Habituara-se ao combate, ao sacrifício, e não ignorava a dor, sua e alheia,, camarada familiar da miséria e da desgraça. Fugira de casa, perdera-se na selva amazónica, batalhara pela liberdade
do espírito nas cidades onde mais tarde aportara, contruíra e fortalecera a sua nobre personalidade muitas vezes na solidão, no desespero e no desânimo. Passara fome e frio, calores excessivos, debilitantes enfermidades. Resistira sempre. Retemperava-se sempre. E, embora não se referisse jamais a esse passado de tormentosas dificulades da existência, adivinhava-se que através dele conquistara a superioridade da sua alma, a capacidade de «simpatia humana» que afirmava a cada passo, e uma consciência límpida e isenta de vaidades, que lhe permitia trabalhar com perfeito desprezo do que dele se pensava e dizia.
João de Barros, «Humanidade», Hoje, Ontem, Amanhã..., Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1950, pp. 167-168.
[Acrescentado em 5-II-2009]
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