Friday, September 28, 2018

«Ferreira de Castro, agitador no Brasil» (1990) (3, repostagem)

o barracão do seringal "Paraíso"
Como os operários das fábricas inglesas durante a Revolução Industrial, também os seringueiros se enchiam de dívidas ao patrão, que lhes vendia géneros e artefactos, com os preços devidamente inflacionados. O dinheiro era coisa que minguava, e a borracha estava em queda nos mercados internacionais. Sem saldar a dívida ao patrão era impossível abandonar o seringal e voltar para a terra de origem.

Em «Pequena História de "A Selva"» -- escrita para a edição comemorativa de 1955 -- o autor de A Volta ao Mundo alude ao «velho terror» que o dominava sempre que tentava aproximar-se literariamente da selva, abrindo feridas mal saradas: «Foi esse momento tão extraordinariamente grave para o meu espírito, que desde então não corre uma única semana sem eu sonhar que regresso à selva, como, após a evasão frustrada, se volta, de cabeça baixa e braços caídos, a um presídio. E quando o terrível pesadelo me faz acordar, cheio de aflição, tenho de acender a luz e de olhar o quarto até me convencer de que sonho apenas [...]»


«Ferreira de Castro, agitador no Brasil», O Jornal, Lisboa, 2 de Novembro de 1990.

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