[do «Início»)
Concertaram-se, na nossa época, várias formas de se dar a volta ao Mundo. Em anos de remansosa paz, um navio americano abala de Nova York e, de casco branco, mastros festonados de gaivotas, ladeia Américas e Áfricas, detém-se, aqui, ali, em três ou quatro cidades, e corta, depois, o Índico. Mas da grande Índia mostra somente Bombaim e Ceilão; da longa península de Malaca não se verá mais do que Singapura e da China imensa apenas a minúscula ilha de Hong-Kong. Outrora, ainda ele se aventurava até outras plagas. De ano para ano foi minguando, porém, as milhas da sua rota, que assim, passagens mais baratas, ajuntaria maior número de clientes. Não se cura de revelar ao Mundo os passageiros e sim de lhes permitir dizer aos amigos que eles deram a volta ao Mundo. Viagem de bom conforto, nas cidades visitadas esperam guias e automóveis, que levam os curiosos aos monumentos principais e, depois, os reconduzem a bordo, para que se lavem da poeira do Oriente, jantem bem e bailem até de madrugada, enquanto o talhamar vai singrando em direitura a outro porto. De Hong-Kong, o navio, que, até ali, só fundeou nas extremidades dos continentes, despede, a toda a brida, para algumas ilhas do Pacífico, ansioso de transpor o Panamá e em Nova York lançar a âncora, férreo ponto final em superficial capítulo. Assim e «A volta ao Mundo colectiva», cruzeiro de luxo por mares distantes. Há, também, «A volta individual ao Mundo». Companhias de navegação, para o efeito ajustadas, acordaram vender trânsito marítimo, com diminuídos preços, aos que pretendem rodear a esfera terrestre e volver ao ponto de partida. Viagem menos cómoda do que a outra, quem a realiza torna-se servo não do muito ou pouco interesse do sítio visitado, mas da entrada e saída dos navios em que o seu bilhete lhe permite embarcar. Sujeito está a quedar-se dois dias onde desejaria demorar-se duas semanas e duas semanas onde lhe bastaria ficar dois dias apenas. E a menos que possa seu tempo perder, este viajante solitário verá, enervado, partir o único navio de sua conveniência, que não é, geralmente, o navio que ele tem direito a tomar.
Concertaram-se, na nossa época, várias formas de se dar a volta ao Mundo. Em anos de remansosa paz, um navio americano abala de Nova York e, de casco branco, mastros festonados de gaivotas, ladeia Américas e Áfricas, detém-se, aqui, ali, em três ou quatro cidades, e corta, depois, o Índico. Mas da grande Índia mostra somente Bombaim e Ceilão; da longa península de Malaca não se verá mais do que Singapura e da China imensa apenas a minúscula ilha de Hong-Kong. Outrora, ainda ele se aventurava até outras plagas. De ano para ano foi minguando, porém, as milhas da sua rota, que assim, passagens mais baratas, ajuntaria maior número de clientes. Não se cura de revelar ao Mundo os passageiros e sim de lhes permitir dizer aos amigos que eles deram a volta ao Mundo. Viagem de bom conforto, nas cidades visitadas esperam guias e automóveis, que levam os curiosos aos monumentos principais e, depois, os reconduzem a bordo, para que se lavem da poeira do Oriente, jantem bem e bailem até de madrugada, enquanto o talhamar vai singrando em direitura a outro porto. De Hong-Kong, o navio, que, até ali, só fundeou nas extremidades dos continentes, despede, a toda a brida, para algumas ilhas do Pacífico, ansioso de transpor o Panamá e em Nova York lançar a âncora, férreo ponto final em superficial capítulo. Assim e «A volta ao Mundo colectiva», cruzeiro de luxo por mares distantes. Há, também, «A volta individual ao Mundo». Companhias de navegação, para o efeito ajustadas, acordaram vender trânsito marítimo, com diminuídos preços, aos que pretendem rodear a esfera terrestre e volver ao ponto de partida. Viagem menos cómoda do que a outra, quem a realiza torna-se servo não do muito ou pouco interesse do sítio visitado, mas da entrada e saída dos navios em que o seu bilhete lhe permite embarcar. Sujeito está a quedar-se dois dias onde desejaria demorar-se duas semanas e duas semanas onde lhe bastaria ficar dois dias apenas. E a menos que possa seu tempo perder, este viajante solitário verá, enervado, partir o único navio de sua conveniência, que não é, geralmente, o navio que ele tem direito a tomar.
Ferreira de Castro, A Volta ao Mundo, 4.ª edição, vol. I, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1952, pp. 19-20.
No comments:
Post a Comment