Autor que se preze escreve sobre a luz. Imprime uns impulsos luminosos sempre que lhe puxa a mão para a melancolia e o agita a inspiração. Agualusa, por exemplo, n'O Vendedor de Passados, põe uma fotógrafa a alinhar as luzes de vários pontos do mundo. Tê-las-á ele visto com os próprios olhos? Talvez, consta que é viajado. Ferreira de Castro tem uma passagem soberba sobre a luz matinal que lavava a lã e dissolvia a neve da Estrela a meio do século XX. Virginia Woolf, a pretexto do híbrido Orlando, afirma que o verde na Natureza é uma coisa, e na literatura, outra, o que não é mentira nenhuma e também uma forma de dissertar sobre a luminosidade. E Machado de Assis, no D. Casmurro? O que ele se enleia em parágrafos luminosos! Onde? Pois bem, a páginas tantas e outras, aqui e ali -- não perde oportunidade. Para não falar de quando Eça se aventurou por uma China que jamais viu e pelo meio pôs um mandarim luso falando de lâmpadas derramando "claridades luarentas e sóis luzindo como opalas desmaiadas".
Cristina Leimart, «Sobre a luz», Histórias de Poucas Palavras, Lisboa, Apenas Livros, 2009, p. 13.
2 comments:
Passei... E ...tanta coisa interessante, RAA!
Parabéns :)
Obrigado, Ana Paula. Gosto sempre de vê-la por aqui.
Um abraço :)
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