Ferreira de castro proveio duma família de camponeses de Ossela. Órfão de pai aos seis anos, aos doze partiria, só, para o Brasil, onde trabalharia num seringal da Amazónia, no meio dos retirantes esfomeados -- que tinham na extracção da borracha a alternativa às suas vidas secas do Ceará e do Maranhão --, entre os capatazes, os jagunços, os ex-escravos, o pavor das feras e o temor dos índios, o inferno verde... No meio desta fauna, ainda encontrou quem lhe desse que ler: jornais, charadismo, um que outro livro, por vezes de Coelho Neto; ensimesmado, teve ocasião de escrever um romancinho intitulado «O Amor de Simão», editado por si pouco depois em Belém, já com o nome definito de Criminoso por Ambição. Aos dezassete anos, fazia biscates colando cartazes na capital do Pará; se tivesse sorte podia não dormir ao relento; se o estômago estivesse composto e o peso do desespero não fosse avassalador, podia frequentar Camilo e Eça, Balzac e Zola na biblioteca pública da cidade, anotando numa agenda de bolso máximas que o impressionaram, fazendo exercícios de estilo e lembretes importantes para o escritor que ele teria forçosamente de ser. E se por essa altura ainda trabalhou como embarcadiço num navio que fazia a carreira do Oiapoque, entre Belém e Caiena -- lavando o convés e sabe-se lá mais o quê -, dois anos mais tarde, em 1917 estava como co-director dum semanário destinado à comunidade lusa, o Portugal, cuja influência permitu editar um (então) tradicional e volumoso Almanaque.
Sol XXI # 38/39, Carcavelos, 2003
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