Thursday, July 31, 2025

nas palavras dos outros

 Nogueira de Brito (1928): «É uma obra feita de justeza, de equilíbrio, de calma e objectivação e dela fica a semente a lançar à terra em futuras colheitas de análise sentimental, em próximas depurações de psiquismos e de vibracionismo íntimo.» «Ferreira de Castro e a sua obra literária», Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931)

Friday, July 25, 2025

correspondências

(José Dias Sancho a Ferreira de Castro, 1927) .../... «Quero destacar, porém, a primeira novela, admirável, admirável, admirável, e a última. / Qualquer delas faria de per si a reputação de um autor. / Quanto ao título do livro, não gosto, por lembrar literatura de quiosque. E chamo-lhe a atenção para o lapso de alguns verbos que pedem complemento directo, virem seguidos de complemento indirecto. Um pouco de cuidado na revisão, remedeia isso. Fica a emenda para a 2.ª edição.» .../... 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992/2006)

Thursday, July 24, 2025

traduções - TERRA FRIA

Tierra Fría - «Sobre el rocín, subiendo, despacio, el sendero pedregoso, Leonardo rumiaba íntimas irritaciones. No podía ser! Los gallegos estropeaban todo, ya pagando cuantos arbitrios exigían los aduaneros, ya saliendo, en el secreto de la noche, a hacer contrabando de pieles. Si aparecieran muchas de tejón y de topo, en las que se sacaba mayor ganacia, aún se pdría ir viviendo. Pero no.» - trad. Eugenia Serrano (1946)

Terra Fria -  «Sobre a montada, subindo, devagar, a trilha pedregosa, Leonardo esmoía íntimas irritações. Não podia ser! Os galegos estragavam tudo, quer pagando quantos direitos os guardas-fiscais lhes exigiam, quer andando, na calada da noite, a fazer contrabando de peles. Ainda se aparecessem muitas de texugo e de tourão, em que os ganhos pingavam mais, sempre se poderia ir vivendo. Mas não.» Terra Fria (1934)

Terra Fria está traduzido em alemão, castelhano, checo, flamengo e francês.

Wednesday, July 23, 2025

nas palavras dos outros

(Agustina Bessa Luís, 1966): «Eu disse para mim: "Também escreverei; em breve escreverei um livro". Não sei de maior força que possa ter um autor, do que esse impulso que toca o espírito dos criadores obscuros, que nele encontram revelação e uma espécie de protecção à sua vontade e ao seu ermo.» «Ferreira de Castro», Livro do Cinquentenário da Vida Literária de Ferreira de Castro -- 1916/1966 (1967)

(Nogueira de Brito, 1928): «Em Ferreira de Castro não há a elevação "estudada" do sentir afeiçoado à exigência da efabulação, a rebuscada irradiação de emotismo coado pela oportunidade mais ou menos feliz: há, sim, a espontaneidade que nasce da cena real da existência, sem qualquer assomo de artifício, sem clangores de retumbâncias festivas, nem estilizações frívolas de colorismos doentios e insinceros.» «Ferreira de Castro e a sua obra literária», Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931)

(Jacinto do Prado Coelho, 1976): «Minúcia na descrição, própria de quem viu com seus próprios olhos, quer se trate da Natureza amazónica, esmagadora, quer dos trabalhos e preocupações quotidianas em tais regiões longínquas. E verdade humana no modo como os "heróis" se definem, tanto através de flashes retrospectivos, que os individualizam,  como pelas formas de comportamento durante a expedição.» «"O Instinto Supremo": quando a ética se torna humanitária» In Memoriam de Ferreira de Castro (1976) 

Tuesday, July 22, 2025

errâncias

«Nós vamos ver, agora, o planeta que eles devassaram em todas as direcções há quase cinco séculos, e, para se iniciar a volta ao Mundo, bom é o porto de onde largaram aqueles que o Mundo andaram a descobrir. Como nessa época já remota, os mesmos mares estão prenhes de mistério, estão hoje povoados de monstros e estes verdadeiros; monstros de ferro e aço, aos quais uma palavra bastará para exercerem a sua acção de morte.» A Volta ao Mundo (1940-44)

«O encanto desta viagem à aventura, das poucas, senão a única, que a indústria do turismo ainda não destruiu na Europa, rompeu-se, uma noite, na redacção de La Dépêche, em Toulouse. Um dos redactores, que já tinha peregrinado pelos confins do Ariège, disse-me que, como eu supunha, Hospitalet, aldeiazita francesa sepultada nos Pirenéus orientais, dava acesso a Andorra. Não havia, porém, estradas... E, quanto a passaporte, nenhum visto se exigia...» Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38) «Andorra» [1929]

«"Voltaremos mais tarde, com calma" -- garantimos a nós próprios, para nos redimir das ásperas censuras que nos fazemos. E saímos a passos largos, ansiosos de matar a curiosidade maior, enquanto à porta do claustro, o padre-guia da colegiata, de dedo estendido e olhos móveis, conta e reconta os novos visitantes, não vá algum estar ali sem haver pago a entrada.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63) 

Monday, July 21, 2025

dos romances

«["] Ele com a garganta tão fechada como se lhe tivessem posto solda, ele com vontade de estoirar os miolos, sabendo que Julieta estava por pouco -- e ele a comer, porque a luz ia já esmorecendo nos olhos dela e queria comprazê-la no momento da agonia. Agora, a cama estava suja pela presença duma porca, duma prostituta, que outro nome não merecia!"» A Tempestade (1940)

«Pus-me a trilhar a via enlameada e ia quase tranquilo sobre a minha sorte. A experiência colhida em dezassete anos de vida revolucionária ensinara-me a conhecer as ruas em que é pouco provável encontrar agentes de polícia durante as primeiras horas de uma greve.» O Intervalo (1936/1974)

«Se tivesse capital e pudesse mandar as pelecas directamente para Braga, até seria, talvez, melhor. Mas, assim, quem ganhava era o Sarzedas, repimpado em Montalegre, pois não tinha outro trabalho senão comprá-las e revendê-las, depois, no Porto, sabe-se lá por quanto cada uma!»  Terra Fria (1934) 

Friday, July 18, 2025

dos «Pórticos»

Não chegámos a rematar o último acto, porque outra peça, escrita anteriormente, nossa frágil asa de esperança, classificada muito embora num concurso, não conseguira céu aberto para voar. A juventude que então arvorávamos não convencia ninguém e uma timidez desprotegida impedia-nos todos os passos em direcção aos empresários.» A Curva da Estrada (1950)

«A solidão enchia-se dos seus uivos e a neve reflectia a sua temerosa sombra. A serra, porque só a pé ou a cavalo se podia vencer, parecia incomensurável, muito maior do que era, e de todos os seus recantos, de todos os seus picos e refegos brotavam superstições e lendas -- histórias que os pegureiros contavam, ao lume, a encher de terror as noites infindas.» A Lã e a Neve (1947)

«Desse bravo sítio, onde desejamos repousar para sempre, face ao sol e ao fulgor das estrelas, via-se, lá em baixo, branquejar a casita nativa, quase a entestar o afogado vale; e, da banda oposta, outras várzeas, outros povoados, outros cerros, maravilhosa sucessão de planos, formas e cores, tudo laborado pela mão do Homem. Ao fundo, esboçava-se o grande sortilégio, o Mar, o imã que nos atraía ali.» A Volta ao Mundo (1940-44)  

Thursday, July 17, 2025

correspondências

(Jaime Brasil a Ferreira de Castro, 1926) .../... «Ficou o meu caro Ferreira de Castro de me mandar a conferência. Espero-a para fazer tirar umas cópias e satisfazer o desejo de Ribera-Rovira, muito lisonjeiro sem dúvida para si, e ao qual não devemos corresponder com a descortesia duma demorada resposta. / Disponha do // seu camarada / mto. afeiçoado / Jaime Brasil / Lxª. 3/4/926.» Cartas a Ferreira de Castro (2006)

(José Dias Sancho a Ferreira de Castro, 1927) .../... «Com a presente obra V. acaba de conquistar um lugar de destaque na literatura portuguesa, pois as suas novelas são duma soberba realização. Abraço-o e felicito-o vivamente, porque esta obra marca uma etapa magnífica na sua evolução, e acaba de alçapremá-lo, num impulso, às fileiras dos nossos melhores escritores.» .../... 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992/2006)

(Ferreira de Castro a Roberto Nobre, 1925): .../... «Aí vão agora dois trabalhos meus, que V. devolverá com os desenhos o mais depressa possível. (O Julião Quintinha, entrando ontem no meu gabinete, levou-me a interromper esta carta)... / Portanto, como lhe dizia há 24 horas, V. fica como colaborador do A.B.C., a não ser que a fatalidade se coloque de permeio...» .../... Correspondência (1922-1969)

Wednesday, July 16, 2025

traduções - ETERNIDADE

Eternidad: «Mañana alta, toda vestida de azul, con faralaes blancos que el mar tejía y desgarraba a sabor de su movimiento, la sombra surgida en la línea del horizonte iba creciendo y definiéndose en caprichoso recorte. Más que tierra próxima, como querían los pasajeros y la ciencia náutica afirmaba, se diría nube estática en la luminosidad imperante.» -- trad. José Ares (1959)

Eternidade: «I. »Manhã alta, toda vestida de azul, com folhos brancos que o mar tecia e esfarrapava ao sabor da ondulação, a sombra escortinada na linha do horizonte ia crescendo e definindo-se em caprichoso recorte. Mais do que a terra próxima, como queriam os passageiros e a ciência náutica afirmava, dir-se-ia nuvem estática na luminosidade imperante.» (1933)

Eternidade está traduzido em castelhano, checo e húngaro. Em preparação, as traduções italiana e turca.

Monday, July 14, 2025

outras palavras

«Não é preciso, sequer, ser muito velho para, semicerrando os olhos, ver passar intérmino e esfumado cortejo de figuras que, um dia, se projectaram em determinado estado da nossa existência. Mas, de tantas, ficam muito poucas gravadas no coração.» «Delfim Guimarães» (1934)

«Eu sentia um respeito enorme por tudo aquilo e estava envergonhado. Sentei-me a uma das carteiras e, não tendo coragem de levantar os olhos, fixei-os no abecedário, que crescia e se deformava constantemente. Nesses primeiros dias, a minha única distracção era seguir as moscas que passeavam no sujo rebordo do tinteiro.» [Memórias] (1931) 

«Lá em baixo, corre o Caima, mas também a ventania lhe assimila o rumor da água nas suas quedas e serpenteios, por entre pedras limosas, enormes como ovos de ave mitológica. / Só o vento existe. Anda a bramar nos pinheiros das declividades, nos castanheiros da Felgueira, nos rochedos, nas locas, por toda a parte.» «O Natal em Ossela» (1932/1974)

Friday, July 04, 2025

traduções - A SELVA

La Selva«Traje blanco, planchado, brillante, del mejor H.J. que tejían las fábricas inglesas, el señor Balbino, con u sombrero de paja envolviendole la mitad del cuerpo alto y seco, entró en la Flor de la Amazonia, más rabioso que nunca.» - trad. José Ares

Forêt Vierge: «À BELÉM - Vêtu d'un blanc impeccable amidonée et bien repassé, taillé dans le meilleur tissu anglais, le chef coiffé d'un grand chapeau de paille qui l'ombrageait jusqu'à la ceitnure svelte et sec, monsieur Balbino fit son entrée à "La Fleur des Amazones", l'air plus furibond que jamais.» - versão de Blaise Cendrars (1938) 

Jungle - A Tale of the Amazon Rubber Tappers: «In a starched, smooth and shiny white linen suit of the best material produced by English mills, and wearing a straw hat which shaded half his tall, gaunt body, Senhor Balbino entred the inn known as the Flôr da Amazonia in a towering rage.» -- trad. Charles Duff (1935) 

La Selva delle Amazzoni: «Il signor Balbino, in abito bianco ben stirato e lucido, del migliore H. J. tessutto nelle fabbriche inglesi, e con un grande capello di paglia che ombreggiava metà del suo corpo, alto e magro, entrò nel Fiore dell'Amazzonia, più rabbioso del solito.» -- trad. G. De Medici e G. Beccari.(1934).

La Selva: «De traje blanco, planchado, brillante, del mejor H.J. que tejían las fábricas inglesas, el señor Balbino, con un sombrero de paja que le sombreaba la mitad del cuerpo, alto y seco, entró en la "Flor del Amazonas", más rabioso que nunca.» -- trad. Luis Diaz Amado Herrero e A. Rodríguez de Léon (1931)

A Selva: «Fato branco, engomado, luzidio, do melhor H. J. que teciam as fábricas inglesas, o senhor Balbino, com um chapéu de palha a envolver-lhe em sombra metade do corpo alto e seco, entrou na "Flor da Amazónia" mais rabioso do que nunca.» (1930)

A Selva está traduzido nos seguintes idiomas: alemão (2), búlgaro, castelhano (2), croata, eslovaco, flamengo, francês, inglês, italiano, neerlandês, japonês, norueguês, romeno e sueco. Aguarda-se tradução albanesa e turca.