Friday, September 07, 2012

A NARRATIVA NO MOVIMENTO NEO-REALISTA -- AS VOZES SOCIAIS E OS UNIVERSOS DA FICÇÃO, de Vítor Viçoso (24)


Quero com isto significar que a adesão ao ideário marxista enquadrado pelo Partido Comunista, triunfantes à esquerda nos anos da guerra, era natural e quase inevitável. A historiografia não se compadece com anacronismos. Se hoje é simples dizer que houve uma espécie de pecado original no neo-realismo, que foi o de ter servido ou apoiado um sistema político trágico pelo logro que representou, e incompatível com aquilo que Ferreira de Castro designava nos anos quarenta como «a mais nobre aspiração humana» — a liberdade –, é desonesto ou incompetente obliterar a conjuntura em que todos aqueles autores iniciaram o seu percurso literário e artístico. E não ficará mal dizer – embora irrelevante para o que nos traz aqui hoje, porque se trata do desenvolvimento de percursos individuais – que, se alguns andaram perto – talvez Vergílio Ferreira e Fernando Namora –, cedo se afastaram; sem esquecer os que se desvincularam do PCP quando tiveram conhecimento da verdadeira natureza do estalinismo após a publicação do Relatório Secreto do XX Congresso do PCUS, apresentado pelo secretário-geral Nikita Khruschev, em 1956. Tal foi o caso de Mário Dionísio, por si relatado na Autobiografia.

(texto lido na apresentação do livro no Café Saudade, Sintra, em 21 de Outubro de 2011)

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