Tuesday, December 23, 2025

correspondências

Ferreira de Castro a Roberto Nobre (1925): .../...«Quanto ao Suplemento ainda não falei com o Pinto Quartim, que o dirige. Mas estou certo que ele aceitará também a sua colaboração. / Adeus, meu amigo. Escreva-me, mande os desenhos do A.B.C. -- depois, v. tratará directamente com o secretário da redacção, que lhe enviará os trabalhos e a "massa" -- e diga-me coisas... Um grande abraço do amigo que tem que lhe dar uma grande sova por esse isolamento que é quase uma renúncia (ou não?) // JM Ferreira de Castro» Correspondência (1922-1969) (1994)

Monday, December 22, 2025

outras palavras

«Veio, este ano, o António da Zefa, que anda no peixe, em Lisboa; veio o Arturinho, que está de caixeiro no Porto, e veio o filho do Soares lavrador, que estuda, em Coimbra, para que a freguesia tenha a honra de dar também um doutor a Portugal.» «O Natal em Ossela» (1932/1974)  

Friday, December 19, 2025

nas palavras dos outros

 Mário Gonçalves Viana (1930): «Ferreira de Castro, que logrou alcançar no ano findo um êxito de que raros justamente se podem orgulhar, pois viu traduzido para espanhol e italiano os Emigrantes, prova evidente de que o sucesso daquele soberbo romance ultrapassou as fronteiras do nosso país, Ferreira de Castro -- íamos dizendo -- sem se acolher à sombra dos louros ganhos, acaba de produzir um trabalho verdadeiramente assombroso de realismo, de emoção e de beleza!» «"A Selva", uma obra-prima», Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931)

Thursday, December 18, 2025

errâncias

«Duas centenas de metros e o presente faz uma aparição fugidia, um corte brusco no cenário, assim como se dividíssemos, de repente, o corpo vivo duma mulher correndo entre velhas estátuas, numa galeria que tivesse por fundo a luz e o colorido dum parque.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63)

«Com a manhã nascida, extintas, ao longe, as lumieiras de Cádis e dobrada a porta de Trafalgar, metemos ao canal que separa a Europa da África. Dum lado e outro, na terra alta, cortada quase a prumo, canhões espanhóis, de longo alcance, espreitam, de suas luras, quem entra e quem sai. É a entrada do Mediterrâneo que eles visam e o penhasco de Gibraltar, agora ao alcance destas bocarras de fogo.» A Volta ao Mundo (1940-44)

Wednesday, December 17, 2025

dos romances

Subi à casa do Rebelo e leccionei-o sobre a forma de ele pôr a bom recato o nosso material. De armas e dinamite não tinha o Governo urgência alguma e a nós, futuramente, far-nos-iam falta; além disso, era escusado ele ir malhar com os ossos na cadeia.» O Intervalo (1936/1974) 

«Pouco depois, aqui, ali, mais além soavam os golpes dos machados, na noite já toda nervosa. Lâmpadas dispersas, iluminando os pés dos troncos, quase estáticas, dir-se-iam detidas para dar tempo a decifrar uma remota inscrição. Não se enxergava quem as sustinha, nem os homens que cortavam; só se viam os machados e as mãos, ora a sair, ora a mergulhar na sombra, como os insectos chamados ao farolo que os matará.» O Instinto Supremo (1968)

«Porto Santo avolumara-se, revelando-se à curiosidade fugidia e perdendo em mistério o que dava em relevo orográfico. As suas casitas estendiam-se junto à riba, branquejando entre a paisagem e sugerindo uma vida tão plena de claridade quanto modesta; mas haviam crescido em número, sim, pois Juvenal pudera contar muitas mais do que na época, já distante, em que viera com a família passar o Estio na vila Baleira.» Eternidade (1933)

Friday, December 12, 2025

correspondências

Jaime Brasil a Ferreira de Castro (1929): .../... «Garditch lhe explicará melhor o que pode fazer e não estranhe os seus limitados conhecimentos de português, p.ª tradutor, pois tem amigos que o auxiliam nas traduções. Bastará, depois, passar à peneira [?] a prosa, p.ª q. fique escorreita. / Faça pelo nosso camarada o q. puder, como se o fizesse ao // seu camarada e admirador / mto obrigado / Jaime Brasil // Lx.ª 4/V/929» Cartas a Ferreira de Castro (2006)

Ferreira de Castro a Roberto Nobre (1925): .../... «Para isso, talvez você se inspirasse lendo a própria Batalha... Legenda e assunto ao seu critério. Pagam quinze escudos por cada desenho. Agrada-lhe Roberto? Eu escuso de dizer-lhe que a mim agradava muito que V. principiasse a a surgir nos jornais de Lisboa.» .../... Correspondência (1922-1969) (1994)

 Mário Lyster-Franco a Ferreira de Castro (1928): «Meu querido Ferreira de Castro // Recebi há dias -- há já bastantes dias mesmo -- o seu magnífico volume. E garanto-lhe que a satisfação que ele me trouxe está na razão inversa do tempo que eu tenho levado para, com um enternecido abraço, lho agradecer. Mas os afazeres são felizmente alguns, e esta tem sido a causa da demora, que lhe peço me perdoe.» .../... 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992/2007)

Wednesday, December 10, 2025

outras palavras

«Mas entre tanta gente, de tão diferentes atmosferas morais, afectivas e mentais, poucos tenho encontrado como Delfim Guimarães. Junto deste homem de forte estatura, com um físico propício a esses lutadores que desejam triunfar esmagando tudo e todos, aprendia-se a não esmagar ninguém, a não triunfar à custa do sacrifício de alguém, a respeitar tudo e todos.» «Delfim Guimarães» (1934)

«Apesar disso, deixei-me fascinar por um jogo infantil e roubei em casa uma colecção de botões, que era de grande estimação e que me valeu um severo castigo, logo repetido quando comecei a vender, ocultamente, para comprar fogos de S. João, várias lunetas que estavam guardadas na nossa velha escrivaninha.» «[Memórias]» (1931)

«O fiel amigo, com couves e batatas, é da tradição; quem tem mais posses frita, também, a sua rabanada. O vinho corre, rosado, transparente, sobretudo à hora do magusto, quando as castanhas estalam no fogo. / Cada lar parece viver isolado do mundo, sozinho no mundo, como se para lá das paredes negras de fuligem nada mais existisse.» «O Natal em Ossela» (1932/1974)

Tuesday, December 09, 2025

nas palavras dos outros

Agustina Bessa Luís (1966): «Eu aprendi, porém, que o valor dos homens de raça não é senão orgulho que acrescenta os nossos direitos a seguir-lhes os passos. Em muitas coisas me repreende Ferreira de Castro as zarandas da arte a que me conduz a consciência e a própria índole.» «Ferreira de Castro», Livro do Cinquentenário da Vida Literária de Ferreira de Castro -- 1916/1966 (1967)

Mário Gonçalves Viana (1930): «Se há livros que mereçam a classificação de notáveis, A Selva é, incontestavelmente, um deles. Pode mesmo afirmar-se que esta obra constitui o maior acontecimento literário desta temporada. «"A Selva", uma obra-prima», Ferreira de Castro e a Sua Obra (1931) 

Jacinto do Prado Coelho (1976): «A função da Natureza é dupla. Fonte de emoção estética, deslumbra e intimida, ressoam nela vozes ancestrais, profundas, enigmáticas: ao cair da noite, "sobre ela parecia baixar, vinda dos tormentos iniciais do Universo, uma poesia épica, soturna e densa, que aguardaria apenas a hora de poder exprimir o inefável, de exprimi-lo dramaticamente, em vozes ou em ritmos como jamais alguém ouvira" (p. 143).» «O Instinto Supremo: quando a ética se torna humanitária», In Memoriam de Ferreira de Castro 

Thursday, December 04, 2025

dos Pórticos

«Atrai-nos, porém, o confronto entre aqueles a quem as ilhas tornam inquietos até a neurastenia, aos grandes desesperos íntimos e os que vivem apáticos, há muitos séculos, nos fundões dos continentes, que herdam a resignação, como se fosse uma tara, e parecem não atentar, sequer, no limite do seu muindo terreno. Para isso, e sem dar por isso, criaram um mundo psíquico particular, que nem sempre se revela ao primeiro contacto, mas que persiste, bem singular e nítido, para quem o analise com aguçadas pupilas.» Terra Fria (1934)

«São numerosas as folhas dobradas, duas pilhas quadrilongas, que guardam ainda, nos seus contornos, a forma dos estreitos albergues que as recolheram durante tanto tempo. Não ignoro, porém, que dentro de alguns dias, de todas elas restarão muito poucas. Quatro ou cinco anos sobre um trabalho meu bastam para me tornar o mais impiedoso, o mais exigente e implacável crítico de mim próprio.» Os Fragmentos (1974)

«Ninguém melhor do que você, que viu, com os seus próprios olhos, algumas das cenas a que me refiro, poderá dizer se vale ou não a pena publicar os meus apontamentos. No caso afirmativo, dou-lhe inteira liberdade para suprimir o inútil, afeiçoar o aproveitável e tornar compreensível tudo aquilo que eu não consegui, talvez, exprimir nitidamente.» O Intervalo (1936/1974)