Wednesday, September 12, 2012

incidentais #3 -- uma fé sem deus

sobre "A Legenda do Pórtico" de Eternidade.

* Uma imprecação desesperada à mísera condição humana destinada ao nada, escrita na sequência da morte da companheira de Ferreira de Castro, Diana de Liz, e da septicemia que o acometeu, com episódio suicida pelo meio. 

* Um apelo lancinante ao "irmão longínquo", ao homem do futuro que triunfou "da morte, e dos instintos", o homem racional guiado pela inteligência, liberto da escravidão das paixões -- a mesma inteligência que lhe permitiu, nesse longínquo porvir, viver numa sociedade sem entorses.

* Uma fé sem deus, em suma, com muito ainda de cientismo evolucionista do século XIX, mas, simultaneamente, com um alento de idealismo que hoje, uns meros 80 anos após a sua publicação, não hesitaremos em classifcar como utópico. Castro, porém, não escrevia para duas ou três gerações à frente.

* Chame-lhe utopia quem quiser (ou até ficção científica). Não serei eu, neste final de verão de 2012, ateu e desenganado, quem sorrirá desse alento desesperado, mais perseguido pelos homens que a pedra filosofal.

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