Thursday, November 09, 2006

Um poema de Fiama, a propósito

Fusos! Poderei invocar sob esse nome
as rochas harmoniosas, paisagem perdida:
entre prismas da neve, desfiladeiro distante.
Tal como eu, livros lamentam o encontro e a perda
dos viajantes. Até a passagem no meio dos abismos, garras
das pedras. No entanto estive naquela neve
que me cega. Porque só eu percorro o trilho irreversível
para regressar através dos vestígios. Para contemplar
o brilho desse tempo inóspito, com a imobilidade
específica. Quem se deslumbra naquele cerco,
garganta das rochas, traz o estigma. A narração
de viagens descreve tudo o que se reviu
e também o conflito entre isso, massas rochosas,
e o corpo presente. Nem a elegia me cabe
como herança de elegíacos, nem a memória me transpõe
para aí. Crio, para além da morte, enunciados
sobre novas visões do passado. Neve luxuriante,
quadrilátero da cripta recôndita, a rocha de ónix.










Fiama Hasse Pais Brandão, Novas Visões do Passado, Lisboa, Assírio & Alvim, 1975, p. 53

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