca importância e valor de alguém que atravessou grande parte do século XX e marcou duma forma indelével a literatura portuguesa do seu tempo.Tuesday, July 21, 2009
Gloria In Excelsis -- Histórias Portuguesas de Natal
Gloria In Excelsis -- Histórias Portuguesas de Natal, apresentação e selecção de Vasco Graça Moura, Lisboa, Público - Colecção Mil Folhas, Dezembro de 2003.Saturday, July 18, 2009
outras palavras - Jaime Brasil, CARTA PARTICULAR (1950)
Muita saúde!
Recebi, há meses, uma carta, assinada por uma tal Maria Agustina, a enviar-me um livro. Respondi-lhe. Voltou a escrever-me, dizendo alguns dislates. Retorqui no tom conveniente. Trocámos, assim, uma dezena de cartas. A resposta à minha última não veio pela via habitual da correspondência privada. Veio pela via pública.* Por isso, de mistura com a poeira do caminho, trazia alguns salpicos de lama.
* Bessa Luís, Os Super-Homens e "Os Orelhas Compridas" -- A Propósito do Diálogo Bessa Luís -- Jaime Brasil, Porto, edição da Autora, 1950. Brasil responde a este folheto, que terá réplica de Bessa Luís, Dissecação a um ex-Crítico de Arte, Porto, edição da Autora, 1950.
Carta Particular (com Vistas à Opinião Pública) Dirigida por Jaime Brasil ao Autor das "Orelhas Compridas", Porto, edição do Autor, 1950, p. 5.
Sunday, July 12, 2009
Literatura, Artes e Identidade Nacional -- Do Modernismo à Actualidade (2)
Como já tivemos oportunidade de escrever, um romance como Sinais de Fogo (1979) não foi, senão na sociedade livre em que se publicou. O que nos remete para a questão, por vezes irritantemente académica -- tal como o foi a do nosso feudalismo / senhorialismo, tal como o é a do nosso fascismo / autoritarismo --, que consiste no averiguar estatístico da existência, ou não, de obras-primas quedadas na gaveta, mercê de uma censura de meio-século. O crítico solerte, com argúcia de contabilista, deduzirá que muito poucos textos literários -- quase nenhuns --, vindos entretanto a lume, gozarão desse estatuto. Quando a interrogação deveria ser esta: quantos grandes romances, poemas, ensaios deixaram de ser escritos por causa da censura? (2) Houve, contudo, casos singulares, o mais notável dos quais terá sido o de Alexandre Pinheiro Torres, cuja integral produção romanesca até à data (cinco romances, entre A Nau de Quixibá, publicado em 1977, e A Quarta Invasão Francesa, de 1995) conheceu primeiras versões nos anos sessenta. (3) Literatura, Artes e Identidade Nacional -- «Do Modernismo à Actualidade», separata das Actas dos 3.ºs Cursos Internacionais de Verão de Cascais - 1996, Cascais, Câmara Municipal, 1997, pp. 183-184.
(continua)
Saturday, July 11, 2009
testemunhos #5 - Jorge Amado
No Cais de Lisboa, em Janeiro de 1966, amigos brasileiros e portugueses acenavam para o navio espanhol onde havíamos embarcado na Bahia, Zélia, Paloma e eu -- João Jorge fora de avião. Reconheci Odylo Costa, filho, Luiz Henrique Dias Tavares, Álvaro Salema, Fernando Namora, Francisco Lyon de Castro -- o primeiro a subir a escada foi Ferreira de Castro, com a notícia de que poderíamos saltar em Lisboa, a interdição fora suspensa. O grande escritor português, naquele então o principal entre todos os que escrevíamos em língua portuguesa, não podia conter a alegria. Durante todos os longos anos de convivência, de amizade fraterna que nos ligou, Ferreira de Castro sempre foi o arauto de boas novas, mão solidária, palavra acolhedora.Monday, July 06, 2009
«A Selva» dos leitores
Na passada sexta-feira, dia 3, teve lugar no Museu Ferreira de Castro uma sessão do Clube de Leitura, com A Selva como livro do mês.Anotei algumas impressões dos leitores:
1. "sintonia entre o drama das pessoas e o ambiente";
2. "reflexos da História de Portugal no percurso de Alberto";
3. "Ferreira de Castro não era um ingénuo político";
4. "romance difícil de classificar: romance de espaço, romance psicológico, romance de iniciação, romance autobiográfico";
5. "riqueza lexical";
6. "recurso a símbolos gráficos, modernismo";
7."Alberto era um progressista sem o saber";
8. "psicologismo com um cunho freudiano: a selva é um ser vivo; é a mulher";
9. " a selva humana está muito retratada";
10. "um livro de ética, um manual de humanização";
11. "um livro simples e transparente";
12. "influência do simbolismo".
Deixei-me ir na conversa, e não tomei mais notas. Foi pena.
o jovem Ferreira de Castro -- O DRAMA DA SOMBRA [1926]
Aquela mulher era ali, no Estoril elegante, a máxima fascinação, a serpente de olhos verdes de todos os veraneantes masculinos.Saturday, July 04, 2009
Prémio Lemniscata
O blogue O Fio de Ariadne atribuiu o prémio Lemniscata ao blogue Ferreira de Castro “O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."Sobre o significado de LEMNISCATA: “curva geométrica com forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas; Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.Texto da editora de “Pérola da cultura”.Thursday, July 02, 2009
Ferreira de Castro: um escritor no país do medo (2)
ExemplosSobre esta realidade escreveu Jorge de Sena (1919-1978), em 1960, autoexilado num Brasil ainda livre:
(1) Jorge de Sena, «A literatura portuguesa de ficção», Estudos de Literatura Portuguesa, vol. III, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 44.
Taíra -- Revue du Centre de recherche et d'études lusophones et intertropicales, n.º 9, Grenoble, Université Stendhal, 1997, pp. 65-66.
Saturday, June 27, 2009
de passagem - Jaime Brasil, ZOLA -- ACUSO!... (1949)
[Nota: das 156 páginas deste volume, 21 reproduzem o célebre manifesto de Zola, as restantes são da lavra de Jaime Brasil, pelo que decidi incluí-lo na sua bibliografia activa]A Unidade Fragmentada. Dispersos de Ferreira de Castro (2)
Terá sido exactamente a condição de profissional das letras que impediu uma produção esparsa prolífica, guardando a sua mensagem essencial para uma sólida obra romanesca. Também a sua epistolografia se ressentiu dessa situação, como já tivemos oportunidade de escrever.(1) O «ódio à caneta» (2), a «repugnância pelo trabalho agravada pela obrigação de trabalhar» (3) reflectiram-se no apuro formal da correspondência trocada com os amigos mais chegados e, outrossim, na dimensão da sua obra mais circunstancial. Thursday, June 25, 2009
memória - PREFÁCIO a «Pedras Falsas», de Diana de Liz (1931)
Devo, talvez, a este livro o estar ainda vivo. Se não fora o desejo de o publicar, eu teria seguido, possivelmente, a sua autora, quando a morte ma roubou. Era bem frágil a razão para o meu desespero, para a minha dor de viver, mas eu não tinha outra. Um livro é uma obra humana e tudo quanto era humano me parecia, nesses dias de inenarrável angústia, totalmente inútil para os problemas que me torturaram e digno apenas de fraternal piedade. Parecia-me e -- pobre de mim! -- continua a parecer, muitas vezes ainda. Ela própria me demonstrou, já à beirinha da morte, quanto são frágeis, perante o Enigma, as nossas humanas coisas. Disse-lhe eu que os seus livros, quaisquer que fossem os esforços a fazer, seriam publicados e as minhas palavras não constituíram para Ela consolo algum. Preocupava-a apenas o meu destino, que Ela adivinhava que iria ser, para sempre, de sofrimento, e a referência que eu fizera à sua obra pareceu-lhe até -- li-o nos seus olhos, vi-o na expressão do seu rosto -- motivo pueril para as horas trágicas que se iam esvaindo. Ela fora sempre assim.Sunday, June 21, 2009
Sete cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (2)
Esta crítica foi causa próxima de um ensaio de Luís Cardim, publicado também na Seara, durante cinco números, entre 16 de Abril e 24 de Maio desse ano, sob o titulo «É o Hamlet representável?», posteriormente editado em volume, ligeiramente aumentado e com outro título: Os Problemas do «Hamlet» e as suas dificuldades cénicas. (A propósito do filme de Sir Laurence Olivier), Seara Nova, Lisboa, 1949 -- facto que a publicação anuncia em manchete (manchete ao estilo da Seara, claro está...), saudando o autor: «incontestavelmente a nossa primeira autoridade em língua e literatura inglesa, como o Dr. Paulo Quintela o é para a língua e literatura alemã.» (1)




















































































