* «Bagatelle» prepara-se para pintar a palavra MISSÃO, em letras bem grandes, visíveis do ar, no telhado do edifício religioso. Estamos em França, 1940, os alemães invadem e atacam. Um convénio entre a Santa Sé e a Alemanha nazi prevê a salvaguarda de igrejas e mosteiros. Mounier passa distraído por «Bagatelle», pensando nos quadris de mulher que vislumbrara havia pouco, antes de fugir ao «sorriso brando e húmido» em que quase se enleara. Num sobressalto, pára, recua e manda suspender o trabalho. Este é o incidente fulcral na trama da pequena jóia que é A Missão.
* Atendendo ao desenvolvimento da novela, às posições do padre Georges Mounier no concílio que se segue na comunidade, parece-me evidente que para Ferreira de Castro -- um ateu --, a ética só acidentalmente, e consoante cada indivíduo, poderá ser compreensível num além religioso; antes, é algo terreal e racional.
* o incipit: «O edifício, velho e longo, muito longo e de um só piso, parecia querer mostrar que a sua missão, justamente por ser celeste, devia agarrar-se à terra, estender-se bem na terra, para extrair a alma dos homens que nela viviam.»
* mestria (quando Mounier pergunta ao pintor sobre quem lhe mandara fazer aquele trabalho): «O "Bagatelle" havia compreendido que aquela pergunta se alargava para fora da curiosidade corrente, pois alguma coisa a mais viera embrulhada com as palavras; e, pousando a lata sobre o telhado, aguardou, respeitoso.»
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