* Castro sente a atracção pelo que está afastado da "civilização", ilha ao abandono no oceano ou aldeia remota isolada por montanhas, não por exotismo, mas pelo perscrutar dos efeitos que o apartamento provoca no espírito humano.
* Uma grande diferença, porém: a ilha impele à evasão de si, à errância, ansiada ou efectivamente concretizada.
*(Ocorrem-me agora os bravos poetas caboverdianos da Claridade:
«O drama do Mar, / o desassossego do Mar, / sempre / sempre / dentro de nós!», Jorge Barbosa, «Poema do Mar», Ambiente, 1941 -- Barbosa, que Ferreira de Castro muito admirava);
«Mar parado na tarde incerta.», Manuel Lopes, Crioulo e Outros Poemas, 1964);
«Mar, tu és o que fica.», Osvaldo Alcântara, pseudónimo de Baltazar Lopes, Colóquio / Letras #14, 1973;
«Canivetinho / Canivetão / Vá / Té / França. / A única esperança...», Pedro Corsino Azevedo, Mensagem #6, 1964
-- recolha de Manuel Ferreira, No Reino de Calibã vol. I.)
*Voltando a Ferreira de Castro: «A nostalgia deve ter nascido numa ilha e só numa pequena ilha se compreende, integralmente, o subtil significado da distância.» Pelo contrário, nos interiores continentais, e em especial nesses vales circundados por montanha, queda-se atabafado «o homem metido em si próprio, o homem que reduziu a vida à árdua conquista do pão quotidiano e o enigma do infinito a uma simples crença, para dele se servir nos momentos de vicissitude ou quando a morte lhe bate à porta.... ».
*Espécime humano que ficou no ontem, «página viva de antropologia», «farrapo» de existência pretérita com o qual Ferreira de Castro -- homem de cidade, intelectual e cosmopolita, mas que fora um pobre filho de camponeses, expatriado na infância -- não consegue deixar de irmanar-se, «em compreensão e amor» --, até porque, paulatinamente, pela «força da evolução que o vai penetrando», o surpreende em lenta mutação -- um gesto, um olhar, um dito --, «num trabalho lento de pua furando granito.»
* No país, duas concepções: tradicionalista, uma, refractária à contaminação pelo progresso; inconformista outra, considerando que a resignação não é da natureza humana. Mas isto é já outra conversa, e eu ainda nem acabei de falar do «Pórtico» de Terra Fria.
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