Não se pense que Ferreira de Castro é um escritor de populismos fáceis. A inclinação pelos desprotegidos que se verifica nos seus livros resultou não apenas da sua vivência juvenil, como dum arreigado inconformismo ante a ordem natural das coisas, respeitasse ela à organização social injusta -- que sempre contestou -- ou à condição inevitável de finitude de cada um e todos os homens. Os seus romances reflectem, por isso, as angústias e as contradições do ser humano, independentemente da classe social a que pertençam. Castro foi também um ecologista avant la lettre. O enlevo em face do meio ambiente, em particular do mundo vegetal, não ficou atrás do interesse com que se debruçou sobre a condição humana. Significativa é a localização do seu túmulo, em plena Serra de Sintra (Património Mundial desde 1995): a seu pedido, o escritor repousa "perto dos homens, meus irmãos, e mais próximo da Lua e das estrelas, minhas amigas, tendo em frente a terra verde e o mar a perder de vista -- o mar e a terra que tanto amei." (3)
(3) Incluído por Adelino Vieira Neves (org.), In Memoriam de Ferreira de Castro, Cascais, Arquivo Biobibliográfico dos Escritores e Homens de Letras de Portugal, 1976, p. 211.
In Ferreira de Castro, Macau e a China, Taipa, Câmara Municipal das Ilhas, 1998.
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