«Porto Santo avolumara-se, revelando-se à curiosidade fugidia e perdendo em mistério o que dava em relevo orográfico. As suas casitas estendiam-se junto à riba, branquejando entre a paisagem e sugerindo uma vida tão plena de claridade quanto modesta; mas haviam crescido em número, sim, pois Juvenal pudera contar muitas mais do que na época, já distante, em que viera com a família passar o Estio na vila Baleira.» Eternidade (1933)
Thursday, November 06, 2025
Tuesday, November 04, 2025
outras palavras
«Eu era um bom aluno. Tinha, porém, uma vida triste e afastava-me quase sempre dos meus condiscípulos. Certos episódios, que os deixavam indiferentes, faziam-me sofrer o dia inteiro, sobretudo na solidão que eu buscava.» [«Memórias»] (1931)
«Nas velhas cozinhas, em redor da mesa e ao fulgor da lareira, agrupa-se a família. Os velhos e as velhas, remotas esculturas enegrecidas e cariadas pelo tempo; os filhos que estavam ausentes e que puderam vir e os que ainda andam fraldiqueiros a crescer.» «O Natal em Ossela» (1932-1974)
«Delfim Guimarães fazia parte desse pequeno número. Ele sabia criar um lugar de especial ternura na alma de todos aqueles que se lhe acercavam. / Tenho conhecido muita gente. Uns, mascarados, às esquinas da vida; outros, colocados ao sol, espírito aberto à compreensão, que tudo justifica e tudo absolve, à solidariedade humana, ao amor pelos que sofrem e até por aqueles que parecem não sofrer...» «Delfim Guimarães» (1934)
Monday, November 03, 2025
Tuesday, October 28, 2025
nas palavras dos outros
Nogueira de Brito (1929): «Prestar, pois, homenagem a Ferreira de Castro, é encarecer, alentar uma corrente literária que, estando dentro dos moldes contemporâneos, como estética e realização espiritual, prepara um ambiente moral de que irão aproveitando os que lêem a sua interessante produção.» «Ferreira de Castro e a sua obra literária», Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931)
Jacinto do Prado Coelho (1976): «Bem diferente do heroísmo da epopeia literária, amplificante, era este "heroísmo nos factos necessários, sem contágios excitadores, mesmo se a naturalidade que os três homens aparentavam fosse premeditada, mesmo que a sua audácia não se tivesse consumado sem largas e ferventes apreensões."» O Instinto Supremo: quando a ética se torna humanitária», In Memoriam de Ferreira de Castro (1976)
Agustina Bessa Luís (1966): «Quando escrevemos sobre um camarada das letras, quase sempre exigimos que o que pode haver de triunfal na vida não se nos depare como conselho da inveja. Por isso só sabemos louvar os vivos com brandura, não aconteça acordarmos os nossos próprios corcéis competidores.» «Ferreira de Castro», Livro do Cinquentenário da Vida Literária de Ferreira de Castro - 1916/1966 (1967)
Monday, October 27, 2025
correspondências
(Ferreira de Castro a Roberto Nobre, 1925) .../... «Falei também com o Mário Domingues, que está dirigindo a edição da Batalha (diária). Aceita com muito prazer um boneco seu, para os domingos. Exige-se apenas uma condição: -- que o boneco seja de acordo com o carácter do jornal, é dizer, que seja de crítica a qualquer facto da burguesia.» .../... Correspondência (1922-1969) (1994)
(José Dias Sancho a Ferreira de Castro, 1927) .../... «Meu caro amigo, devo dizer-lhe que estou verdadeiramente encantado com o seu "Voo". / V. sabe como sou sincero nas minhas opiniões. / A psicologia daquela pobre rapariga da "cave" está traçada a primor / "A Reconquista da Juventude" é uma deliciosa blague. / E na complicada metamorfose da obra de arte, a que V. chama "do escultor", é assim mesmo. / Mais uma vez: um abraço! / E escreva mais livros como este! // Disponha do adm.or e am.º obscuro // José Dias Sancho» 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992/2007)
(Jaime Brasil a Ferreira de Castro, 1929) .../... «Ele poderia, por exemplo, traduzir-lhe p.ª lá qualquer novela do famoso escritor modernista russo Leonid Andréve, émulo de Dostoyevesky e de Gorki e a quem Kipling considera "o maior novelista dos últimos tempos". Esse homem tem as suas obras traduzidas em todas as línguas, menos, evidentemente, em português.» .../... Cartas a Ferreira de Castro (2006)
Friday, October 24, 2025
dos Pórticos
«Mais tarde, numa das suas deslocações sobre as veias da Amazónia, cujo mistério renasce logo após cada violação, como ressurge o do nosso corpo a seguir ao trânsito dos Raios X, você tornou a desembarcar no seringal Paraíso, pensando de novo em mim.» O Instinto Supremo (1968)
«Este livro explicar-te-á, porém, o nosso drama. É a nossa história que eu te ofereço aqui, a história de todos nós, que queremos ser eviternos e temos de morrer, que queremos ser felizes e nunca o somos, integralmente.» Eternidade (1933)
«Alguns, porém, não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do Mundo, para a fruição de uma minoria.» Emigrantes (1928)
Wednesday, October 22, 2025
dos romances
«A pega, infatigável, ora procurando na terra, ora alçando-se à copa eleita, continuava a construir o ninho. Era já uma grande mancha, um grosso volume de pauzitos seguro entre os últimos ramos do pinheiro.» Emigrantes (1928)
«Os seus olhos evitavam encontrar o corpo adormecido de Cecília. Decidiu ir deitar-se na sala de jantar. Havia lá um velho divã e uma noite em qualquer parte se passava, sobretudo uma noite como aquela! Em seguida repeliu a decisão. "Devia proceder em tudo como de costume, senão a cabra, ladina como era, podia desconfiar. E, então, ele seria mais uma vez tomado por tolo."» A Tempestade (1940)
« -- Ao Chico de Baturité, a esse mulato mesmo sem vergonha, eu adiantei umas pelegas para ele se vestir e lhe tirei a barriga de misérias, porque aquela gente vive lá num chiqueiro. E foi assim que ele me pagou! O que vale é que o "Justo Chermont" larga amanhã. Porque se demorasse mais, o resto do pessoal era capaz de pôr-se também nas trancas.» A Selva (1930)
Thursday, October 16, 2025
errâncias
«Nós vamos erguer, pela segunda vez, a nossa tenda na Grécia, que da primeira não quisemos escrever e ajuizar sobre tão multiforme terra, com tantas galas vestida, sem a termos observado novamente. De caminho, porém, deter-nos-emos em Gibraltar, Argel e Palermo, ligeiros ante-rostos do Mundo que vamos trilhar.» A Volta ao Mundo (1940-44)
«Arribo a Hospitalet uma hora depois. Lugarejo cor de lebre, com um pequeno hotel que desempenha ali, entre as patas das serranias, o papel das antigas mala-postas, tem um ambiente de Far-West, cenário de filme de aventuras americano.» (1929) Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38)
Wednesday, October 15, 2025
O(s) Egipto(s) de Eça de Queirós e Ferreira de Castro
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Monday, September 29, 2025
outras palavras
«Nem da coruja que mora na igreja velha, escorropichadora de lâmpadas há um ror de anos, ele deixa hoje ouvir o sinistro uuu-gru-gru-gru. O vento domina tudo. O vale inteiro está transido pelo seu uivar. Quem ousa pôr a cabeça fora de porta numa noite destas, que é, ademais, para ser vivida em casa?» «O Natal em Ossela» (1972-1974)
«Mas, de tantas, só algumas saem da sombra onde jazem aqueles que conhecemos e se perderam de nós, levados pelas circunstâncias do destino. Só algumas, presentes ou ausentes, adquirem lugar próprio, convívio permanente com a nossa alma, criando uma amizade singular dentro do amor plural por toda a Humanidade.» «Delfim Guimarães» (1934)
«Veio, depois, a inveja, a única que tive na minha vida: a de não ser igual aos outros, a de não possuir o seu à-vontade, a de não ter o sangue frio de que eles dispunham e graças ao qual brilhavam nas lições mais do que eu, embora soubessem muito menos.» [Memórias] (1931)]

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