«Com a manhã nascida, extintas, ao longe, as lumieiras de Cádis e dobrada a porta de Trafalgar, metemos ao canal que separa a Europa da África. Dum lado e outro, na terra alta, cortada quase a prumo, canhões espanhóis, de longo alcance, espreitam, de suas luras, quem entra e quem sai. É a entrada do Mediterrâneo que eles visam e o penhasco de Gibraltar, agora ao alcance destas bocarras de fogo.»
Thursday, November 20, 2025
Wednesday, November 19, 2025
Tuesday, November 18, 2025
correspondências
Mário Lyster-Franco a Ferreira de Castro (1928) «Meu querido Ferreira de Castro // Recebi há dias -- há já bastantes dias mesmo -- o seu magnífico volume. E garanto-lhe que a satisfação que ele me trouxe está na razão inversa do tempo que eu tenho levado para, com um enternecido abraço, lho agradecer. Mas os afazeres são felizmente alguns, e esta tem sido a causa da demora, que lhe peço me perdoe.» .../... 100 Cartas a Ferreira de Castro (1992/2007)
Friday, November 14, 2025
errâncias
«Afinal demorou pouco. Mal esvaziamos a chávena fumegante, voltamos ao carro e mandamo-lo, enfim, correr para as grandes noites da espécie humana, que os homens contemporâneos não conseguiram ainda iluminar de todo.» As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63)
«Nós vamos erguer, pela segunda vez, a nossa tenda na Grécia, que da primeira não quisemos escrever e ajuizar sobre tão multiforme terra, com tantas galas vestida, sem a termos observado novamente. De caminho, porém, deter-nos-emos em Gibraltar, Argel e Palermo, ligeiros ante-rostos do Mundo que vamos trilhar.» A Volta ao Mundo (1940-44)
«Arribo a Hospitalet uma hora depois. Lugarejo cor de lebre, com um pequeno hotel que desempenha ali, entre as patas das serranias, o papel das antigas mala-postas, tem um ambiente de Far-West, cenário de filme de aventuras americano.» (1929) Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38)
Thursday, November 13, 2025
outras palavras
«O fiel amigo, com couves e batatas, é da tradição; quem tem mais posses frita, também, a sua rabanada. O vinho corre, rosado, transparente, sobretudo à hora do magusto, quando as castanhas estalam no fogo. / Cada lar parece viver isolado do mundo, sozinho no mundo, como se para lá das paredes negras de fuligem nada mais existisse.» «O Natal em Ossela» (1932/1974)
Wednesday, November 12, 2025
nas palavras dos outros
Jacinto do Prado Coelho: «A função da Natureza é dupla. Fonte de emoção estética, deslumbra e intimida, ressoam nela vozes ancestrais, profundas, enigmáticas: ao cair da noite, "sobre ela parecia baixar, vinda dos tormentos iniciais do Universo, uma poesia épica, soturna e densa, que aguardaria apenas a hora de poder exprimir o inefável, de exprimi-lo dramaticamente, em vozes ou em ritmos como jamais alguém ouvira" (p. 143).» «O Instinto Supremo: quando a ética se torna humanitária», In Memoriam de Ferreira de Castro (1976)
Monday, November 10, 2025
dos Pórticos
«Ninguém melhor do que você, que viu, com os seus próprios olhos, algumas das cenas a que me refiro, poderá dizer se vale ou não a pena publicar os meus apontamentos. No caso afirmativo, dou-lhe inteira liberdade para suprimir o inútil, afeiçoar o aproveitável e tornar compreensível tudo aquilo que eu não consegui, talvez, exprimir nitidamente.» O Intervalo (1936/1974)
Thursday, November 06, 2025
dos romances
«Porto Santo avolumara-se, revelando-se à curiosidade fugidia e perdendo em mistério o que dava em relevo orográfico. As suas casitas estendiam-se junto à riba, branquejando entre a paisagem e sugerindo uma vida tão plena de claridade quanto modesta; mas haviam crescido em número, sim, pois Juvenal pudera contar muitas mais do que na época, já distante, em que viera com a família passar o Estio na vila Baleira.» Eternidade (1933)
Tuesday, November 04, 2025
outras palavras
«Eu era um bom aluno. Tinha, porém, uma vida triste e afastava-me quase sempre dos meus condiscípulos. Certos episódios, que os deixavam indiferentes, faziam-me sofrer o dia inteiro, sobretudo na solidão que eu buscava.» [«Memórias»] (1931)
«Nas velhas cozinhas, em redor da mesa e ao fulgor da lareira, agrupa-se a família. Os velhos e as velhas, remotas esculturas enegrecidas e cariadas pelo tempo; os filhos que estavam ausentes e que puderam vir e os que ainda andam fraldiqueiros a crescer.» «O Natal em Ossela» (1932-1974)
«Delfim Guimarães fazia parte desse pequeno número. Ele sabia criar um lugar de especial ternura na alma de todos aqueles que se lhe acercavam. / Tenho conhecido muita gente. Uns, mascarados, às esquinas da vida; outros, colocados ao sol, espírito aberto à compreensão, que tudo justifica e tudo absolve, à solidariedade humana, ao amor pelos que sofrem e até por aqueles que parecem não sofrer...» «Delfim Guimarães» (1934)












































































