Quando, em 1939, com Gente de Bem, iniciei a trajectória duns tantos industriosos homens de negócios, mal sabia eu, ao seleccionar, para eles, meia dúzia de aristocratizados apelidos de família, que dois destes haviam de meter engulhos a quem, ainda vivo a esse tempo, os ostentava a justo título. Sua atitude moral a de se precaver contra todas as traições do acaso, dera em suspeitar que o meu romance viera a lume para se tornar pelourinho da sua vida pública, e imediatamente o denunciou, a quem de direito, como atentatório da sua honra e brios. Dias volvidos, correu a emendar a mão, mas os ecos desse seu precipitadíssimo juízo ficaram a vibrar em mim como específico sinal dos tempos.
Assis Esperança, Trinta Dinheiros, Lisboa, Guimarães Editores, 1958.
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