Friday, December 20, 2024

dos romances

«Quando os homens chegaram, enfim, ao cimo da declividade, lá de onde o céu era vasto e dir-se-ia mais claro, deram com enorme parede vegetal, quase sem espaço para os seus corpos nesse chão plano, que eles sabiam ser imenso e ali vinha desbordar.» O Instinto Supremo (1968)

«O sol, já quase horizontal, com seus raios a morrerem no gume das montanhas, recortava-lhe a figura, sobre a pileca. Nem alto, nem baixo, mas tão forte que o doutor Cardoso, cacique de Montalegre, vira-se em dificuldades para o livrar do serviço militar, as pernas, se se arqueassem mais, tocariam calcanhar com calcanhar sob o ventre do cavalo.» Terra Fria (1934)

«Em algumas fábricas, os operários tinham já regressado, cabeça tão baixa que nem a dele, "Lagarto", corcunda desde que se conhecia, havia cavado tal ninho entre os ombros. / Após estes desenganos, os membros do "Comité" resolveram separar-se. Combinámos, rapidamente, futuros enlaçamentos e, sacudido o Algodres que dormitava na cadeira, com as façoilas negras de barba, nos beiços um fio de baba e mais de vinte pontas de cigarros aos pés, largámos.» O Intervalo (1936/1974)

Thursday, December 12, 2024

outras palavras

«Sopra na telha vã, arrepia os colmados, passa e torna a vir -- vu-vu-vuuu -- como uma obsessão. A concha trouxe consigo toda a orquestra do mar. / Deve haver neve na Felgueira. E também cá para trás, para as bandas de S. Martinho, os caminhos devem estar cobertos de códão, estralejando sob as chancas de quem se meta pela noite negra.» «O Natal em Ossela» (1932/1974), Os Fragmentos 

«A diabrura que pratiquei, desvaneceu-se no esquecimento; mas lembro-me, sim, que minha mãe, saindo do quinteiro e agarrando-me por um braço, castigou-me. Passava na estrada, enxada ao ombro, um homem alto, bigodes retorcidos festonando as faces trigueiras. Deteve-se, sorriu e disse: / -- Assim é que é, senhora Mariquinhas! Nessa idade é que eles se ensinam. / Odiei aquele homem.» [Memórias] (1931)

«Na luta alcançativa destes três Deuses apareceram Grandes, que às vezes esquecemos a sua qualidade de micróbios, para admirarmos as suas audácias na conquista do Querer, do Desejar, do Possuir. Mas os minusculamente pequenos, insignificantes ensimesmados, na sua estupenda quantidade numérica chegam a ser incomensuravelmente maiores que os Grandes...» Mas... (1921)

Wednesday, December 11, 2024

dos romances

«Mas a lâmpada de bolso, de alguém ainda sentado numa das popas, estoqueou de repente a obscuridade, abrindo um caminho de luz, estreito e oscilante, na terra que trepava do rio para a floresta, gretada na parte alta, que mal se via.» O Instinto Supremo (1968)

«Juvenal Gonçalves já o surpreendera, assim, de outras vezes.  Mas nunca, como agora, o emocionara tanto, fazendo-o reviver a sensação que deviam ter fruído, outrora, os descobridores, ao ver surgir o arquipélago. Até então, o Atlântico ainda era para os portugueses um elemento masculino, fero e enigmático.» Eternidade (1933)

«Os caules nus, quase negros, assimétricos, eram colunas de um templo bárbaro, em cuja cúpula transparente o sol ia tecendo prateada e fantasiosa malha. Por vezes, o tecido incorpóreo esfarrapava-se e descia, em fluidos caprichosos, até os galhos, formando pulseiras, ou até o chão, onde coagulava em jóias bizarras.» Emigrantes (1928)



Capa da 1.ª edição: Bernardo Marques (1933)


Tuesday, December 10, 2024

nas palavras dos outros

(Nogueira de Brito) «O escritor que deu ultimamente às letras portuguesas um formoso livro, "Emigrantes", é, antes de tudo, um emotivo severo, pautado, sem arremedos de sentimentalismos pueris, nem devaneios lânguidos de compressão de sentimento ou de ternura.» «Ferreira de Castro e a sua obra literária», Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931)

(Jacinto do Prado Coelho) «Escritores de torre de marfim, ou então demoníacos, malditos. Outros, porém, fazem literatura possuídos da consciência de um dever para com o próximo, a escrita é para eles veículo de uma mensagem, obedecem a uma vocação que é simultaneamente literária e cívica, são, através da palavra, através da ficção, construtores de homens, pedagogos.» «"O Instinto Supremo": quando a ética se torna humanitária», In Memoriam de Ferreira de Castro (1976)

(Agustina Bessa Luís) «Um dia eu disse a Ferreira de Castro: "Venha ver a minha terra e a casa onde eu nasci." E ele foi sem rogos, porque o seu coração tem a debilidade dos lugares modestos onde se come o primeiro pão e se forma a alma de saudades esquivas e dolorosas.» Ferreira de Castro», Livro do Cinquentenário da Vida Literária de Ferreira de Castro -- 1916-1966 (1967)

Thursday, December 05, 2024

dos «Pórticos»

«Foi numa peça de teatro, pobre massa embrionária, que colocámos pela primeira vez, tínhamos nós vinte e dois anos, a interrogação que constitui a trave mestra deste livro. Em França, em 1848, um homem, que havia sido republicano durante a Monarquia, tornara-se monárquico logo que a Segunda República alvorecera e disparara a combater esta e a defender aquela com os mesmos ardorosos modos com que antes fazia o inverso.» A Curva da Estrada (1950)

«Pequeno, dez, onze anos melancólicos e tímidos, subíamos ao cume da serra que padroa a casa onde nascemos e ali, entre urzes e pinheiros nos quedávamos a contemplar vizinhas terras. Sete quilómetros, apenas, havíamos percorrido do Mundo em que vivemos; o que hoje se ergue perto parecia-nos a nós distante, mas nós já sonhávamos ir muito mais longe ainda.» A Volta ao Mundo (1940-44)

«Os primeiros teares criaram-se, em já difusos e incontáveis dias, para a lã que produziam os rebanhos dos Hermínios. O homem trabalhava, então, no seu tugúrio, erguido nas faldas ou a meio da serra. No Inverno, quando os zagais se retiravam das soledades alpestres, os lobos desciam também e vinham rondar, famintos, a porta fechada do homem.» A Lã e a Neve (1947)

Wednesday, December 04, 2024

errâncias

«Tudo se apresenta moreno ou ocre. É uma cidade heráldica, palácio a seguir a palácio, brasões em todas as fachadas, residências dos grandes senhores que se afastaram do povo, criando um mundo só para eles, um mundo altivo, onde em concorrência de vaidade e de poderio, cada qual procurou construir melhor e mais ostensivamente.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63)

«De Hong-Kong, o navio, que, até ali, só fundeou nas extremidades dos continentes, despede, a toda a brida, para algumas ilhas do pacífico, ansioso de transpor o Panamá e em Nova Iorque lançar âncora, férreo ponto final em superficial capítulo. Assim é "A Volta ao Mundo colectiva", cruzeiro de luxo por mares distantes.» A Volta ao Mundo (1940-44) 

«Havia um recurso: ir lá. mas ir como? Os mapas afirmavam a existência do povo remoto; os guias dos caminhos-de-ferro negavam-na terminantemente. Nas agências de viagens, os funcionários, interrogados, olhavam-nos com reservas, não fosse estarmos a caçoar com eles... / Um dia, porém, resolvi abalar de Paris, convencido de que havia de chegar a Andorra.» «Andorra», Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38)

Tuesday, December 03, 2024

dos romances

«Vendo-a adormecida, neutra, Cecília pareceu-lhe menos odiosa. Dir-se-ia que a sua vida era protegida pela sua própria incapacidade de defender-se. Em frente da cama, ele principiou a despir-se, por hábito. A luz do corredor, ao filtrar-se pela bandeira da porta, destacava da obscuridade o vulto de Cecília sob os lençóis. Repugnava-lhe estender-se ao lado da mulher.» A Tempestade (1940)

«Que diria Juca Tristão, que o tinha por esperto e exemplar, quando ele lhe aparecesse com três homens a menos no rebanho, que vinha pastoreando desde Fortaleza? E o Caetano, que ambicionara aquele passeio por conta do seringal e assistira, roído de inveja, à sua partida? Rir-se-iam dele... Quase dois contos atirados por água-abaixo!» A Selva (1930)

«No telhado antigo, com o pó dos tempos fixado em crostas esverdeadas que nenhuma chuva conseguia lavar, os pardais faziam o ninho na Primavera. Em baixo, entre as paredes e as covitas que as goteiras, em horas pluviosas, abriam no solo, vicejavam lírios, roseiras trepadoras e tenros pés de salsa que o irmão hortelão não se dispensava de cultivar.» A Missão (1954) 



Capa da 1.ª edição: vinheta de Roberto Nobre (1954)


Saturday, November 30, 2024

"Fala-me de ti, Juvenal" - teatro radiofónico

Teatro radiofónico, de Serena Cacchioli: Juvenal, personagem principal de Eternidade encontra-se com uma investigadora de literatura neste ano de 2024, estabelecendo um diálogo a propósito das questões eternas que o romance levanta.

Com Ana Maia e André Gago, aqui.



Friday, November 29, 2024

correspondências

(Jaime Brasil a Ferreira de Castro, 1926) «Meu caro Ferreira de Castro: // A sua conferência é na quinta-feira, 25, não é verdade? Peço-lhe que me indique o tema, para a anunciar. / Escusado será dizer que é preciso um resumo até à quarta-feira 24, para eu fazer tirar cópias para os jornais. // Disponha do / seu camarada / mtº at.º / Jaime Brasil //  Lx.ª, 15/2/926.» Cartas a Ferreira de Castro (2006) 

(Ferreira de Castro a Roberto Nobre, 1922) .../... «P.S. Propositadamente deixo para o Post Scriptum o assunto do Lab.º Ainda não foi possível arrecadar-lhes aqueles míseros 50$00. Eu não me descuido. Não é por si: -- é por mim... Abraços do Frias. JMF» .../... Correspondência (1922-1969) (1994)

(Reinaldo Ferreira / Repórter X a Ferreira de Castro e Mário Domingues, 1925) .../... «Levo um saco de impressões. Na falta de tempo que sempre [?] tenho de sintetizar a correspondência. / Vou ao Porto, onde estarei uns dias e dou depois uma saltada a Lisboa para vos abraçar. Escrevam-me para Iberia Film -- Edifício do Banco do Minho Porto. / Saudades ao Cristiano, Bettencourt, Reis etc. / Vosso // Reinaldo Ferreira» 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992)

Wednesday, November 27, 2024

dos romances

«Forçado a deter-se, ele regava, à esquerda e à direita, rudes pedras, velhos castanheiros, velhos cunhais, mas fazia-o alegremente e com o visível modo de quem leva pressa. Em seguida, voltava a correr no faro do seu dono. Cada vez o sentia mais perto e cada vez era maior o seu alvoroço. Por fim, lobrigou-o.» A Lã e a Neve (1947)

«A luz, ao entrar, varreu os pontos brancos que o ralo projectava ali, uns pontos brancos, aglomerados no jeito das cavidades dos favos e que constituíam a única luminosidade existente lá dentro quando a porta se encontrava fechada. / Dois bancos laterais corriam dum extremo a outro, no interior da furgoneta. Um homem levantou-se e começou a avançar em direcção à porta.» A Experiência (1954)

«-- Em Espanha janta-se sempre tarde de mais -- disse Soriano, em tom conciliador, assim que a criada saiu, depois de ter servido o café. -- É um horário absurdo o nosso. Quando estive emigrado na França e na Bélgica, é que dei conta disso. Nós desalinhamos a digestão da Europa, pois no momento em que os espanhóis começam a encher o estômago, já os outros povos estão a esvaziar o deles...» A Curva da Estrada (1950) 



Capa da 1.ª edição: Jorge Barradas (1947)


Thursday, November 14, 2024

errâncias

«Não se cura de revelar o Mundo aos passageiros e sim de lhes permitir dizer aos amigos que eles deram a volta ao Mundo. Viagem de bom conforto, nas cidades visitadas esperam guias e automóveis, que levam os curiosos aos monumentos principais e, depois, os reconduzem a bordo, para que se lavem da poeira do Oriente, jantem bem e bailem até de madrugada, enquanto o talha-mar vai singrando em direitura a outro porto.» A Volta ao Mundo (1940-44)

«Não. Ia-se muito longe, devassavam-se os mais distantes recantos do planeta, mas a Andorra, que estava perto, manando, possivelmente, inéditas emoções, ninguém ia, ninguém pensava ir. Nasceu, assim, a minha curiosidade, que, a princípio, tentei saciar com papel impresso. Foi desejo quase inútil, pois da bibliografia andorrana, pequena como o país, dificilmente se encontrava em Portugal obra de jeito.» Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38)

«Lembra, por este mérito, o bairro dos cruzados em Rodes e Fatehpur Sikri, que foi capital da Índia e também permanece intacta, rutilando, escarlate e fantástica, sobre o topo duma colina. / Logo que entramos em Santilhana a nossa época desaparece. Os séculos medievos -- o XI, o XII, o XIII, o XIV -- abrem-nos as suas grossas portas, nas ruas em declive, e, então, a própria cor do nosso tempo se modifica.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-1963)



Capa do n.º espécime (1959)
Jan van Eyck, O Homem do Turbante Vermelho


Tuesday, November 12, 2024

correspondências

(Reinaldo Ferreira/Repórter X a Ferreira de Castro e Mário Domingues) «Paris, 3-11-925 // Meus queridos Amigos: Eis-me de volta de uma grande viagem -- a mais interessante de todas as que realizei até hoje. Foi mais longa do que eu julgava -- mas, graças a Deus, não fui comido pelos antropófagos, como dizem que se espalha por Lisboa.» .../... 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992)*

(Ferreira de Castro a Roberto Nobre) .../... «Telefonei neste momento ao Assis, para saber se ele desejava transmitir-lhe qualquer coisa. Tinha ido almoçar. Paciência. Sei, porém, que brevemente ele lhe enviará ou as provas ou o original da novela. Sei, também, que ele, como eu, está-lhe grato por suas gentilezas. / Abrace, Rob.º Nobre, o seu amigo dedicado // JM Ferr de Castro // Lisboa 19/9/922» .../... Correspondência (1922-1969) (1994)

(Jaime Brasil a Ferreira de Castro) «Paris, 14/10 // Meu caro Castro. // Como vai isso? Bem? Não sei se já lhe escrevi ou não. Ando arrasado das viagens, hábitos alterados... o diabo. O M. Domingues já veio? / Estou na R. Richer, 26 Pension Home. Se for necessário qualquer coisa escreva até ao dia 20. Recomende-me à "Tertúlia". Abraça-o o am.º e camarada // Jaime». Jaime Brasil, Cartas a Ferreira de Castro (2006)


* 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992) - ed. Ricardo António Alves

Monday, November 11, 2024

uma selecção nacional, por Ana Moreira

daqui

 

Discutível, como o são todas: falta ali muita gente, e alguns duvido que lá devessem estar.

Agustina Bessa Luís, Ana Luísa Amaral, Dulce Maria Cardoso, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Ferreira de Castro, Florbela Espanca, Hélia Correia, Herberto Helder, Joana Bértholo, José Cardoso Pires, José Saramago, Lídia Jorge, Luís de Camões, Luísa Costa Gomes, Maria Judite de Carvalho, Mário Cláudio, Natália Correia.

Friday, November 08, 2024

dos romances

«Os seus toscos sapatos de borracha, com o feitio exacto das peúgas, semienterravam-se no tijuco ribeirinho e mais facilmente as pernas se desprendiam de dentro deles, do que eles se libertavam dessa lama pegajosa, quase tão voraz como as areias movediças.» O Instinto Supremo (1968)

«O polícia, que vinha sentado junto do motorista, chupou, quatro vezes seguidas, a ponta mungida do cigarro, atirou-a fora -- e desceu. Sentindo os olhares despejados lá de cima, que davam maior vaidade aos seus gestos, ladeou a furgoneta e, atrás, abriu a porta, que era chapeada e sólida como a dum cofre.» A Experiência (1954)

«O edifício, velho e longo, muito longo e de um só piso, parecia querer mostrar que a sua missão, justamente por ser celeste, devia agarrar-se à terra, estender-se bem na terra, para extrair a alma dos homens que nela viviam.» A Missão (1954)



Capa da 1.ª edição, desenho de Artur Bual (1968)


Wednesday, November 06, 2024

outras palavras

«E o vale aumentou em extensão e profundidade. Parece que todo o mundo está aqui, na sombra imensa. Almas, desesperos, ambições, impotências -- e a trégua desta noite, em volta da lareira. Parece que não há mais nada. / Mas o vale chora, clama, geme sempre. Vu-vu-vuuu, a ventania fustiga o esqueleto das árvores, os pomares despidos de folhagem, os choupos esgrouviados,, os amieiros que debruam o Caima.» «O Natal em Ossela» (1932/1974), Os Fragmentos 

«A terra cadáver imenso de pré-histórico monstro é refocilada por legiões intermináveis de parasitas: -- todo o reino animal. Que, como os últimos brasidos deixa evolar sobre a própria lama do sugar, um clarão: -- Do Querer, do Desejar, do Possuir.» «Mas... a prisão é a coroação», Mas... (1921)

«É em 1902 que começo a povoar o museu da minha vida, a decorar a galeria das recordações. / Foi numa tarde de sol -- tarde de luz forte que eu vejo ainda -- que dei início à tarefa. Eu brincava na estrada amarela que corria ao longo da casa onde nasci.» [Memórias] (1931)



Jaime Brasil (dir.), Ferreira de Castro e a Sua Obra
(inclui as «Memórias»)
Capa de Roberto Nobre (1931)


Thursday, October 31, 2024

FERREIRA DE CASTRO -- UMA BIOGRAFIA 1, no Porto - apresentação na AJHLP




 

Ferreira de Castro sobre É A GUERRA, de Aquilino Ribeiro

 Aqui.

dos romances

«Ouviam-se já os passos da criada no corredor e, logo que ela entrou na sala, Mercedes censurou-a: / -- Por mais que eu repita, há-de ser sempre isto! A comida nunca está pronta a horas! Jantamos sempre tarde. / Ramona não se justificou, mas, pelos seus modos, Soriano compreendeu que ela resmungava por dentro. E parecia que o silêncio e a imobilidade de Paco apoiavam e aumentavam a razão de Mercedes.» A Curva da Estrada (1950)

«A cauda ergueu-se num ápice, formando volta que nem cabo de guarda-chuva; a cabeça levantou-se também e nela luziram os olhitos até aí amortecidos. "Piloto" estugou o passo. O caminho estava cheio de tentações, de paragens obrigatórias, estabelecidas por todos os cães que passaram ali desde que Manteigas existia, desde há muitos séculos. A Lã e a Neve (1947)

«Começou a andar sobre a ponta dos sapatos, cada vez mais cauteloso. Cecília já dormia quando ele chegou ao quarto. O seu primeiro ímpeto foi matá-la imediatamente, mas conteve-se. "Precisava de certificar-se com os seus próprios olhos e apanhá-los em flagrante, para que não o tomassem como um assassino vulgar".» A Tempestade (1940)



capa da 1.ª edição, por Roberto Nobre (1950)




Tuesday, October 29, 2024

nas palavras dos outros

Jacinto do Prado Coelho (1976) «Há duas linhagens de escritores. Uns realizam-se comunicando as suas experiências, por vezes à beira do abismo, entregando-se aos poderes da imaginação e da linguagem, visando emoções puramente estéticas, alheios às consequências ético-sociais dos seus livros, arautos até dum individualismo exacerbado, revoltado, indiferentes ao labéu de inúteis ou à acusação de dissolventes.» .../... «"O Instinto Supremo": quando a ética se torna humanitária», In Memoriam de Ferreira de Castro (1976)

Agustina Bessa Luís (1966) «É numa página de um jornal que eu considero o mais estimável do Mundo, que vou escrever sobre Ferreira de Castro. Creio que nos meus primeiros passos colaborei aqui, não sei com que pequeno trecho todo arrebatado nas escarlatinas da mocidade, e já colérico e fantástico, que esse estilo tive-o sempre e sempre dele sofri.» .../... «Ferreira de Castro», Livro do Cinquentenário da Vida Literária de Ferreira de Castro -- 1916-1966 (1967)


Nogueira de Brito
 (1928) «Ferreira de Castro, a quem acaba de ser prestada homenagem de admiração pelo seu talento é, na moderna geração literária, um dos valores mais curiosos pela orientação mental que tem inspirado a sua obra de reconstrução moral e psíquica.» .../... «Ferreira de Castro e a sua obra literária», Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931)

a 15.ª de A CURVA DA ESTRADA


capa: Duarte Lázaro

 

Monday, October 28, 2024

dos romances

«Pela falaceira do "Lagarto" soubemos, porém, que a parte central de Lisboa estava ocupada por densas forças; Chiado abaixo passavam, a todo o momento, camionetas transportando guardas-republicanos e, de quando em quando, descia a Avenida da Liberdade pesado tanque com atitude de anfíbio cauteloso.» O Intervalo (1936/1974)

«O gardunho tornara-se bicho raro e também não se matava todos os dias um texugo. E que se matasse! Já se sabia que os galegos pagavam mais -- e pele esticada e seca ficava guardadinha para eles. Se nem as de raposa escapavam! Levavam tudo! Desdenhadas, só as de cabrito e de vitela, tão baratuchas que um homem fartava-se de carregar com elas para poder ganhar uns tristes vinténs...» Terra Fria (1934)

«Era vulto apardaçado nos extremos, erguendo algures, para o céu, um mamilo vulcânico e deixando que a sua encosta central se doirasse, suavemente, na luz matutina. Visto de longe, a medrar, a medrar, parecia recém-nascido no mistério oceânico, para enlevo de olhos fatigados pelo monotonia marítima.» Eternidade (1933)


capa da 1.ª edição de Os Fragmentos (inclui O Intervalo)
desenho de João Abel Manta (1968)


Friday, October 25, 2024

dos «Pórticos»

«Meu amigo: // Há anos, o acaso reuniu-nos num hotel do Cairo e você, afectuoso sem grandes gestos, amável sem palavras farfalhantes, uma constante sombra de melancolia no sorriso e nos olhos, quis servir-me de piloto durante uma das minhas peregrinações na terra egípcia, já sua conhecida.» A Tempestade (1940)

«A FERREIRA DE CASTRO // Não o conheço pessoalmente, mas sei que o seu espírito se interessa por todos os grandes problemas da Humanidade e que assistiu a vários acontecimentos em que eu mesmo tomei parte.» O Intervalo (1936/1974)

«Nem eu sei quando nasceu no meu espírito este amor pelos povos minúsculos, pelas repúblicas em miniatura, por todos os que vivem isolados no planeta. / As pequenas ilhas, sobretudo, fascinam-me, porque permitem observar melhor o homem entregue a si próprio, fechado sobre si mesmo, e, simultaneamente, disperso no infinito, entre mar e céu, -- inconsciente até do labor psíquico por ele realizado perante o eterno limite.» Terra Fria (1934)

Thursday, October 24, 2024

errâncias

«Ao longo da vida temos topado muitos homens que fumaram ópio na China, tomaram vodka na Rússia, miraram o Vale dos Reis e subiram aos Andes; nenhum, impenitente vagamundo fosse ele, que nos baforasse a frase célebre: "Corri Seca e Meca e os Vales de Andorra". Nenhum que houvesse desejado ver como aquilo era e por que vivia quase independente, há tantos séculos já, um país tão minúsculo, quando outros maiores têm sido anexados.» «Andorra», Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38)

«Chega-se aqui e fica-se surpreendido, já que Santilhana, ao contrário da regra, ultrapassa tudo quanto sobre ela se leu ou se ouviu. Tem-se uma profunda sensação de descoberta. / Cidade medieval, esquecida do tempo, sem graves mutilações, sem pedras injuriadas, dir-se-á recém-saída de colossal redoma, que lhe conservou todo o seu carácter antigo.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-1963) 

«Mas da grande Índia mostra apenas Bombaím e Ceilão; da longa península de Malaca não se verá mais do que Singapura e da China imensa apenas a minúscula ilha de Hong-Kong. Outrora, ainda ele se aventurava a outras plagas. De ano para ano foi minguando, porém, as milhas da sua rota, que assim, passagens mais baratas, ajuntaria maior número de clientes.» A Volta ao Mundo (1940-1944)



Capa do n.º espécime, por Roberto Nobre (1940)


Wednesday, October 23, 2024

dos romances

«Ter andado de Herodes para Pilatos, batendo todo o sertão do Ceará no recrutamento dos tabaréus receosos das febres amazonenses e tranquilos sobre o presente, porque há anos não havia secas, e afinal, depois de tanto trabalho, de tantas palavras e canseiras, fugirem-lhe nada menos de três!» A Selva (1930)

«O pinhal, todo de troncos grossos, casca áspera e gretada, adormecia austeramente no silêncio da paz primaveril. As suas pinhas dir-se-iam incopuladas ou corroídas por antídoto malthusianista, pois cá em baixo, no solo castanho e acidentado, nenhum pinheiro infante erguia para o céu os bracitos verdes.» Emigrantes (1928)

I. «Com os remos a chapejarem surdamente, cautelosos como os dos ladrões, nas proas um ruído fino, menor ainda que o dos botos cortando a tona da água, as canoas meteram a terra. A noite tropical, embora de estrelas acesas, mal permitia divisar as sombras que se erguiam dos bancos e, de terçado à cintura, machado ao ombro, desembarcavam umas após outras, todas hesitando sobre onde colocar os pés.» O Instinto Supremo (1968)



Capa da 1.ª edição, por Bernardo Marques (1930)


Tuesday, October 22, 2024

correspondências

(Raul Brandão a Ferreira de Castro) .../... «São raras efectivamente as pessoas que em Portugal estimam os meus livros, mas essas bastam-me, quando compreendem não o que vale a minha obra necessariamente imperfeita, mas o esforço que faço para arrancar alguns farrapos ao Sonho... // Creia-me sempre / ador e cama.da muito ogº [?] / Raul Brandão // Nespereira / Guimarães / 28 de Março 1922» 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992 / 2007)

(Jaime Brasil a Ferreira de Castro e Eduardo Frias) .../... «E porque entendo bem o altivo grito de angústia, erguido nas primeiras páginas do livro, aqui vos dou, irmãmente, o abraço que traduz a minha admiração pelo vosso talento e a minha solidariedade nessa nobre revolta, contra o existente, o convencional, o medíocre. / Aceitai com os meus agradecimentos os protestos da muita admiração e estima pessoal do // cordialmente vosso / Jaime Brasil // 6.ª Feira-20-Junho [1924] Jaime Brasil, Cartas a Ferreira de Castro (2006)

(Ferreira de Castro a Roberto Nobre) .../... «Se você num momento de melancolia tiver desejo de escrever, escreva-me sobre o Algarve, as suas praias, os seus caminhos. Eu amo tanto a província que vivo nela por imaginação, vivo-a por impressões alheias, quando, como agora, não as posso viver por impressões próprias.» .../... Correspondência (1922-1969) (1994)

Monday, October 21, 2024

outras palavras

«O vale ampliou-se com a noite. Não se vê, lá ao fundo, a Felgueira, que de dia cerra o horizonte com a sua lomba enorme. Não se vêem os contrafortes de Santo António, bordados de pinheiros, nem os da Frágua, com as suas casuchas, nem os do Crasto, onde se ergue uma capelita branca. Sumiu-se tudo no negrume.» «O Natal em Ossela» (1932/1974) - Os Fragmentos

«Eu nasci a 24 de Maio de 1898. Mas, quando penso na minha idade, sinto-me sempre mais novo, sinto-me sempre beneficiado por quatro anos a menos. São quatro anos iguais a uma noite escuríssima, onde não é possível acender luz alguma. Não os viveu o meu espírito. Não estão na minha memória. Não me pertencem. Para a minha realidade espiritual eu tenho apenas 28 anos.» [Memórias] (1931)

«MAS... a prisão é a coroação  É presa a terra como um globo flutuando num copo d'água. O mundo tem limites e toda a Glória ou toda Vontade ilimitada é um sarcasmo ao próprio mundo: -- Esboroa-se como um corpo num abismo, terminando onde o mundo finda.» Mas... (1921)



Edição ilustrada por Capi (2023)


Friday, October 18, 2024

dos romances

Ele - I A Entrada. «A furgoneta deteve-se. Era nova, blindada, dum escuro brilhante e quase negro. A banda esquerda dir-se-ia feita duma só placa, inteiramente lisa; na outra havia um ralo, pequeno e redondo, que filtrava o ar de todas as más tentações, como os crivos, no fundo dos lavatórios, libertam a água suja de todos os elementos obstrutores.» A Experiência (1954)

I «Encontravam-se os três à mesa de jantar e o velho relógio de pêndulo marcava onze horas menos um quarto. Mercedes mostrava-se impaciente. / -- Ramona! -- gritou. -- Então o café? -- E dirigindo-se ao irmão e ao sobrinho: -- Esta mulher está cada vez pior!» A Curva da Estrada (1950)

I-Os Rebanhos. 1. «Logo que as cabras entestaram à corte, o "Piloto" deu por findo o seu trabalho. E antes mesmo de o pastor, que lhe aproveitava os serviços, se dirigir a casa, ele meteu ao extremo da vila. Rabo entre as pernas, focinho quase raspando a terra, ia triste, cismático, como perro vadio de estrada, descoroçoado da vida. Subitamente, porém, sorveu no ar algo que lhe era conhecido.» A Lã e a Neve (1947)



capa da 11ª edição, a 1.ª autónoma (2014), por Suzana Villar,


Tuesday, October 15, 2024

dos romances

I «Contra o seu costume, Albano viera tarde e entrara sem os cuidados tidos nas outras noites, quando queria abafar rumores; logo, porém, volvera às precauções de sempre. Era preciso que ela não desconfiasse! Cerrou, vagarosamente, a porta e, no velho bengaleiro, dependurou o chapéu. Na casa havia silêncio e nenhuma outra luz além da que ele acendera no corredor.» A Tempestade (1940)

I «As derradeiras notícias tivemo-las às dez da manhã. Trouxe-as o "Lagarto". Como havíamos previsto, a greve fora vencida. / O Governo, mestre no ofício de impor ordem à rua, na época em que os espíritos viviam em tumulto, de lés a lés do planeta, estrafegara a bicha, mal a sentira colear. De fora chegava um silêncio inquietante. Nem estoiro de bomba, taque-taque de metralhadora, nem ruído de veículos ou de patas de cavalo. Nada.» O Intervalo (1936/74)

I «Sobre a montada, subindo devagar a trilha pedregosa, Leonardo esmoía íntimas irritações. Não podia ser! Os galegos estragavam tudo, quer pagando quantos direitos os guardas-fiscais lhes exigiam, quer andando, na calada da noite, a fazer contrabando de peles. Ainda se aparecessem muitas de texugo e de tourão, em que os ganhos pingavam mais, sempre se poderia ir vivendo. Mas não.» Terra Fria (1934)



Capa da 1.ª edição, de Jorge Barradas (1934)


Thursday, October 10, 2024

dos «Pórticos»

«Nós não queremos morrer! Nós não queremos morrer! / Meu irmão longínquo que te perdes na hipótese, sobre o curso de todos os séculos vindouros, escuta! Escuta o nosso desespero de seres efémeros, esta ansiedade infinita que nos tortura há muitos milénios, este grito doloroso e impotente: Nós não queremos morrer!» Eternidade (1933)

«É bem certo que conduzimos ao longo da vida muitos cadáveres de nós próprios. Não somos hoje o total que fomos ontem, nem teremos àmanhã, integràlmente, o nosso mundo de agora. Eu sinto isto muitas vezes, num apelo ao meu "eu" de outrora, numa busca minuciosa entre os escombros do que fui e os pilares que ficaram de pé, a sustentar o que sou.» A Selva (1930)

«Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor. / Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver.» Emigrantes (1928)

dos romances

I. »Manhã alta, toda vestida de azul, com folhos brancos que o mar tecia e esfarrapava ao sabor da ondulação, a sombra escortinada na linha do horizonte ia crescendo e definindo-se em caprichoso recorte. Mais do que a terra próxima, como queriam os passageiros e a ciência náutica afirmava, dir-se-ia nuvem estática na luminosidade imperante.» Eternidade (1933)

I. «Fato branco, engomado, luzidio, do melhor H. J. que teciam as fábricas inglesas, o senhor Balbino, com um chapéu de palha a envolver-lhe em sombra metade do corpo alto e seco, entrou na "Flor da Amazónia" mais rabioso do que nunca.» A Selva (1930)

I.I. «Preta e branca, preta e branca, o preto mui luzidio e muito níveo o branco, a pega, de cauda trémula, inquieta, saracoteava entre carumas e urgueiras, esconde ali, surge aqui, e por fim erguia voo até à copa alta do pinheiro, levando no bico ramo seco ou graveto.» Emigrantes (1928)



Capa da 1.ª edição de Stuart de Carvalhais (1928)


Wednesday, October 09, 2024

errâncias

«AS MARAVILHAS QUE O SOL NÃO VÊ. I RESSURREIÇÃO E GLÓRIA DE ALTAMIRA Erguida ao centro de verdes relvas, numa encosta suave, onde pastam vacas indolentes e voam corvos e pegas, Santilhana do Mar, a trinta quilómetros de Santander, é dos mais impressionantes burgos de toda a terra hispânica. Vendo-a, mal se compreende o seu débil renome e a pouca atenção que lhe prestam os arautos do turismo.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63)

«INÍCIO Concertaram-se, na nossa época, várias formas para se dar a volta ao Mundo. Em anos de remansosa paz, um navio americano abala de Nova Iorque e, de casco branco, mastros festonados de gaivotas, ladeia Américas e Áfricas, detém-se, aqui, ali, em três ou quatro cidades, e corta, depois, o Índico.» A Volta ao Mundo (1940-44)


«ANDORRA Andorra foi sempre, na terra portuguesa e na Europa inteira, um tear de sorrisos. Por ser pequena? Por se ter conservado, através dos séculos, extática, enlevada, adormecida no seu berço de montanhas? Por ser ignorada? Nem sempre o que é grande é o mais belo; e a maior fascinação reside sempre no desconhecido.» Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38)


Capa do n.º espécime, por Roberto Nobre (1937)


correspondências

(Jaime Brasil a Ferreira de Castro e Eduardo Frias) «Meus caros Ferreira de Castro e Eduardo Frias // Recebi o vosso livro. Muito obrigado por vos terdes lembrado de mim. A mim q. tão afastado ando dos cenáculos literários e q. nas galés do jornalismo sou o último dos últimos, sensibilizou-me a vossa gentil manifestação de camaradagem espiritual.» .../... Jaime Brasil, Cartas a Ferreira de Castro (2006)***

(Ferreira de Castro a Roberto Nobre) «Roberto Nobre, meu prezado amigo: / Recebi a sua carta, carta amável, generosa. / Como já o Assis lhe disse, gostei mto, mto, da capa. É um trabalho feito com garra -- mesmo sem alusão às garras do tigre... / E porque falei na capa, agradeço-lhe a oferta: -- oferta que eu desejo seja apenas uma moratória aos problemáticos fundos da empresa...» .../... Correspondência (1922-1969) (1994)**

(Raul Brandão a Ferreira de Castro) «Exmo Senhor Ferreira de Castro / Muito obrigado pelo artigo que escreveu a meu respeito no último número da "A Hora" -- que tenho lido sempre com grande interesse, como leio tudo que é apaixonado e sincero.» .../... 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992/2007)*


*100 Cartas a Ferreira de Castro (1992/2007) - ed. Ricardo António Alves

** Ferreira de Castro e Roberto Nobre, Correspondência (1922-1969), (1994) -  ed. Ricardo António Alves

*** Jaime Brasil, Cartas a Ferreira de Castro (2006) -  ed. Ricardo António Alves

Saturday, June 29, 2024

29 de Junho de 1974 - 29 de Junho de 2024

Passam hoje 50 anos sobre a morte de Ferreira de Castro, o romancista que desbloqueou a ficção narrativa no final do anos vinte do século passado, com a publicação de Emigrantes (1928), seguido de A Selva (1930), Eternidade (1933), Terra Fria (1934) -- O Intervalo, escrito em 1936, só sairia após o 25 de Abril, incluído n'Os Fragmentos

Ao fim de 50 anos de ausência, as reedições dos seus dez romances e uma novela sucedem-se. De poucos se dirá o mesmo. Quantos serão lidos daqui a 50 anos? Estou certo de que alguns. A maioria? Talvez. A não ser que o ser humano e as suas ansiedades sejam outros. O que é duvidoso. 

Tuesday, March 12, 2024

«Ferreira de Castro -- Uma Biografia» I (1898-1919)



Índice: Uma biografia de Ferreira de Castro

I- Um ursinho em Ossela (1898-1911): Alguma poesia. Salgueiros: o que pode haver num nome. Uma terra antiga. Paisagem… . …e povoamento. O brasão de Ossela. Os Castros. Um pai de quem não se fala. Infância. Um benemérito local e os dois mestres de Ferreira de Castro. Margarida. Primeiras leituras. João de Deus. A «Educação Cívica». Faustino Xavier de Novais. Eduardo de Noronha, Do Minho ao Algarve. Os jornais. História de João Soldado. Tradição oral. As lágrimas dos foguetes. A fuga, ou as razões de uma partida. O caso Margarida. Contexto económico e social. O último dia.

II- No coração da selva (1911-1914): A travessia. De Belém do Pará ao rio Madeira. Rumo ao coração da selva. Patrão, procura-se. Conhecimento do inferno. Os índios, os outros. Os dias do Paraíso. Cartas de longe. As duas Raimundas. Charadas. Manoel Sabino Durães. Jornais. «O Amor de Simão». Horas Nostálgicas. O adeus ao seringal.

III- Na Feliz Lusitânia. Do Pará ao Rio (1914-1919):  Belém do Grão-Pará. A cidade desconhecida. “Cassiporé”. Viver em Belém. O Jornal dos Novos. Criminoso por Ambição. Alma Lusitana. Portugal. Patriotismo e nativismo. Um temperamental. Uma agenda. O jovem galante. O Rapto. Rugas Sociais. Às voltas pelo Brasil, até ao Rio de Janeiro. A bagagem literária. Zola. Schopenhauer. Tólstoi. Euclides da Cunha. Regresso.

Cronologia (1898-1919)

À venda na Wook.


Monday, February 26, 2024

Monday, January 22, 2024

AO INVERSO - fotografia de Carlos Almeida


A Selva legenda algumas destas fotografias da viagem fluvial entre Manaus e Belém do Pará -- a mesma que Ferreira de Castro realizou em 1914, após a saída do seringal "Paraíso", no rio Madeira, afluente do Amazonas,  com uma paragem na primeira cidade. Até 27 de Janeiro de 2024.