É, pois, compreensível que, desde cedo, a sua obra fosse apresentada como
anunciadora do neo-realismo – não sem alguns equívocos e controvérsia que
se prendem mais com facciosismo partidário do que com a análise
ideologicamente desapaixonada e não comprometida… (ver Ricardo António
Alves, Anarquismo e Neo-Realismo – Ferreira de Castro nas Encruzilhadas do
Século, Lisboa, Âncora Editora, 2002: 71-108).
Mas, se a narrativa castriana veicula um escopo de intervenção social, sendo
marcadamente ideológica, esse desígnio tem sido responsável por uma
subvalorização da dimensão metafísica, que é o segundo aspecto
caracterizador do corpus literário que nos legou, e o impregna e complementa (1) ;
dimensão radicada na frágil e trágica condição de finitude de cada indivíduo,
agudizada quando a consciência de fim não se ampara na crença religiosa da
vida após a morte – como é o caso do nosso autor.
(1)Ver Eugénio Lisboa, «Ferreira de Castro e o seu romance O Intervalo: uma metáfora para a condição humana»,
Folhas – Letras & Outros Ofícios, #3, Aveiro, Grupo Poético de Aveiro, 1998: 11-18; republicado em Indícios de
Oiro, vol. I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009: 129-139.
in Tritão #2, Sintra, Câmara Municipal, 2014
(artigo completo)
2 versos de António Salvado
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