Monday, June 10, 2013

Preconceito e orgulho em "A Tempestade" de Ferreira de Castro (3)

A Tempestade participa dessa impotência do criador em face dos obstáculos inultrapassáveis levantados à criação artística. Não será, aliás, por acaso que um romance como A Lã e a Neve, de 1947, que tem nas greves dos operários têxteis da Covilhã como pano de fundo, vê a luz do dia precisamente nesse período de relativa distensão do controlo repressivo ocorrido entre as campanhas do MUD e a candidatura de Norton de Matos -- movimentos em que, de resto, Castro teve uma acção relevante de denúncia do estado policial a que estava sujeita a sociedade portuguesa.

Nova Síntese -- Textos e Contextos do Neo-Realismo #2/3, Vila Franca de Xira, 2007-2008. 

2 comments:

Manuel Nunes said...

Mesmo sendo o “romance possível” naqueles tempos de cerrada censura – uma alternativa à impossível “Biografia do século XX” – , Ferreira de Castro ainda deixa nele a sua “dedada”: Albano, conservador e preconceituoso, tinha Adriano como grande referência de amizade, um homem que havia sido despedido do escritório da fábrica onde trabalhava “por causa das ideias que começara a pregar, dizendo ter por coisa assente que o mal estava mal feito e que era preciso fazer um mundo novo,”. (Cap. VI, o último)

Ricardo António Alves said...

É verdade! Também por isso, a severidade do FC para com este romance sempre me pareceu excessiva e quase artificial, até...
Abraço