Saturday, June 27, 2009

de passagem - Jaime Brasil, ZOLA -- ACUSO!... (1949)

[Nota: das 156 páginas deste volume, 21 reproduzem o célebre manifesto de Zola, as restantes são da lavra de Jaime Brasil, pelo que decidi incluí-lo na sua bibliografia activa]

Deve o artista, o escritor, o intelectual em suma, descer à praça pública, imiscuir-se nas querelas dos seus contemporâneos, fazer vida de cidadão? Ou, antes, deve manter-se na sua Torre de Marfim, indiferente às questões dos outros homens, superior aos dissídios que os separam, consagrado a criar beleza ou a distilar sabedoria?
Emílio Zola, Acuso!.... tradução prefaciada e anotada por Jaime Brasil, Lisboa, Guimarães & C.ª - Editores [1949].

A Unidade Fragmentada. Dispersos de Ferreira de Castro (2)

Terá sido exactamente a condição de profissional das letras que impediu uma produção esparsa prolífica, guardando a sua mensagem essencial para uma sólida obra romanesca. Também a sua epistolografia se ressentiu dessa situação, como já tivemos oportunidade de escrever.(1) O «ódio à caneta» (2), a «repugnância pelo trabalho agravada pela obrigação de trabalhar» (3) reflectiram-se no apuro formal da correspondência trocada com os amigos mais chegados e, outrossim, na dimensão da sua obra mais circunstancial.
(1)Ver a nossa introdução a Ferreira de Castro / Roberto Nobre, Correspondência (1922-1969), Lisboa, Editorial Notícias e Câmara Municipal de Sintra, 1994.
(2) Carta de Castro a Nobre, de 6 de Julho de 1939, ibidem, p. 77.
(3) Carta de Castro a Nobre, de 12 de Agosto de 1960, ibid., p. 183.
Vária Escrita, n.º 3, Sintra, Câmara Municipal, 1996, pp. 137-138.
(continua)

Thursday, June 25, 2009

memória - PREFÁCIO a «Pedras Falsas», de Diana de Liz (1931)

Devo, talvez, a este livro o estar ainda vivo. Se não fora o desejo de o publicar, eu teria seguido, possivelmente, a sua autora, quando a morte ma roubou. Era bem frágil a razão para o meu desespero, para a minha dor de viver, mas eu não tinha outra. Um livro é uma obra humana e tudo quanto era humano me parecia, nesses dias de inenarrável angústia, totalmente inútil para os problemas que me torturaram e digno apenas de fraternal piedade. Parecia-me e -- pobre de mim! -- continua a parecer, muitas vezes ainda. Ela própria me demonstrou, já à beirinha da morte, quanto são frágeis, perante o Enigma, as nossas humanas coisas. Disse-lhe eu que os seus livros, quaisquer que fossem os esforços a fazer, seriam publicados e as minhas palavras não constituíram para Ela consolo algum. Preocupava-a apenas o meu destino, que Ela adivinhava que iria ser, para sempre, de sofrimento, e a referência que eu fizera à sua obra pareceu-lhe até -- li-o nos seus olhos, vi-o na expressão do seu rosto -- motivo pueril para as horas trágicas que se iam esvaindo. Ela fora sempre assim.

Sunday, June 21, 2009

Sete cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (2)

Esta crítica foi causa próxima de um ensaio de Luís Cardim, publicado também na Seara, durante cinco números, entre 16 de Abril e 24 de Maio desse ano, sob o titulo «É o Hamlet representável?», posteriormente editado em volume, ligeiramente aumentado e com outro título: Os Problemas do «Hamlet» e as suas dificuldades cénicas. (A propósito do filme de Sir Laurence Olivier), Seara Nova, Lisboa, 1949 -- facto que a publicação anuncia em manchete (manchete ao estilo da Seara, claro está...), saudando o autor: «incontestavelmente a nossa primeira autoridade em língua e literatura inglesa, como o Dr. Paulo Quintela o é para a língua e literatura alemã.» (1)
(1) 25 de Junho de 1949.
Boca do Inferno, n.º 1, Cascais, Câmara Municipal, 1996, p. 95.
Postado também n' A Caverna de Éolo.
(continua)

Saturday, June 20, 2009

Castro com Sérgio Telles

Ferreira de Castro com Sérgio Telles na Livraria Quadrante, Lisboa, 1970
Fonte: Portugal na Obra de Sérgio Telles, Estoril, Galeria de Arte do Casino Estoril, 1991

Thursday, June 18, 2009

outras palavras - Jaime Brasil, CHALOM!... CHALOM!... -- UMA REPORTAGEM NA PALESTINA (1948)

LIMIAR
Na hora precedente à da decisão internacional sobre a sorte da Palestina, «O PRIMEIRO DE JANEIRO» teve a iniciativa de mandar fazer uma reportagem na chamada Terra Santa.* Iniciativa duplamente corajosa, pois em Portugal não há o hábito dos grandes inquéritos internacionais. Foi ainda um acto de coragem escolher o signatário, para o enviar em missão tão delicada. A falta de treino, se outras razões não houvesse, poderia tornar a sua tarefa num malogro. Mais de um quarto de século de actividade jornalística, se lhe dava alguma experiência do trabalho redactorial, poderia ser uma contra-indicação para a reportagem. Esta requer juventude, agilidade de movimentos e uma certa pureza de visão ante o espectáculo do mundo.
* As crónicas de reportagem foram publicadas n'O Primeiro de Janeiro entre 8 de Fevereiro e 18 de Março de 1947. (R.A.A.)
Jaime Brasil, Chalom!... Chalom!... -- Uma Reportagem na Palestina, Porto, Editorial «O Primeiro de Janeiro», 1948

Sunday, June 14, 2009

Sete cartas de Luís Cardim a Roberto Nobre (1)

Publicado na Boca do Inferno, n.º 1, Cascais, Câmara Municipal, 1996

São sete as cartas de Luís Cardim que integram o espólio epistolográfico de Roberto Nobre, que agora apresentamos na íntegra, mantendo a ortografia e respeitando escrupulosamente a pontuação. Escritas entre 22 de Maio e 20 de Setembro de 1949, tiveram origem na crítica do autor de Horizontes de Cinema ao filme «Hamlet» (1948), de Laurence Olivier, estreado em Portugal no cinema Tivoli, em 24 de Janeiro do ano seguinte.
O texto de Nobre foi publicado na Seara Nova de 26 de Fevereiro de 1949 e constituiu um rasgado elogio da adaptação, enfileirando-a o crítico com A «Fera Amansada», de Fairbanks, «Romeu e Julieta», de Cukor, «Sonho de uma Noite de Verão», de Reinhardt e «Henrique V», do mesmo Olivier. Estas versões, que ele, do ponto de vista da «estética dinâmica», acolhe jubilosamente, haviam-no já levado a observar parecer ter Shakespeare escrito «não para o teatro, mas para o cinema».
(continua)

A. Lopes de Oliveira, COMO TRABALHAM OS NOSSOS ESCRITORES (1950)

Lisboa, Editorial Proença, 1950
Prefácio de Mário Gonçalves Viana, entrevista a Acúrcio Pereira, Amadeu de Freitas, Assis Esperança, Aurora Jardim [Aranha], Correia Marques, Eduardo Schwalbach, Ferreira de Castro, Guedes de Amorim, Hernâni Cidade, Hugo Rocha, Joaquim Paço d'Arcos, Luís d'Oliveira Guimarães, Gustavo de Matos Sequeira, Moreira das Neves, Mota Júnior, Natércia Freire, Norberto Lopes, Ramada Curto, Ribeiro Couto e Virgínia Vitorino.

Friday, June 12, 2009

Canções da Vendetta (2)

Afastado voluntariamente do jornalismo, a «profissão-socorro» que lhe permitia escrever os seus romances, Castro viu-se na situação de escritor profissional. Com alguns livros na gaveta (o romance O Intervalo, a peça Sim, Uma Dúvida Basta), os direitos de autor e os proventos das traduções, que começavam a surgir em grande força, eram ainda insuficientes para lhe garantir a sobrevivência.
Apresentação de Canções da Córsega, 2.ª edição, Sintra, Câmara Municipal e Museu Ferreira de Castro, 1994.

Saturday, June 06, 2009

... ESTA NECESSIDADE DE PERMANENTE ASSISTÊNCIA AFECTIVA... [A correspondência entre Ferreira de Castro e Roberto Nobre] (2)

Houvesse ou não Assis, o encontro entre ambos teria forçosamente de dar-se, não só pela pequenez do meio lisboeta, como pelo relacionamento, mais ou menos intenso -- como este epistolário demonstra -- de Castro com a colónia de autores algarvios na capital (Dantas à parte, é claro): Bernardo Marques, Carlos Porfírio, Eduardo Frias, José Dias Sancho (tio de Nobre), Julião Quintinha ou Mário Lyster-Franco.
in Ferreira de Castro e Roberto Nobre, Correspondência (1922-1969), Lisboa, Editorial Notícias e Câmara Municipal de Sintra, 1994, p. 8.
(continua)

Tuesday, June 02, 2009

O jovem Ferreira de Castro - CRIMINOSO POR AMBIÇÃO (1916)

Caros leitores
Amaveis leitoras
Por um preço excessivamente módico, impressão nítida e papel regular, temos a subida honra de apresentar-vos em fasciculos de 20 paginas o sensacional romance criminoso por ambição, trabalho do escriptor Ferreira de Castro.
Ferreira de Castro, Criminoso por Ambição, [Belém do Pará] Empreza Editora, 1916.