Ferreira de Castro sorveu um gole de café e depois de avivar o cigarro que pendia dos lábios, respondeu-nos:
-- Sim. Café e cigarros.
-- Prefere o campo para o seu trabalho?
-- Sim, sempre o Campo. Mas, infelizmente, é quase sempre na Cidade que construo o trabalho.
-- Prefere poesia ou prosa?
-- Gosto das duas coisas. Para eu escrever, o romance; para eu ler, a filosofia.
-- Já alguma vez escreveu para o teatro?
-- Quando tinha vinte anos fiz algumas tentativas para esse fim, mas depois desisti disso.
Foi com estas palavras que a conversa se encerrou.
Eram 6 horas da tarde: tinha chegado o momento para Ferreira de Castro realizar o seu trabalho quotidiano. Puxou pelo relógio, viu a hora e disse-nos:
-- Tenha paciência, vou a o meu trabalhinho. É o meu pão-nosso de cada dia.
Apertou-nos a mão e seguiu lentamente a Avenida da Liberdade.
A. Lopes de Oliveira, Como Trabalham os Nossos Escritores, Lisboa, Editorial Proença, 1950
Autores entrevistados: Acúrcio Pereira, Amadeu de Freitas, Assis Esperança, Aurora Jardim, Correia Marques, Eduardo Schwalbach, Ferreira de Castro, Guedes de Amorim, Hernâni Cidade, Hugo Rocha, Joaquim Paço d'Arcos, Luís de Oliveira Guimarães, Gustavo de Matos Sequeira, Moreira das Neves, Mota Júnior, Natércia Freire, Norberto Lopes, Ramada Curto, Ribeiro Couto e Virgínia Vitorino.
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