Na moderna geração dos prosadores portugueses Ferreira de Castro talhou o seu caminho. Como todos os dominados por uma paixão sacrificou à literatura todas as outras sensações porque ela, só por si, como um dom divino, lhe encheu a alma.
Assim como há mulheres que sofrem para ser belas, também há artistas que a todos os sofrimentos se condenam pela sua arte. É o caso deste rapaz que, com uma paciência heróica e uma hercúlea vontade, veio plantar o seu pendão na ala moderna da literatura nacional, com brio e dignidade, conseguindo ser notado ao cabo dalguns anos de labor.
Ferreira de Castro é um escritor pobre. Daí merecer maior admiração que os instalados na existência, atrás dos reposteiros da existência ou nos palácios dos papás financeiros ou grandes proprietários. Estes só sentem o tormento de criar; nos pobres vive esse tormento transformado em horror porque têm de ganhar o seu pão diariamente em tarefas inferiores, que não desonram, mas são roubadas ao sonho.
Rocha MARTINS, «O auctor da novela "A Peregrina do Mundo Novo"», ABC, n.º 263, Lisboa, 30 de Julho de 1925.
[continua]
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