A nostalgia deve ter nascido numa ilha e só numa pequena ilha se compreende, integralmente, o subtil significado da distância. Essa sufocação que dá a terra sem continuidade, como se o aro líquido que a estrangula se viesse fechar também em volta da nossa garganta, desperta constantes rebeldias e constantes impotências, acorda mil sentimentos ignorados, remexe, tortura, cava fundo na alma até o momento de esta se submeter por falta de mais energias.
Ferreira de Castro, Terra Fria [do «Pórtico»], 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.
2 comments:
Fantástico! Este excerto traduz exactamente aquilo que senti sempre que estive em ilhas. Tenho cá para mim que, quando o Foucault classificou as heterotopias, esqueceu-se das ilhas.
Se bem me recordo, a única experiência de insularidade que tive foi Porto Santo, há dezasseis anos. Estava então demasiado ocupado com a praia (a melhor do país, depois da do Guincho...), e a pista do aeroporto era tão grande (meia ilha)que nem deu para sentir o sufoco. Agora, viver, calculo que seja um experiência daquelas...
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